Avaliação: Renault Kardian agrada por bom desempenho e conforto

Já dirigimos na região de Gramado, RS, o novíssimo SUV compacto de entrada da Renault em sua versão mais equipada, de R$ 132.790

Por: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

19 mar 2024 - 15h00

(atualizado às 17h27)

Exibir comentários

Renault Kardian Première Edition 1.0 TCe
Foto: Rodolfo Bührer / Guia do Carro

O Renault Kardian finalmente estreou no Brasil. Depois de meses de espera, após sua revelação no Rio de Janeiro, o SUV compacto de entrada foi submetido ao primeiro test-drive e à prova de fogo do mercado. Enfim podemos dizer se o Kardian é mesmo tão bom como a Renault afirma.

Nossa experiência ao volante do Renault Kardian aconteceu na bonita região de Gramado, RS, onde pudemos rodar com o novo SUV nacional na cidade, na estrada e especialmente em trechos sinuosos, com muitas curvas, subidas e descidas, além de alguns pisos irregulares.

O Renault Kardian é bom. Tem grande potencial para agradar ainda mais do que o Fiat Pulse em sua categoria e pode encarar até um rival como o Volkswagen Nivus. O carro avaliado foi um Kardian Première Edition, topo de linha, de R$ 132.790.

Em relação ao Pulse, o Kardian ganha na ergonomia, no espaço interno, no porta-malas, no câmbio (que não é CVT), nos itens de segurança e na entrega de torque. Mas perde na potência. Em relação ao Nivus, o Kardian ganha na potência com gasolina, no torque, nos itens de segurança e na altura do solo. Mas perde em handling (dirigibilidade).

Nossa primeira impressão ao dirigir o Kardian foi muito positiva. Esqueça o Captur, o Duster, o Sandero, o Stepway ou qualquer outro carro da marca francesa. Este é um novo Renault – e dos bons. Mais do que um novo SUV compacto de entrada (4,16 m de comprimento e 2,60 m de entre-eixos), o Kardian é o despertar de uma nova Renault.

O carro agrada muito na entrega de torque (220 Nm a 2.250 rpm, mas 90% já estão disponíveis a 1.250 giros), tem grande agilidade no trânsito urbano, é esperto na retomada de velocidade para ultrapassagens (os 125 cv com etanol ou 120 cv com gasolina são entregues a 5.000 rpm) e o câmbio de dupla embreagem de 6 marchas faz trocas imperceptíveis.

O motor 1.0 TCe de 3 cilindros com injeção direta e a transmissão EDC (Efficiente Dual Clutch) “úmida” (imersa em óleo) são inteiramente novos. Mas não é só isso. A plataforma do carro é novíssima e tem no Kardian sua primeira aplicação global. Ainda sobre o câmbio, a alavanca é do topo joystick e basta segurar as duas aletas da borboleta para que ele entre no modo manual.

Pensado dentro dos paradigmas mais modernos da indústria automotiva, o Renault Kardian nasce com ótimas soluções de segurança (além de ter 13 itens Adas), de suspensão (tem subchassi abrigando a suspensão dianteira) e de direção (com coluna colapsável e ajustável em altura e profundidade).

A posição de dirigir é excelente, com bancos bonitos, anatômicos e confortáveis, além de elevados, e painel digital de 7”. O volante de direção tem ótima empunhadura e um diâmetro não muito grande (como vemos, por exemplo, no Pulse e no Nivus), a multimídia de 8” fica no alto do painel, com ótima visibilidade, e o porta-malas tem 358 litros VDA (410 litros se encher de água).

Não atingimos grandes velocidades para emitir uma opinião definitiva sobre seu comportamento direcional, mas em velocidades moderadas ele nos pareceu bem firme nas curvas. A suspensão tem ajuste relativamente duro e nem de longe ele lembra a maciez dos carros chineses, por exemplo.

Os pneus das versões superiores são 205/55 R17, mas para o Brasil acreditamos que os pneus 205/60 R16 da versão de entrada sejam mais adequados. Os freios também não foram exigidos à prova neste primeiro test-drive em Gramado, Canela e região. Rodando, o motor 3 cilindros não tem vibrações dignas de nota, mas elas aparecem quando o Kardian está parado. Por isso, é preciso ver como é isso numa cidade de trânsito intenso.

Aliás, o Renault Kardian tem mesmo uma proposta urbana. Tanto que motor e câmbio foram ajustados para proporcionar boa economia rodando na cidade, em baixas rotações (13,1 km/l com gasolina e 9,0 km/l com etanol). Na estrada, a melhora não é tão grande (13,9 km/l com gasolina e 9,7 km/l com etanol), tanto que ele perde para o Pulse e o Nivus.

A emissão de CO2 é alta: 115 g/km (contra 102 g/km do Pulse e 103 g/km do Nivus). Mas, em termos de eficiência energética, o novo Renault tem nota superior ao dos rivais. Por isso, o Kardian (13,1 km/l com gasolina) é mais econômico na cidade do que o Pulse (12,1 km/l) e o Nivus (11,9 km/l).

Há muito a melhorar na emissão de carbono e isso vai ocorrer só quando o Kardian ganhar o sistema híbrido (não se sabe quando). Não haverá Kardian com motor aspirado no Brasil, mas para exportação, sim.

Para o motorista, o Kardian oferece alguns mimos. Um deles é o modo de condução, que pode ser selecionado no display central: Eco, My Sense (pessoal) e Sport. Dependendo da escolha, ele muda os parâmetros da direção, do câmbio e do pedal do acelerador, além da iluminação.

O painel de instrumentos digital é bonito, mas seguramente pode melhorar. A Renault optou por um conta-giros horizontal muito discreto – tanto que num primeiro momento achamos que nem havia. Além disso, os números no modo Sport são minúsculos. De nos outros modos nem sequer vimos número marcando os giros do motor. Isso é fundamental para dirigir um carro de forma econômica ou com maior performance.

O espaço traseiro não exatamente genoroso. Mas isso tem a ver com a proposta do carro. Segundo a Renault, o Kardian foi pensando para um público bem específico: entre 30 e 35 anos, com ensino superior, que gosta de tecnologia, mas que é mais individualista do que ligado à família. No máximo, um casal com um filho prequeno. Ah, e com renda de R$ 15 mil mensais.

Se fôssemos atribuir uma nota genérica para o Renault Kardian nesse primeiro test-drive, daríamos um 9, o que equivale ao conceito “ótimo” nos critérios do Guia do Carro. É um carro que tem potencial para vender entre 30 mil e 40 mil unidades no ano. Vai depender, é claro, da política comercial da Renault nos próximos meses.