Cientista Carlos Nobre alerta para urgência da ação climática: "Planeta está quase em colapso"
Pesquisador é o convidado de estreia do podcast Futuro Vivo; projeto ainda contará com o Encontro Futuro Vivo, no dia 26 de agosto
“A saúde do planeta está muito na beira de um acidente e quase que em um colapso". O alerta é do pesquisador e cientista Carlos Nobre, em declaração ao podcast Futuro Vivo, que estreou nesta terça-feira, 29. A série, apresentada por Victor Cremasco, conta com quatro episódios e faz parte da plataforma homônima da Vivo em seu pilar de sustentabilidade.
Os próximos episódios do podcast, que serão disponibilizados semanalmente toda terça no Terra e em plataformas de áudio (Spotify e Deezer) e vídeo (YouTube), terão a presença de:
- 5/08: Kaká Werá
- 12/08: Denise Fraga
- 19/08: Gilberto Gil
Nobre é doutor pelo MIT, um dos autores do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências dos Estados Unidos, e sua declaração serve como um chamado de atenção para a urgência da crise que o mundo enfrenta, marcada por eventos extremos como enchentes, incêndios, ondas de calor e secas severas.
Os riscos do aquecimento global
No podcast, Nobre compartilhou sua trajetória e a "felicidade muito grande" de ter tido, em seu doutorado no MIT, a oportunidade de trabalhar com o professor Jule Charney, um dos maiores cientistas da área de meteorologia da época.
Na década de 1970, Charney liderou um estudo pioneiro sobre o risco do aquecimento global, quando ainda nem se falava do assunto. "Em agosto de 79, ele lançou o estudo em Washington. Aí ele voltou, chamou os três alunos de doutorado dele, eu era um deles, e mostrou os resultados. Ele falou: ‘Olha, não podemos deixar o planeta chegar a 1,5 graus. É um risco enorme. Nós temos que reduzir logo as emissões’. Àquela altura, já indicava um aquecimento de 0,4 graus Celsius, e o alerta era claro."
O cientista destaca que, há mais de quatro décadas, as projeções já apontavam para consequências drásticas. "Ele até falou uma coisa assim: se chegar 1,5 graus, os furacões no sul dos Estados Unidos, no Golfo do México, eles vão atingir aquele nível chamado categoria 4 e 5, velocidade do vento acima de 200km/h”, o que se tornou uma realidade algumas décadas mais tarde.
Hoje, os sinais que o planeta têm dado, como enchentes, incêndios, ondas de calor extremo, secas e a dificuldade de respirar em várias cidades, são a confirmação de que os alertas da ciência se tornaram uma realidade inegável.
“Se nós continuarmos com o aquecimento global, que é nossa responsabilidade, não é um fenômeno natural, nós podemos chegar em 2100 com a temperatura 3 a 4 graus mais alta. Hoje nós estamos com 1,5 grau mais alto. Com 3 a 4 graus mais alto toda a região equatorial do nível do mar se torna inabitável. Em 2150, o planeta pode estar de 8 a 10 graus mais quente. Neste nível, somente no topo das montanhas mais altas, como nos Andes, Alpes, Himalaias e os Polo Norte e Sul serão habitáveis. O resto do planeta poderá ficar inabitável”, alertou o professor.
A Amazônia está na beira do ponto de não retorno. Se passar desse ponto, entra em autodegradação
Preocupação com a Amazônia
Nobre ainda explicou a recorrência recente de períodos de seca extrema na Amazônia. “O aquecimento global está causando secas recorde na Amazônia. Antes, uma seca forte acontecia uma vez a cada vinte anos. Aí, quando ela acontecia, aumentava um pouco o incêndio e a mortalidade de árvores. Mas depois tinha 20 anos para uma renovação natural. Agora, não", afirmou.
"Nós tivemos mega secas em 2005, 2010, 2015, 2016, 2023, 2024. Então isso, junto com o desmatamento, temos cerca de 18% da floresta amazônica desmatada em toda a Amazônia. No Brasil, esse número está chegando a 23%. Em outros pontos, cerca de 30% estão em diversos estágios de degradação. É uma questão muito preocupante”, explicou.
A entrevista com o professor reforça a necessidade de um diálogo contínuo e da esperança ativa, “que nasce do que a gente pode fazer e está fazendo no aqui agora”, como destacou o apresentador Victor Cremasco.
O Brasil é o país que tem a maior biodiversidade do planeta. Se a gente perder a Amazônia, nós vamos perder milhares e milhares de espécies, além de jogar 250 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera
Encontro Futuro Vivo
No dia 26 de agosto, o Encontro Futuro Vivo reunirá no Teatro Vivo, em São Paulo, cientistas, ambientalistas, artistas e influenciadores para debaterem sobre o equilíbrio entre as novas tecnologias e a reconexão com a natureza e nossa humanidade, fazendo um chamamento de mobilização coletiva pelo futuro do planeta e da sociedade.
Entre os painelistas estará o renomado cientista sueco Johan Rockström, esperado para falar sobre os limites da saúde planetária, o papel da Amazônia no enfrentamento da emergência climática e o que se espera para o futuro da Terra. Rockström também fará um debate com Carlos Nobre, mediado por Loureço Bustani.