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Atriz Denise Fraga participa do podcast Futuro Vivo  Foto: Divulgação/Futuro Vivo

Denise Fraga reflete sobre vício em telas e papel da arte na 'humanização': 'Problema não é IA, é o que você perde ao usar'

Em entrevista ao podcast Futuro Vivo, a atriz também criticou a lei que flexibiliza a legislação sobre licenciamento ambiental

Imagem: Divulgação/Futuro Vivo
  • Futuro Vivo
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19 ago 2025 - 11h59
Victor Cremasco e Denise Fraga durante o quarto episódio do podcast Futuro Vivo
Victor Cremasco e Denise Fraga durante o quarto episódio do podcast Futuro Vivo
Foto: Divulgação/Futuro Vivo

Quando estreou o Retrato Falado no início dos anos 2000, Denise Fraga, 60, encarnou histórias trágicas, cômicas e complexas na televisão. Se fosse hoje, o quadro teria mais uma camada para retratar: o impacto da tecnologia na vida humana. De lá para cá, as relações mudaram e as conexões viraram tempo de tela. No quarto episódio do podcast Futuro Vivo, que vai ao ar nesta terça-feira, 19, a atriz refletiu sobre o papel da arte em temas como meio ambiente e inteligência artificial. 

"Estamos sofrendo um processo de desumanização. Estamos sendo reformatados", disse a artista durante o bate-papo com o apresentador Victor Cremasco. Ela, que está em cartaz com a peça Eu de Você, defendeu a importância das manifestações artísticas para "quebrar" a automatização da vida e para ajudar as pessoas a pensarem mais.

O podcast conta com treze episódios e faz parte da plataforma de sustentabilidade homônima da Vivo. Os episódios são disponibilizados toda terça-feira no Terra e em plataformas de áudio (Spotify) e vídeo (YouTube). Além de Denise Fraga, também participam Carlos Nobre, Kaká Werá e Gilberto Gil

'Estamos sendo mais usados pela IA do que a usando'

Denise é uma das cocriadoras da websérie 'A Vida Convida', um projeto audiovisual em parceria com a Vivo em que a atriz sai às ruas do Brasil para convidar as pessoas a resgatarem as experiências humanas e diminuírem o tempo de tela. Ao podcast 'Futuro Vivo', ela falou sobre o impacto das novas tecnologias no dia a dia dela e da humanidade.

“Você não consegue mais lavar uma louça sem ouvir um podcast porque acha que está perdendo tempo”, critica Denise. Essa é a grande 'pegadinha'. Na verdade, o tempo da vida real é todo "perdido" rolando o feed nas redes sociais. 

A urgência em consumir informações e se conectar através das telas nunca seduziu a atriz. “Sempre tive muita resistência. Lembro quando meu irmão falava ‘Denise, que mundo você vive que não tem Orkut?’. Essa coisa fragmentada sempre me angustiou, sempre estive atrasada”, relembra.

Os filhos, de outra geração, não têm a mesma dificuldade. Mãe de Nino, de 26 anos, e Pedro, de 25, Denise conta que sempre tentou dar limites ao uso de telas em casa. “Sempre tivemos em casa uma certa lei: estamos comendo, não pode agora… É algo de não estar nas telas enquanto estamos nos relacionando”, conta. Os dois são frutos do casamento com o diretor Luiz Villaça. 

Mesmo resistente, Denise não é avessa ao uso de tecnologia, muito menos de inteligência artificial. "Estamos sendo mais usados por ela do que a usando", alerta ela, que admite fazer uso do recurso, mas com cautela. 

“Eu uso a IA, mas sou ‘jurássica’. Não entendi ainda o que o Chat GPT pode fazer por mim, quando tenho que pesquisar vou para o buscador tradicional. Tenho pena em pensar que a IA está recolhendo fragmentos de nós para se fazer, um ‘Frankestein’. Está sendo construída nessa hora em que estamos tão cheios de ódio, né?”, reflete.

Para não cair na cilada do 'vício' em telas, Denise se propõe a desafios diários. “O problema não é usar a IA ou não, é o que você perde ao usar. Eu estou fazendo exercícios para voltar a ler. Quando você vê, os livros estão se acumulando em cima da mesa e o Whatsapp te levou mais uma vez. A comunicação ficou muito banalizada”, destaca. 

Uma das tarefas que tenta fazer é observar o ambiente ao seu redor. Em vez de esperar um carro por aplicativo com os olhos vidrados na tela, ela tenta descrever o local em sua mente. "Aquilo te põe em uma presença", explica.

Denise Fraga reflete sobre vício em telas e o papel da arte na 'humanização'
Denise Fraga reflete sobre vício em telas e o papel da arte na 'humanização'
Foto: Reprodução/@denisefragaoficial/Instagram

'Esperança equilibrista' na humanidade

Atriz Denise Fraga é a convidada do 4º episódio do podcast Futuro Vivo
Atriz Denise Fraga é a convidada do 4º episódio do podcast Futuro Vivo
Foto: Divulgação/Futuro Vivo

Ao refletir sobre a humanidade, Denise tem um sentimento dúbio: "uma esperança equilibrista. Todo dia dá uma balançada", brinca, em referência à canção O Bêbado e o Equilibrista, grande sucesso de Elis Regina.

Parte dessa 'estremecida' veio recentemente, com a aprovação do PL 2159/202, que propõe mudanças na legislação sobre licenciamento ambiental, priorizando simplificar e flexibilizar o processo. O projeto foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 63 vetos. Mas, para Denise, a decisão é um retrocesso e deixa brechas para uma maior destruição ambiental.  

