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Atriz e 'ecochata', Laila Zaid sugere 'mudança algorítmica' para falar da crise climática com leveza, humor e responsabilidade 

Ao podcast Futuro Vivo, ela discute como 'conectar a pauta climática ao dia a dia' das pessoas e cobra responsabilidade nas redes sociais

9 dez 2025 - 10h59
(atualizado às 12h29)

Transformar a urgência climática em um tema compreensível, cotidiano e acessível é a chave para engajar a população e tornar o assunto prioridade, segundo a atriz, comunicadora e ativista socioambiental Laila Zaid. Para ela, o equilíbrio de falar sobre perdas ambientais sem criar distância das pessoas é algo mais do que necessário para não suavizar a gravidade do problema, afirmou ela em entrevista no novo episódio do podcast Futuro Vivo, publicado nesta terça-feira, 9. 

  • Conduzido pelo apresentador Victor Cremasco, o podcast conta com treze episódios e faz parte da plataforma de sustentabilidade homônima da Vivo. Os episódios são disponibilizados no Terra e em plataformas de áudio (Spotify) e vídeo (YouTube). Já participaram Carlos Nobre, Kaká Werá, Gilberto Gil, Denise Fraga e Bia Saldanha, entre outros convidados.

Ao longo da conversa, Laila falou sobre a formação do seu olhar para questões ambientais, que teve início ainda na infância. Um episódio marcante ocorreu quando morava com a família em Búzios (RJ) e se deparou com um mar cheio de plástico. Mas foram visitas à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, e ao navio do Greenpeace, ainda aos 8 anos, que intensificaram ainda mais sua preocupação com a sustentabilidade. 

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"Falei: 'Caramba, existe um grupo de pessoas que vivem pra proteger a natureza. Eu com certeza quero fazer parte disso'. E aí, a coisa já estava em mim. Eu digo que eu era 'ecochata' desde sempre e ativista de bastidores. Eu não sabia que existia o ativismo como eu faço hoje, estrutural, com estratégia. Esse mundo se abriu mais tarde para mim, quando eu pisei de fato com os dois pés nesse lugar", diz Laila.

Para a atriz, foram essas experiências que transformaram o tema da causa socioambiental em propósito de vida. Hoje, ela pauta sua atuação na comunicação e na arte com o assunto sempre em mente e, baseada em experiência própria, sugere que todas as crianças vivam episódios similares.

"A primeira dica (para os pais) é: bota a sua criança em contato com a natureza. Isso é fundamental não só para ela desenvolver esse amor e se tornar uma cuidadora do meio ambiente, mas porque a natureza é educadora. (...) A minha segunda dica é: abra uma escuta para o que está vindo de novo aí, que muitas vezes vai chegar através do seu filho e da sua filha. Porque a realidade que seus filhos vão viver é completamente diferente da que você viveu. Eles já estão vivendo um mundo de uma ecoansiedade absurda", defende Laila.

Manual Para Super-Heróis e mudanças permanentes

A participação infantil na causa ambiental defendida por Laila inspirou um livro lançado há alguns anos: o Manual Para Super-Heróis - O Início da Revolução Sustentável. Com 12 missões para engajar a nova geração no tema, a obra traz dicas para essa mudança de estilo de vida e faz parte de uma estratégia da artista para atrair mais pessoas na luta pelo meio ambiente: tornar discursos ecológicos mais eficientes e convincentes. 

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No entanto, a atriz enxerga obstáculos no mundo contemporâneo como fatores que atrasam a efetividade de obras de conscientização como seu livro. "A primeira grande mudança que tinha que acontecer é uma mudança algorítmica, porque os conteúdos de meio ambiente não são interessantes (nas redes sociais). O algoritmo vai preferir entregar foto de mulher de biquíni, polêmica, tudo, antes de entregar informação qualificada. A gente precisa desesperadamente de uma mudança algorítmica inclusive de fake news e desinformação também", diz.

