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A promotora de Justiça
de Infância e Juventude de São Paulo
Sueli Riviera é também favorável
a alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente,
que completa 10 anos. A principal mudança diz
respeito à prisão do menor envolvido
com o tráfico de drogas. Confira trechos da
entrevista:
Com dez anos na Promotoria
de Infância e Juventude e o Estatuto da Criança
e do Adolescente, como a senhora avaliação
o Estatuto?
O Estatuto veio como uma espécie de bálsamo
contra o caos que havia na época, com o objetivo
de resgatar e dar cidadania a quem não a tinha.
O Estatuto tinha a proposta de garantir a liberdade,
saúde, vida, direitos fundamentais - o que
é tão óbvio - para as crianças
e adolescentes. A lei é boa. O problema é
que ainda não foi implementada, por falta de
políticas públicas.
O que há de positivo
a ser destacado?
O Estatuto regulamentou de uma maneira mais eficiente
o processo de adoção. Proibiu, por exemplo,
a adoção por procuração.
Regularizou também a situação
das viagens, impedindo a saída para o exterior
de uma criança, levada por alguém que
tenha a guarda do filho. O Estatuto proibiu o trabalho
infantil e trouxe mais segurança para nós
trabalharmos.
O que poderia ser alterado no Estatuto?
O adolescente infrator só pode ser apreendido
hoje quando comete algum crime que envolva grave ameaça
e violência. Em alguns casos, como quando o
garoto é preso com uma grande quantidade de
droga, entendo que nesse caso deveria haver a internação.
Outra mudança que eu faria diz respeito aos
abrigos. Antes, quando havia os orfanatos, seus responsáveis
eram também responsáveis pelas crianças.
Hoje, elas são levadas para abrigos provisórios
e acabam saindo para a rua, ficam vagando pela cidade
e consumindo drogas.
Qual a sua opinião sobre a redução
da maioridade penal?
Sou contra. Existe um movimento internacional, em
que a tendência é por uma responsabilidade
penal que começa aos 18 anos. Existe também
muita pressão para se acabar com a pena de
morte.
Qual sua opinião sobre os estabelecimentos
que tratam hoje da criança e do adolescente
infrator?
No lugar de pequenas unidades, com tratamento
individualizado e respeito à integridade física
e mental, temos torturas, um número pequeno
de técnicos e ausência de tratamento
adequado aos usuários de drogas. Na realidade,
o que se vê é uma Justiça forte
contra os fracos, e fraca e protetora em relação
aos ricos.
Redação
Terra / Jornal da Tarde
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