“O que me deu esse baque de 'desesperança' recentemente foi a aprovação do PL da Devastação. Apesar de achar que o Congresso aprovaria, eu tinha esperança de que eles tivessem vergonha, bem no ano da COP 30”, critica. A atriz diz que o mundo está em um "ponto de não retorno" em relação ao meio ambiente e cita a "irresponsabilidade".

"Isso me dá um desespero pela nossa irresponsabilidade. Tchekhov [dramaturgo], há vários anos, escreveu: 'será que os que virão depois de nós terão uma palavra boa para a gente?' Tenho a sensação de sermos irresponsáveis com nosso tempo, à medida em que estamos nessa hora crucial, nesse ponto de não retorno"

“Tem muita gente que não entende direito por que não pode desmatar. Só há vida no planeta pelo que as plantas nos dão. Esse rio de água que você bebe, pode não poder beber amanhã. Sabe a quantidade de população ribeirinha, de pescadores que não conseguem mais pescar e estão morrendo de fome? Não tem mais peixe porque o rio está cheio de mercúrio. Inacreditável”, desabafa.

Na avaliação de Denise, algumas pessoas, por priorizarem o lucro, vivem de maneira infeliz. Segundo a artista, o ganho de poder aquisitivo dá uma falsa sensação de realização, que pode ser perigosa para quem vê de fora. "Você olha um cara e pensa ‘como ele está bem, foi promovido, tem uma casa, um carro novo’. E vai ver e essa pessoa não está bem. Está tomando tarja preta, deprimido. E ele não consegue sair dali por causa dessa falta de fé na escolha própria”, argumenta.

"Acho louco termos nos acostumado com uma sociedade onde sucesso não significa felicidade. Sempre atribuímos sucesso ao reconhecimento, mas sucesso é o que se sucedeu. O que chegou ao final do que foi proposto. Em nome desse sucesso, a gente é capaz de abdicar da felicidade. Como pudemos nos acostumar que sucesso não signifique bem-estar?", questiona.

'Arte é saúde mental'

Denise Fraga
Denise Fraga
Foto: Reprodução/ Instagram: @denisefragaoficial

O fôlego para a vida pode ser retomado por meio da arte, na visão da atriz. “Vamos ao teatro, ao cinema, lermos, para recuperar nosso fascínio pela existência. Nós que inventamos esse enrosco todo, nós que fizemos esse nó”, recomenda. 

“Quando estamos ensaiando, sempre digo: ‘não precisa ter final feliz, precisa dar vontade de viver’. Porque, se o final é muito cor de rosa, dá uma desesperança porque vira uma coisa inatingível. Adoro quando vejo um filme que, mesmo em um mundo distópico, te dá vontade de botar a mão na massa”, completa. 

A relação de Denise com a arte nem sempre foi íntima. Tímida, a carioca ingressou em um curso de teatro após a insistência de um amigo, para 'matar' o tempo nas férias antes do início da faculdade de comunicação visual. A Victor Cremasco, ela lembra que a experiência foi transformadora.

“Descobri a coisa que eu mais gostava de fazer na vida. Quando eu subia no palco, era diferente para mim. Eu tinha uma voz, um lugar que me escondia porque não era mais eu, talvez. Achei um lugar de conforto no palco, mesmo sendo muito tímida", detalha. "É quase uma receita de felicidade: descobri a coisa que mais gosto de fazer na vida e pago minhas contas com isso”, complementa. 

“A arte, de toda maneira, te humaniza. O grande ingrediente dos artistas é a experiência humana e seus dilemas eternos. Um clássico vai falar de coisas que nunca conseguimos resolver: os ciúmes, um filho ingrato… Sempre será", opina.

Denise Fraga reflete sobre vício em telas e o papel da arte na 'humanização'
Denise Fraga reflete sobre vício em telas e o papel da arte na 'humanização'
Foto: Reprodução/@denisefragaoficial/Instagram

Apesar de seu 'encontro' com a arte ter sido transformador, Denise não define o início no curso de teatro como seu único divisor de águas. A maior virada de chave foi descobrir como poderia contribuir para o mundo com seu ofício. 

"Você pode se distanciar do seu coração, da sua essência, em algum momento. Em uma hora eu estava bem, fazendo sucesso, mas me perguntei ‘o que está faltando?’ e era o teatro (...) Uma das grandes funções do teatro é dar palavras para a nossa angústia”, se emociona. 

Para ela, tratar de assuntos importantes por meio da arte faz com que a sociedade saia da individualidade e perceba que os problemas são, em maioria, coletivos. 

“Achamos que o problema é nosso. Quando vamos ao teatro, vemos que o problema é de todo mundo. Você tem o mesmo problema do Chico Buarque quando compôs aquela música que você pode cantar de braços dados com ele. A arte é saúde mental. Precisamos da arte para fazer a gente se reconhecer no que a gente é”, afirma. 

Encontro Futuro Vivo

Denise Fraga é uma das convidadas do Encontro Futuro Vivo, evento que reunirá nomes como Ailton Krenak, Gilberto Gil, Carlos Nobre, Gabor Maté e Johan Rockström para refletir sobre o futuro da vida no planeta. O Encontro acontece no dia 26 de agosto no Teatro Vivo, com transmissão do Terra. 

Acesse encontrofuturovivo.com.br e inscreva-se.

Fonte: Futuro Vivo
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