Deus Ex faz 24 anos: quando os jogos confiaram na sua inteligência
Lançado em 2000, jogo trouxe uma fusão de gêneros e ainda é referência para games atuais
Em junho de 2000, um jogo chegou ao mercado sem fazer alarde, mas que logo se tornaria um marco na história dos videogames: Deus Ex, da extinta Ion Storm e criado por Warren Spector, um conhecido projetista de RPGs de mesa na década de 1980 e posteriormente em RPGs eletrônicos, como a clássica série Ultima.
Vinte e quatro anos depois, a influência de Deus Ex permanece inegável, reverberando em produções contemporâneas e servindo como um lembrete de uma era em que os desenvolvedores apostavam na inteligência e na capacidade de escolha do jogador.
Confira a seguir aqui no Game On mais detalhes de como essa grande obra scifi surgiu.
Uma fusão de gêneros
Deus Ex chegou em um momento de transição na indústria, dominada por experiências mais lineares. No entanto, ele ousou ser diferente, entregando uma narrativa complexa e ramificada, ambientada em um futuro distópico onde conspirações globais e aprimoramentos cibernéticos ditavam as regras. Você, no papel de JC Denton, um agente anti-terrorista nano-aprimorado, era lançado em um labirinto de escolhas morais e táticas, onde cada decisão realmente importava.
O grande trunfo do jogo foi sua fusão magistral de gêneros. Ele não era apenas um RPG com elementos de tiro, nem um FPS com toques de RPG. Era uma simbiose perfeita, onde a progressão do personagem, as habilidades e as escolhas de diálogo se entrelaçavam com a ação e a exploração.
Queria ser um mestre em infiltração, evitando confrontos? O jogo permitia. Preferia a abordagem direta, com armas em punho? Também era uma opção. Essa liberdade sem precedentes, aliada a múltiplos caminhos para completar objetivos, tornou cada jogatina uma experiência única.
Além disso, a profundidade do universo de Deus Ex era algo a ser notado. Diálogos bem escritos, notas de rodapé, emails e jornais espalhados pelo cenário construíam uma teia de informações que enriqueciam a imersão.
Cada personagem, por mais secundário que parecesse, tinha sua própria história e motivações, contribuindo para a riqueza do mundo. O universo do jogo fazia sentido por si só, e quem se dispusesse a investigar era recompensado com contexto, profundidade e nuances.
Origem do nome
O nome "Deus Ex" vem da expressão latina "Deus ex machina", que significa literalmente "Deus surgido da máquina". É um termo antigo do teatro grego e romano, usado para descrever uma solução inesperada e improvável que resolve uma situação aparentemente sem saída - muitas vezes, com a aparição repentina de uma divindade que desce ao palco através de uma máquina (daí o termo "ex machina").
O nome foi escolhido por Warren Spector, criador da franquia, e é carregado de camadas de significado que dialogam com os temas centrais do jogo, sendo o principal o aprimoramento humano através da tecnologia e implantes cibernéticos - literalmente se tornando “deuses a partir de máquinas”.
Sequências e derivados
Deus Ex foi o jogo original que iniciou tudo, aclamado por sua liberdade de escolha, múltiplos caminhos para os objetivos e uma história complexa de conspirações. Em 2003 veio a sua sequência direta, Deus Ex: Invisible War, que expandiu esse universo.
Em 2011 foi lançado Deus Ex: Human Revolution, que traz uma história ambientada antes do primeiro jogo. Ele foi muito elogiado por revitalizar a série e manter o espírito do original, e conta ainda com uma edição aprimorada chamada Director's Cut.
Em 2013 foi lançado Deus Ex: The Fall, um jogo desenvolvido para plataformas móveis, que expande a história do universo de Human Revolution. Embora tenha sido portado para PC, geralmente é considerado o mais fraco da série principal.
Deus Ex: Mankind Divided de 2016 foi o último jogo da série principal e é uma sequência direta de Human Revolution, que continua a história de Adam Jensen em um mundo onde os humanos aprimorados são segregados.
Além desses, existem também jogos spin-off, como Deus Ex Go (2016), um jogo de quebra-cabeça por turnos para dispositivos móveis, e Deus Ex: Breach (2016), que é um spin-off de Mankind Divided com foco em jogabilidade arcade de hackeamento.
Atualmente, a série pertence à Embracer Group, que detém os direitos por meio da Eidos Montréal, o estúdio que desenvolveu os jogos mais recentes da franquia (Human Revolution e Mankind Divided). Infelizmente, até o momento não há confirmações de um novo jogo para a série, e vai continuar sem ver a luz do dia por um bom tempo.
O legado de Deus Ex
O impacto de Deus Ex foi imediato entre os jogadores e foi um sucesso comercial, mas sua verdadeira influência foi sentida ao longo dos anos seguintes. Ele abriu caminho para o que hoje chamamos de "immersive sim", ou "simulação imersiva", um subgênero focado em simular múltiplas possibilidades dentro de um ambiente interativo.
Títulos como Dishonored, Prey e até mesmo o mais recente Cyberpunk 2077 bebem diretamente dessa fonte, contando com sistemas interconectados, múltiplas abordagens para resolver problemas e narrativas influenciadas pelas decisões do jogador.
Vinte e quatro anos depois, Deus Ex ainda é citado em listas de melhores jogos de todos os tempos, não apenas pela nostalgia, mas porque muitos títulos modernos ainda tentam alcançar a liberdade, profundidade e respeito pelo jogador que ele já oferecia no ano 2000. Ele mostrou que videogames podem ser mais do que diversão: podem ser desafiadores, inteligentes e inesquecíveis.