Norte do Rio pode virar uma Detroit se não houver compreensão regulatória, diz CEO da Petrobras
Segundo Magda Chambriard, aumento do pagamento de royalties à União, aprovado no Congresso, pode prejudicar projetos como o de revitalização da Bacia de Campos
RIO - A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou ser um equívoco o apoio de políticos fluminenses à mudança do preço do petróleo para cálculo dos royalties aprovado no Congresso, em um momento de cotações baixas da commodity e de custos altos na indústria.
A mudança do Preço de Referência do petróleo foi embutida na Medida Provisória 1.304, conhecida como a MP do setor elétrico, que já foi aprovada pelo Congresso Nacional. O PR é usado como base para o cálculo dos royalties e Participação Especial pagos à União. Se isso não for vetado pelo presidente Lula, o valor do que é repassado ao governo será elevado.
Para a Petrobras, o aumento do Preço de Referência do petróleo afeta diretamente o caixa, com o aumento do pagamento de royalties e Participação Especial, colocando em risco a viabilidade econômica de projetos, especialmente os de menor rentabilidade, como os campos maduros e em terra.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Magda confirmou que o próximo Plano de Negócios da companhia, para o período 2026-2030, vai postergar os planos de revitalização da Bacia de Campos e de Sergipe Águas Profundas (Seap) para depois de 2030.
"Estamos fazendo um esforço muito grande para revitalizar a Bacia de Campos, que foi deixada para trás. Se não houver compreensão regulatória, o Norte Fluminense pode virar uma Detroit", disse, em referência à cidade norte-americana que entrou em falência em 2013, após um auge de décadas como principal polo de produção de automóveis do país. Ela lembrou que o preço do barril de petróleo atualmente está US$ 20 mais barato do que o planejado pela companhia no plano anterior.
A executiva ressaltou a instabilidade jurídica que a mudança pode provocar na indústria, já que o Preço de Referência foi reajustado há menos de seis meses pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), "após discussão ao longo de anos, audiências e consultas públicas".
No caso de o preço do petróleo cair para US$ 50 o barril, como é especulado pelo mercado, a executiva prevê a necessidade de cortar mais projetos, "assim como projetos podem sair da prateleira no caso de voltar para os US$ 70", afirmou. Nesta sexta-feira, 21, o barril do petróleo brent estava cotado por volta de US$ 62.
"Essa parte que está em estudo, por óbvio, vai depender das condições de maturidade do projeto, da financiabilidade, e do retorno que esse projeto pode dar para a companhia. Mas a parte ruim disso é que toda vez que a gente não põe um projeto na rua, tem uma quantidade imensa de fornecedores que fica sem projeto. E, por conseguinte, tem uma quantidade imensa de pessoas que fica sem trabalho", explicou Magda.
A executiva afirmou que a Petrobras sempre zela pelo bem-estar da sociedade e pelo retorno para a empresa, como demonstrou ao "abrasileirar" os preços dos combustíveis, que reduziu o impacto no bolso do consumidor e na inflação. Na comparação com os preços praticados em dezembro de 2022, disse, o diesel caiu 36%, a gasolina, 22,5% e o querosene de aviação (QAV) foi reduzido em 39%.
Em uma comparação entre as refinarias da estatal e as privatizadas durante o governo anterior, da Bahia e do Amazonas, a Petrobras também tem praticado preços menores que suas concorrentes, ressaltou Magda, sem que isso comprometa a saúde econômica da companhia.
"O governo anterior achou que vendendo as refinarias o preço ia cair. Acreditava que desverticalizar o mercado ia baixar o preço, mas na verdade subiu", avaliou. "Quando você deixa de exercer as sinergias, você aumenta o custo."