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Forças escuras: a indesejada manifestação do azar

28 jul 2017 - 08h00
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Há algum tempo trombei com uma notícia que me deixou aturdida. Num primeiro momento pensei que não podia ser verdadeira, apenas brincadeirinha. Depois, checando a fonte, o site de um dos mais respeitáveis jornais da Inglaterra (país onde o jornal é texto sagrado e oração matinal!), e o rigor detalhado das informações, aceitei que era pura e simples expressão de algo estranho e improvável que, mesmo assim, tinha acontecido.

Foto: PeopleImages / iStock

Deixo para você, caro leitor, decidir se deve rir ou chorar (eu mesma me dividi entre essas duas possibilidades). Atenho-me à fria apresentação dos fatos. Numa manhã tranquila, um homem tropeçou no seu próprio cadarço desamarrado e caiu. Até aí nada demais, acontece toda hora e pode acontecer com qualquer um de nós. Agora, veja o detalhe: ele estava visitando o Museu Fitzwilliam, em Cambridge, e arrastou para o chão três vasos chineses da dinastia Qing de valores incalculáveis.

Ele tombou no meio dos vasos e eles se quebraram em centenas de pedacinhos. Estava sentado e assustado quando os funcionários apareceram. Todo mundo ficou em silêncio, como que em choque. O homem, rodeado pelos cacos daquela louça inestimável, apenas apontava para o cadarço, dizendo: “aí está o culpado, foi ele”.

Pobre desavisado esse nosso infeliz destruidor não intencional da grande arte da porcelana, não entende que a culpa não é daquele mero fiapo de nylon, uns oitenta centímetros de linha que tanta confusão e trabalho acarreta para crianças que começam a “aprender a fazer o laço”. A culpa é do azar. Mas, como apontá-lo com o dedo indicador, como fazia nosso espantado vilão com os cordões do sapato?

Disse vilão? Devia dizer azarão. Como todos nós, à mercê de potenciais mecanismos que fazem coisas que podem dar errado, acabem mesmo dando errado. O pneu fura, a corrente arrebenta, o leite entorna, a torneira pinga, a lâmpada queima, a pedra rola, o gás acaba, a vaca vai para o brejo e, para fechar, o mais terrível e letal, o predador máximo, o computador dá crepe (para não dizer algo que não pega bem, de calão duvidoso).

Estamos vulneráveis? Sim, o tempo todo. Há uma explicação para esse tipo de ocorrência? Sim, mas nos escapa, está hermeticamente selada em círculos maiores de compreensão. O que fazer? Proceder com calma e desprendimento, aceitar as circunstâncias que nos forem destinadas, sem raiva.

Alguma outra recomendação? Gosto de, sempre que minha sensibilidade manda sinais, destinar uma oração ao anjo de guarda e, complemento, jogar no chão da cozinha, porta de entrada ou mesmo dentro do bolso ou da bolsa uma pitadinha de sal, coisa minúscula, só para atrair alguma umidade e forças escuras que navegam desenfreadas e enfurecidas por esse mundo afora.

Quer saber mais sobre o trabalho de Marina Gold ou entrar em contato com ela, clique aqui.

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Fonte: Especial para Terra
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