System Shock 2: Remaster resgata um dos pilares do game design
Clássico da ficção científica completa 25 anos e ganha nova vida com melhorias técnicas e respeito absoluto ao original
System Shock 2, lançado originalmente em 1999, é um dos pilares do gênero immersive sim (simulação imersiva) nos videogames, ao lado de títulos como Deus Ex, Dishonored, Prey, BioShock (já um pouco diferente, mas considerada uma sucessora espiritual) e mais recentemente, alguns elementos em Cyberpunk 2077.
Disponível no PC desde o final de junho, agora é a vez dos consoles receberem o System Shock 2: 25th Anniversary Remaster, uma versão remasterizada que equilibra modernização técnica e fidelidade histórica. O resultado é um presentão para os jogadores nostalgistas e uma porta de entrada para uma nova geração.
Confira a seguir aqui no Game On o que achamos dessa remasterização.
Confira entrevista com os desenvolvedores de System Shock 2: 25th Anniversary Remaster.
Modernização respeitosa
Prepare-se para uma viagem no tempo, pois no coração do remaster reside o System Shock 2 original, e esse é seu maior trunfo. A narrativa envolvente continua sendo um pilar central e aterrador. Ambientado na nave Von Braun no ano de 2114, o jogo mergulha o jogador em um pesadelo onde a tripulação foi dizimada ou transformada em mutantes bizarros.
Além deles, a voz de SHODAN, a inteligência artificial psicótica e memorável antagonista do primeiro jogo, está de volta ecoando pelos corredores, guiando (ou manipulando) o protagonista. A história é contada não apenas através de diálogos, mas também pela própria arquitetura opressiva da nave e pelos fragmentos de áudio deixados pelos falecidos tripulantes, criando uma imersão psicológica que poucos jogos conseguem replicar.
Utilizando o motor KEX (o mesmo dos remasters de Turok, Quake II e Blade Runner), o jogo recebeu uma injeção gráfica significativa. Modelos de personagens, armas e inimigos foram recriados com mais detalhes, texturas em alta definição foram aplicadas aos cenários e os efeitos de iluminação ganharam mais realce.
No entanto, apesar dos retoques visuais, a estética retro-futurista de 1999 foi mantida com respeito - o remaster não tenta reimaginar System Shock 2 como algo que ele nunca foi, mas apenas o apresenta com nitidez e fluidez dignas de 2025.
Não espere gráficos no nível de um jogo AAA moderno. Alguns modelos e animações, embora aprimorados, ainda refletem a tecnologia da época, o que pode parecer algo mais do que ultrapassado para jogadores acostumados apenas com produções recentes.
Um híbrido de ação e RPG
A jogabilidade é uma fusão de tiro em primeira pessoa, RPG e survival horror - uma mistura de gêneros que foi inovador para a época. Você é forçado a gerenciar recursos escassos como munição, ferramentas e kits de primeiros socorros, tornando cada confronto uma decisão estratégica.
É possível moldar seu personagem através de três classes iniciais: Fuzileiro Naval (combate), Marinha (tecnologia e hacking) e Agente da OSA (poderes psiônicos) - o que vai impactar diretamente seu estilo de jogo e as habilidades que você poderá desenvolver.
O sistema de evolução via módulos cibernéticos permite uma personalização profunda, adaptando o personagem ao seu estilo de sobrevivência. O hacking de terminais, a pesquisa de tecnologia alienígena e a constante ameaça dos "Many" (a infestação alienígena) complementam uma experiência de jogo complexa e gratificante.
Mas embora aprimorado, o combate ainda guarda certa rigidez, fruto das raízes de 1999. O mesmo pode ser dito da interface e menus, que ainda carregam resquícios de um design de PC da virada do milênio, o que pode parecer um pouco desajeitado para quem não está acostumado. Além disso, algumas animações permanecem datadas, e a IA dos inimigos é bem limitada em certos momentos.
Um jogo casca grossa
A dificuldade de System Shock 2 é lendária, e o remaster não a diminui. O jogo é desafiador, exige paciência, exploração cuidadosa e uma gestão rigorosa de inventário. Novatos no gênero ou jogadores que preferem experiências mais casuais podem achar a curva de aprendizado penosa e o combate extremamente punitivo. Portanto, esteja preparado para um jogo casca grossa.
Um dos atrativos inéditos do remaster é o modo cooperativo para até quatro jogadores, incluindo crossplay entre PC e consoles. Isso oferece uma nova dimensão para a aventura, permitindo que amigos explorem os horrores da Von Braun juntos. A coordenação tática e o compartilhamento de recursos adicionam uma camada estratégica interessante, e pode ser uma ótima maneira para novatos enfrentarem a dificuldade alta do jogo.
Por outro lado, uma ausência importante salta aos olhos: o jogo continua sem qualquer opção de localização para o português. Menus, legendas, áudios e interface permanecem exclusivamente em inglês, o que pode dificultar o entendimento e afastar parte do público brasileiro, especialmente considerando o teor técnico e narrativo do game.
Considerações
System Shock 2: 25th Anniversary Remaster não é uma reinvenção da roda, mas sim uma homenagem cuidadosa ao jogo original. A Nightdive Studios conseguiu modernizar o jogo com melhorias visuais e de jogabilidade, mas sem sacrificar a atmosfera opressiva, a narrativa intrincada e a jogabilidade profunda que fizeram do original uma lenda.
Para os jogadores vetereanos e nostálgicos, é uma oportunidade fantástica de revisitar a Von Braun com um novo brilho. Para os recém-chegados, é a melhor chance de experimentar um dos maiores jogos de todos os tempos em sua forma mais acessível e polida - mas tenha em mente que, apesar das melhorias, o jogo continua sendo uma obra de 1999, com toda a sua genialidade... e seus defeitos.
Se você busca uma experiência de ficção científica com terror psicológico, RPG profundo e um desafio robusto, esta é uma adição essencial à sua biblioteca.
System Shock 2: 25th Anniversary Remaster está disponível para PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Switch, Xbox Series X|S e Xbox One.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia gentilmente cedida pela Nightdive Studios.
