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Luto: como lidar com a saudade daqueles que já se foram

Já se passaram anos da sua perda e você não conseguiu aprender a lidar com a falta e saudade? Temos uma reflexão para você

28 mar 2024 - 11h03
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Nunca vamos estar preparados para lidar com o luto, há quem diga que se a pessoa já estava em um hospital em processo de partida é menos doloroso do que se deparar com a notícia que um ente querido partiu em um acidente. Infelizmente toda dor é irreparável independente da forma de partida. 

Aprenda como enfrentar o luto
Aprenda como enfrentar o luto
Foto: Shutterstock / João Bidu

Dessa forma, conversamos com Rackel Accetti autora do livro: "Ressignificando Perdas: Reflexões e Práticas para (sobre)viver à metamorfose do luto", que faz uma grande reflexão sobre partidas e como lidar com a saudade daqueles que já se foram. 

Tem como deixar o coração preparado para enfrentar o luto?

Nunca estamos verdadeiramente preparados para enfrentar a despedida daqueles que amamos. "Por mais que possamos compreender a complexidade das emoções e tenhamos fé na espiritualidade, a dor da perda de um vínculo físico é inevitável. No entanto, ao reconhecermos e aceitarmos nossos sentimentos de luto, podemos nutrir uma compaixão mais profunda por nós mesmos durante esse processo desafiador", afirma. 

Rackel ainda lembra que é  essencial reconhecer nossa vulnerabilidade nesse contexto, pois isso nos permite lidar de maneira mais saudável com a dor da separação. Em vez de tentar evitar ou sufocar o luto, podemos abraçá-lo como uma etapa vital do processo de cura emocional.

Como passar pelas fases do luto?

O luto não se encaixa em fases, mas sim em histórias individuais de amor e perda."Ao longo do tempo, nossa compreensão do luto tem evoluído, abandonando abordagens simplistas para abraçar a complexidade das emoções humanas diante da perda. Antigamente, o modelo de Fases do Luto proposto por Elisabeth Kübler-Ross era dominante, mas novas teorias e pesquisas mostram que o luto é mais intrincado do que uma série linear de fases", diz e continua. "Kübler-Ross desenvolveu sua teoria das fases de luto, com foco principalmente em pacientes em cuidados paliativos, mas essa estrutura mostrou limitações quando extrapolada para diferentes tipos de perda", pontua. 

A escritora explica que Novas abordagens, como a Teoria do Apego, destacam como nossos relacionamentos influenciam nossa jornada de luto, respeitando a singularidade de cada vínculo e processo de despedida. "As Tarefas do Luto, propostas por Worden, apresentam quatro áreas de trabalho psicológico durante o luto, oferecendo uma estrutura mais flexível em vez de fases rígidas. Uma abordagem reconhecida atualmente é o Modelo Dual do Luto, que destaca duas trajetórias paralelas: a perda e a restauração da vida de forma oscilatória. Essa visão holística permite que as pessoas vivenciem suas emoções de luto enquanto investem em reconstruir suas vidas, honrando o passado e construindo o futuro", explica. 

Como lidar com a saudade mesmo anos depois da perda?

A saudade é uma companheira constante em nossa jornada. "Costumo dizer que o tempo é ambíguo nesse processo: enquanto alivia a dor latente, também faz a saudade crescer, muitas vezes chegando a sufocar. Ela pode se manifestar de várias maneiras no nosso dia a dia, seja através de um gatilho, uma data especial, um cheiro ou até mesmo uma comida. Lidar com a saudade sempre será um desafio", lamenta. 

Rackel recomenda não reprimir a saudade. "Faça o que fizer sentido para você. Se a saudade apertar e você sentir vontade de ver uma foto ou ouvir um áudio, não hesite em fazê-lo. Cada pessoa que está enlutada encontrará sua própria forma de atravessar esse processo. O importante é permitir-se sentir e encontrar maneiras saudáveis de lidar com essa emoção tão presente em nossas vidas", recomenda.  

O que podemos fazer para ajudar quem passa pelo luto? 

Quando estiver em dúvida sobre o que dizer, considere o poder do silêncio. "É válido lembrar que muitas vezes o simples ato de estar presente para o enlutado já é reconfortante. Ofereça seu apoio, especialmente nas questões burocráticas, caso seja solicitado, mas faça isso com sensibilidade para não o sobrecarregar ainda mais", diz. 

Evite perguntas ou questionamentos sobre os sentimentos da pessoa que perdeu alguém."O enlutado pode não estar pronto para explicá-los e isso pode ser exaustivo para ele. Em vez disso, apenas ofereça seu apoio e sua presença, sem pressionar por respostas", sugere. 

Evite também proferir palavras como "ele descansou", "logo terá outro filho, marido", ou "não sofra por isso, vai atrapalhar seu espírito". "Tais expressões podem reprimir as emoções da pessoa que está passando por esse processo e causar ainda mais dor. É importante acolhê-lo incondicionalmente, demonstrando empatia e compreensão diante de sua dor", afirma. 

Como podemos trabalhar nosso emocional para enfrentar a dor da perda?

Rackel conta que o luto não é algo com prazo de validade, nem segue uma trajetória linear com uma linha de chegada clara. "Por isso, adoto um mantra: não se trata de superar, mas sim de ressignificar. Durante o processo de luto, é na jornada que encontramos nosso caminho. É uma experiência marcada por confrontos e desafios", revela. 

Com isso em mente, a escritora compartilhou algumas dicas que podem auxiliar na reconstrução após a perda de um grande amor:

Permita-se sentir

Reconheça e aceite suas emoções. Permita-se vivenciar a tristeza, raiva, frustração e qualquer outra emoção que surgir. Não tente reprimi-las ou ignorá-las, pois isso pode prolongar o processo de luto.

Busque apoio

Converse com amigos, familiares ou um terapeuta sobre seus sentimentos. Compartilhar sua dor com pessoas de confiança pode ajudar a aliviar o peso emocional e proporcionar conforto.

Encontre maneiras saudáveis de lidar com o estresse

Pratique atividades que ajudem a relaxar e reduzir o estresse, como meditação, yoga, exercícios físicos ou hobbies que você goste. Cuidar do seu bem-estar físico também é fundamental para lidar com o aspecto emocional da perda.

Estabeleça rituais de lembrança

Crie rituais e tradições para honrar a memória da pessoa que você perdeu. Isso pode incluir visitas ao túmulo, escrever em um diário, fazer uma doação em nome dela ou realizar atividades que ela gostava.

Aprenda sobre o processo de luto

Entender que o luto é um processo natural e único para cada pessoa pode ajudar a normalizar suas próprias experiências e emoções. Leia livros, participe de grupos de apoio ou converse com profissionais de saúde mental para obter mais informações sobre o luto.

Dê tempo ao tempo

Lembre-se de que o processo de luto não tem um prazo definido. Permita-se vivenciá-lo no seu próprio ritmo e dê tempo ao tempo para curar suas feridas emocionais.

Cultive a gratidão

Mesmo em meio à dor da perda, procure encontrar gratidão nas lembranças e momentos compartilhados com a pessoa que se foi. A gratidão pode ajudar a trazer um senso de paz e aceitação.

Procure significado

Busque encontrar um propósito ou significado na sua experiência de luto. Isso pode envolver o desenvolvimento de novas perspectivas sobre a vida, o fortalecimento de relacionamentos existentes ou o engajamento em atividades que tragam significado e propósito para você.

João Bidu
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