Manifestantes tomam as ruas de Bruxelas em protesto contra política de rigor econômico
A política econômica de rigor proposta pelo governo federal belga levou milhares de pessoas às ruas de Bruxelas nesta terça-feira (14). A manifestação nacional, convocada pela frente sindical unificada, ocorreu em meio às negociações orçamentárias em curso.
A política econômica de rigor proposta pelo governo federal belga levou milhares de pessoas às ruas de Bruxelas nesta terça-feira (14). A manifestação nacional, convocada pela frente sindical unificada, ocorreu em meio às negociações orçamentárias em curso.
Pierre Benazet, correspondente da RFI em Bruxelas, com agências
Segundo a polícia de Bruxelas, cerca de 80 mil manifestantes participaram do ato, um número superior aos 60 mil registrados em fevereiro, após a posse do novo governo liderado pelo conservador flamengo Bart De Wever. Um dos líderes do movimento afirmou que o número real de participantes chegou a 140 mil.
O governo federal belga prometeu reduzir o déficit abaixo de 3% do PIB. Desde que assumiu em fevereiro, Bart De Wever já aprovou a limitação das indenizações por desemprego a dois anos e planeja uma ampla reforma da Previdência, incluindo o fim dos regimes especiais e a equiparação das regras dos servidores públicos às do setor privado.
Como na vizinha França, a reforma da Previdência, que pretende aumentar a idade mínima da aposentadoria, é um dos temas que mais mobilizam a população. Nas ruas, manifestantes exibiam cartazes com os dizeres "Direito à aposentadoria aos 65 anos" e "Procurado por roubo de aposentadoria".
Durante o início da manifestação, Thierry Bodson, presidente da FGTB (central sindical socialista), declarou que uma geração inteira se recusa a ver destruído em seis meses o que seus pais e avós levaram tempo para construir.
A mobilização contou com vozes de diferentes setores da sociedade. Cédric, professor na província de Luxemburgo, criticou duramente o governo: "Eles dizem que são muito bons em economia. Mas a economia está desmoronando. Estão matando o consumo interno ao sufocar as pessoas".
Nadia, profissional de recursos humanos há 25 anos, teme o aumento da idade mínima para a aposentadoria: "É gradual, vai passar para 66 e 67 anos. E para mim, que tenho quase 50 anos, talvez só consiga me aposentar aos 70. Então, fico feliz em ver que há muitos jovens começando a lutar também".
"Enfrentaremos economias drásticas. É sempre a mesma coisa, é o ser humano que sofre e, por isso, estamos aqui para nos mobilizar", disse Robert, empresário em Bruxelas, afirmando que a austeridade já afeta todo o país. "Além disso, não é um movimento exclusivo da Bélgica, é algo que vemos em vários países, porque é uma tendência geral".
Violência e vandalismo durante o protesto
A polícia registrou atos de vandalismo durante o dia e informou que cerca de 20 pessoas foram detidas. Houve um princípio de incêndio em uma praça de Bruxelas, supostamente provocado por manifestantes para bloquear o tráfego, além de barricadas desmontadas pelas autoridades.
O prédio da agência pública responsável por pedidos de asilo e imigração foi atingido por fogos de artifício e outros objetos. O hotel Hilton também sofreu danos.
No início da tarde, a polícia utilizou canhões de água e gás lacrimogêneo para dispersar pequenos grupos de manifestantes mascarados e violentos. O tráfego aéreo também foi fortemente afetado em todo o país.
A expectativa dos organizadores é que essa mobilização, iniciada em 2024, continue crescendo. A apresentação do projeto de orçamento para 2026, inicialmente prevista para esta terça-feira, foi adiada em uma semana.