Vidente explica a diferença entre fé e crença
É bom entender que fé e crença não são a mesma coisa. Pode haver fé sem crença, todavia não pode haver crença sem fé. A fé é anterior, maior, e contém a crença. A fé é um oceano, a crença um pequeno lago. A fé se espalha – gera sensação de abismo e espanto –, a crença se estabelece nas implicações práticas, vinculadas às condutas de todos os dias.
A fé é a base para as sabedorias místicas de todas as eras e todas as religiões. A crença é um conjunto utilitário de apoio às religiões, exigências de comportamento e direção de vida em determinado momento da história da evolução esotérica da humanidade.
Conheço uma porção de gente pouco afinada às crenças, mesmo assim são almas poderosas, extravasam doçura e transcendência, calma e sabedoria. Aliás, costumam dizer que se estivessem atreladas a uma crença, qualquer que fosse, não se sentiriam tão plenas como se sentem; ficariam incomodadas, aprisionadas em fazer o tempo todo o que lhes seria indicado, sem escutar o próprio coração.
Conheço também uma porção de gente que, além do abraço da fé, vive em crença, acordam e vão dormir de olho no conjunto de regras que devem seguir, são vigilantes e atentas. Temo que essas pessoas, algumas vezes, estejam tão completamente mergulhadas nessas questões que encontrem pouco tempo ou disposição para se entregarem a uma relação mais espontânea – menos preocupada – com os aspectos divinos ao nosso redor.
São escolhas. Claro que a magia e a luminosidade espontânea do misticismo vêm dessa falta de caminho convencional, de um não saber exatamente por qual trilha seguir. De repente perder aquela intimidade natural com as coisas, tornar-se alheio a si próprio com a confiança de saber que a fé vai reconstruir, lá adiante, tudo o que importa.
A fé é uma aventura, viagem sem roteiro para conhecer a própria geografia interior, medos e limites, seguranças e fortalezas. Já a proposta da crença é bem diferente. Ela é um guia para o sedentarismo, ensinando a viver de uma forma que controle o indelével passar do tempo. A fé difere, explode as expressões do tempo, joga-nos em pleno nomadismo, segue as caravanas para, no final do trajeto, depois de esvaziar todas as experiências, nos trazer de volta para nossa verdadeira casa.