Vídeo mostra superlotação de hospital espanhol por conta de epidemia de gripe, não pandemia de mpox
NÃO HÁ REGISTRO DE AUMENTO DE CASOS DE MPOX NA EUROPA; PAÍSES DO CONTINENTE TÊM ENFRENTADO CASOS DE VARIANTE DO VÍRUS H3N2, VARIAÇÃO DA INFLUENZA A
O que estão compartilhando: que uma nova cepa da varíola dos macacos (mpox) estaria colapsando hospitais na região da Catalunha, na Espanha, com milhares de casos, internações em massa e superlotação de leitos. A postagem afirma que um virologista teria alertado que uma "nova pandemia" começou. O conteúdo é ilustrado com um vídeo que parece mostrar um trecho de noticiário, com imagens de pessoas acamadas nos corredores de uma unidade de saúde.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Na verdade, a Catalunha passa por uma epidemia de gripe, causada por uma variante do vírus H3N2. O vídeo usado na postagem não tem relação com mpox - na verdade, jornais locais divulgaram a gravação em reportagens sobre sobrecarga de unidades de saúde por infecções respiratórias.
Nesta terça-feira, 9, a Agência de Saúde Pública da Catalunha determinou como obrigatório o uso de máscaras em centros de saúde, como hospitais e lares de idosos. O órgão justifica a medida pelos níveis elevados de incidência de gripe.
Saiba mais: por busca reversa (veja aqui como fazer), o Verifica encontrou o vídeo usado na postagem em uma reportagem do jornal espanhol El Periódico. A notícia informa que a epidemia de gripe e outras enfermidades respiratórias está sobrecarregando os hospitais do país.
A gravação, segundo o veículo, foi feita no pronto-socorro do Hospital Del Mar, em Barcelona. As imagens também foram reproduzidas pelo jornal digital catalão El Nacional, no mesmo contexto de superlotação da unidade de saúde.
Diferentes países da Europa (veja aqui e aqui) têm enfrentado um aumento de casos do vírus H3N2, da variante K. O vírus H3N2 é uma variante da influenza A, causadora de gripe comum.
Segundo a Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde, atualmente há conhecimento de três tipos de vírus influenza: A, B e C. Os dois primeiros, de acordo com a pasta, são os mais prováveis de provocar epidemias sazonais; o último costuma estar associado a casos mais leves. O tipo A da influenza é classificado em subtipos, como H1N1 e H3N2.
A pasta informa que os sintomas incluem "febre alta no início do contágio, inflamação na garganta, calafrios, perda de apetite, irritação nos olhos, vômito, dores articulares, tosse, mal-estar e diarreia".
Segundo comunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS) desta quarta-feira, 10, "a atividade da gripe sazonal aumentou globalmente nos últimos meses, com uma proporção maior de vírus influenza A (H3N2) detectados". A organização explica que o aumento coincide com o início do inverno no hemisfério norte. Nesta época, é comum que os níveis de infecções respiratórias agudas aumentem nestes países.
A OMS destaca, porém, que houve um rápido aumento do vírus H3N2 J.2.4.1, conhecido como "subclado K", desde agosto de 2025. Segundo o órgão de saúde, a variante K apresenta diversas alterações em relação ao vírus "original", mas os dados epidemiológicos atuais "não indicam um aumento na gravidade da doença".
"Estimativas iniciais sugerem que a vacina contra a influenza continua a oferecer proteção contra a necessidade de hospitalização, tanto em crianças quanto em adultos, embora sua eficácia contra a doença clínica durante a temporada atual permaneça incerta", comunica o documento.
Postagem engana ao associar filmagem à varíola do macaco
A publicação verificada afirma que a cena registrada tem relação com uma nova cepa da varíola do macaco, também conhecida como mpox. Na legenda, o responsável pelo conteúdo alega que um virologista espanhol teria afirmado que a nova cepa "vai devastar a Europa toda" e que "uma nova pandemia começou". Mas a verdade é que não há registro de surto de mpox na Europa.
Ao Verifica, a OMS enviou o último relatório sobre a mpox, datado nesta segunda-feira, 8. No mês de outubro, 44 países relataram um total de 2.501 novos casos confirmados, com 12 mortes. Cerca de 75% desses casos foram relatados no continente africano.
O relatório não diz haver um aumento expressivo na Espanha, nem alerta para uma "nova pandemia". A reportagem também não localizou notícias sobre crescimento de casos de mpox no país em jornais nacionais e internacionais.
Como lidar com postagens do tipo: a postagem verificada adota um tom alarmista para gerar pânico e medo. Há alguns indícios que evidenciam a fragilidade da alegação, como, por exemplo, a citação a um "virologista espanhol", sem menções ao nome do profissional. O uso de termos como "apocalíptica" também denota o caráter sensacionalista.
Para verificar a alegação de uma "nova pandemia", o Verifica pesquisou o contexto original do vídeo compartilhado e buscou informações em entidades confiáveis, como a OMS e a Agência de Saúde Pública da Catalunha.
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