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Vidente narra fábula sobre como lidar com a morte

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Era apenas um pequeno peixinho dourado, o único que a mãe autorizou, nadando no grande aquário, debaixo da janela da sala. A menina, no auge dos seus onze anos, filha única, não para conhecer os mimos, mas as disciplinas da vida, sentia-se, ela própria, mãe da criatura, e cuidava da alimentação e da higiene do "queridinho".

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Uma cumplicidade aguda nasceu entre eles. Ela, que nunca se imaginara proprietária de animalzinho algum, encostava o nariz na parede do aquário e lá vinha ele olhar para ela com aqueles olhos saltados e esquisitos. Ela passava o tempo a imaginar como seria enxergar o mundo, tendo um olho de cada lado, ao invés de dois, olhando para o mesmo ponto.

A vida transcorria, na sua rotina de menina, até o dia em que ela percebeu que, para sobreviver, era preciso ser muito forte. Pena que ¿queridinho¿ não sabia disso. Naquele dia ela acordou e, como fazia sempre, correu para dar bom dia ao seu amiguinho. Encontrou-o imóvel, a barriguinha branca virada para cima, morto.

Foi seu primeiro confronto com a perda. A primeira percepção de que o crescimento, a vida adulta, requer preparo para enfrentar as desilusões e compreendê-las, ou sofrer ainda mais pela incompreensão. Ela percebeu que assumir a perda e tomar providências era o que devia fazer.

Com atenção e afeto, preparou o funeral. Uma caixa de fósforos, forrada de algodão e molhada de lágrimas, serviu de última morada, para aquele amiguinho silencioso e fiel. Ela sabia o quanto a mãe acharia absurdo fazer um enterro na praça, levando colher para cavar a terra de algum canteiro, e voltar para casa, toda cheia de areia e de terra. Quem iria varrer a sujeira toda? Quem iria lavar a roupa? Além do mais, diria ela, para que enterrar o peixe? Peixe não tem alma mesmo.

Mas a menina tinha. Por isso, ao sair para a escola, naquele dia, levou escondida no meio dos cadernos, uma colher. No pátio, na hora do recreio, escolheu um canteiro florido, ao lado dos bebedouros e, discretamente, cavou um buraco, depositou o pequeno caixão e o cobriu. Não chorou. Sentia-se aliviada. Seu amigo lhe deixara mais um precioso ensinamento: cumprir até o fim uma tarefa, por mais difícil que seja, é uma forma de ficar em paz. Mesmo quando a dor é forte, superá-la traz a abertura para novas situações. A certeza da missão cumprida diminui a dor.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold, ou entrar em contato com ela, clique aqui.

Foto: Getty Images
Fonte: Marina Gold
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