"As big techs e as plataformas se monetizam com essa desinformação. Elas preferem discursos anticlimáticos do que os discursos que de fato são de impacto positivo", pontua. "Quando eu comecei a fazer vídeo eu comecei a entender um pouco como a coisa funcionava. Tinha muita marca me pedindo pra fazer publicidade. Eu fui entendendo como é que as marcas se comunicavam, como as organizações se comunicavam, como outros ativistas se comunicavam. Aí em algum momento eu fundei uma agência de comunicação que tem diversas estratégias diferentes pra botar clima nas mídias sociais em vozes diferentes e usar o mercado de influência para isso. E eu esbarro em muita gente que fala 'queria muito falar e não sabia como'".

Humor e indignação 

Atriz e ativista ambiental Laila Zaid participa do podcast Futuro Vivo
Atriz e ativista ambiental Laila Zaid participa do podcast Futuro Vivo
Foto: Futuro Vivo

Ainda assim, Laila vê retornos mais positivos de seus conteúdos que tratam do tema ambiental, o que ela atribui a abordagem atual e humorística que utiliza. "Nos bastidores das novelas, eu falava: 'gente, precisa imprimir todos os roteiros?' ou 'dá para a gente separar o lixo?' (...) Hoje eu recebo um feedback muito mais de 'obrigada por estar usando seu espaço para isso', 'que bom que você está nessa luta'. Eu sinto que existe um papel que eu estou desempenhando dentro desse ecossistema". 

O humor, segundo ela, é uma ferramenta importante — não para suavizar, mas para aproximar. "Eu sou do humor, eu sou do sarcasmo. Quando eu comecei a fazer vídeo, na verdade, eu comecei a usar trends que já existiam", diz, citando uma expressão usada no meio de comunicação: "botar o brócolis no arroz", quando as pessoas consomem os nutrientes da hortaliça em meio a um alimento corriqueiro — ou consomem informações nas redes, sem nem perceber. 

Mas com a emergência climática, nem sempre a abordagem com piadas é possível. A atriz comenta que, embora use humor com frequência, muitas de suas publicações mais fortes são vídeos de indignação, justamente porque tornam a questão humana e real. "Quando você vai com o pé na porta, eu acho que tem uma humanização da relação com as pessoas também, no sentido de, assim, é legítimo você se indignar, é necessário você se indignar, e é possível também você conseguir tratar com leveza e diversão alguma coisa".

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Ela cita o exemplo de um vídeo recente sobre a lista de material escolar, que viralizou justamente por expressar frustração diante de problemas estruturais que recaem sobre as famílias. "Eu toquei numa dor de quase todas as famílias. E aí foi que nem pólvora", lembra.

Política e responsabilidade pública

Ao falar de políticas públicas e da necessidade de pressionar governos e empresas, Laila destaca o cansaço de acompanhar retrocessos constantes. "Me desanima muito ver o quão que o setor privado hoje tem as políticas públicas nas mãos. E como nesse quesito a gente tem um Congresso que é extremamente antiambientalista".

Para ela, o ato de comunicar sobre políticas ambientais requer conexões do tema à qualidade de vida das pessoas.

"O nosso desafio como comunicador é conectar a pauta climática ao dia a dia das pessoas. Num país onde a gente tem pessoas que passam fome, que tem problemas de segurança pública, de insegurança alimentar, a pauta climática não é a preocupação prioritária, mas se a gente deve explicar que a pauta climática ela acentua todas as desigualdades sociais, todos os nossos desafios", explica

Laila relaciona, por exemplo, aumentos nas contas de luz e nos preços de alimentos às mudanças climáticas. "Eu acho que esse é o nosso desafio na comunicação mais popular, de repente, a gente precisa falar de clima, sem falar de clima. E para isso, precisamos ser bastante criativos".

A atriz afirma que gostaria de ver ocupantes de cargos públicos utilizando os mesmos serviços que a maioria da população. Ao ser questionada sobre qual lei implementaria se fosse presidenta do mundo, Laila não hesita: exigiria que políticos fossem obrigados a recorrer à rede de saúde estatal e matricular seus filhos em escolas mantidas pelo governo, para melhorar a qualidade desses serviços. "Eu seria uma ditadora louca", brinca.

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Atriz e ativista ambiental Laila Zaid participa do podcast Futuro Vivo, apresentado por Victor Cremasco
Foto: Futuro Vivo
Fonte: Portal Terra
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