Leucemia: o drama de Afonso, em 'Vale Tudo', e a superação de Fabiana Justus inspiram conscientização
Especialista destaca os sinais de alerta, os avanços da medicina e fala sobre a esperança trazida pela doação de medula
No remake de Vale Tudo, exibido pela TV Globo, o personagem Afonso, interpretado pelo ator Humberto Carrão, enfrenta a leucemia e a busca por um doador de medula óssea compatível. Já Fabiana Justus, filha do empresário Roberto Justus, foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda e encarou um intenso tratamento até encontrar um doador compatível, que salvou sua vida. Seu caso reforça a importância do diagnóstico precoce, do acesso ao tratamento e do cadastro de doadores voluntários, trazendo esperança a milhares de famílias que enfrentam a mesma luta.
A hematologista Daniela Rocha comenta que as leucemias são classificadas em agudas ou crônicas, de acordo com o tipo de célula acometida e a evolução da doença. Nas leucemias agudas, há proliferação de células jovens, chamadas blastos, e a doença se instala rapidamente, com sintomas pronunciados, como cansaço extremo, febre, aumento de gânglios, sangramentos em mucosas ou manchas roxas na pele. Nas leucemias crônicas, há proliferação de leucócitos maduros, a evolução é lenta, muitas vezes com sintomas inespecíficos ou ausentes.
O papel da medula óssea
Segundo a médica, o transplante de medula óssea é essencial para consolidar o tratamento de certos tipos de leucemia. Ela explica que pode ser autólogo, com as próprias células do paciente, ou alogênico, com células de um doador, e tem como objetivo a cura da doença.
Em relação ao transplante, a especialista diz que a decisão depende das características genéticas e moleculares da doença, identificadas por exames específicos. "Pacientes com maior risco de recidiva necessitam do transplante, enquanto pacientes de baixo risco podem ser tratados apenas com quimioterapia e imunoterapia", aponta.
Compatibilidade e doação
Conforme a hematologista, a chance de encontrar um doador compatível fora da família é de 1 em 100 mil. Em alguns casos, ela lembra que é possível realizar o transplante com um doador familiar pelo menos 50% compatível.
Já o cadastro de doadores de medula no Brasil é simples. A médica esclarece que basta procurar um hemocentro credenciado e fornecer uma pequena amostra de sangue. O nome da pessoa vai para o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), mantido pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e vinculado ao Ministério da Saúde.
Desafios e avanços
A hematologista ressalta que o grande desafio é encontrar um doador compatível dentro do tempo ideal, quando o paciente está em remissão e apto a receber o transplante. "O refinamento das análises genéticas e moleculares permite estratificação de risco mais precisa, além do desenvolvimento de novas drogas-alvo, eficazes no tratamento da leucemia", conta a especialista ao ser questionada sobre a doença e os avanços recentes da medicina.
Conscientização e humanização
A médica pontua que divulgar o tema é fundamental para informar sobre o procedimento, reforçar a importância da doação e mostrar que a cura é possível. "A doação de medula óssea é simples e envolve apenas a coleta de uma amostra de sangue. Apesar de muitas pessoas terem medo por desconhecimento, trata-se de um gesto rápido, seguro e de valor imensurável", finaliza.
Especialista
Daniela é formada em Medicina pela Universidade de Santo Amaro (Unisa) em 2005, com residência em Clínica Médica no Complexo Hospitalar Professor Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. A médica também fez especialização em Hematologia e Hemoterapia no Hospital Albert Einstein. Em 2013, ampliou sua formação no exterior, ao ingressar em um observership no renomado MD Anderson Cancer Center, nos Estados Unidos, onde segue atualizando seus conhecimentos em linfoma, mieloma, leucemia e cuidados paliativos. Além disso, possui título de especialista concedido pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH).