O urbanista climático e especialista em resiliência Pedro Henrique de Christo afirma que a resiliência urbana e a participação ativa da população na agenda climática se tornaram prioridades urgentes. Segundo ele, a crise climática deixou de ser um conceito e passou a impactar diretamente as grandes metrópoles.
-
Conduzido pelo apresentador Victor Cremasco, o podcast Futuro Vivo conta com 12 episódios e faz parte da plataforma de sustentabilidade homônima da Vivo. Os episódios são disponibilizados no Terra e em plataformas de áudio (Spotify) e vídeo (YouTube). Já participaram Carlos Nobre, Kaká Werá, Gilberto Gil, Denise Fraga, Bia Saldanha, os curadores do Masp Isabella Rjeille e André Mesquita, e Ana Paula Yazbek.
“A crise climática chegou na porta da casa das pessoas, da grande população. Já sofriam as pessoas ribeirinhas e as populações indígenas que fazem um grande trabalho para a preservação do meio ambiente, mas 87% da população brasileira é urbana. Então, a gente vai ter que atacar esse problema porque é uma coisa que afeta diretamente a vida das pessoas e a gente está muito mais perto de um colapso sistêmico do que a gente imagina”, afirmou Christo.
O comentário foi feito durante sua participação no podcast Futuro Vivo, que vai ao ar nesta terça-feira, 25. O programa faz parte da plataforma de sustentabilidade homônima da Vivo. Os episódios são disponibilizados às terças-feiras no Terra e em plataformas de áudio (Spotify) e vídeo (YouTube).
Pedro Henrique destaca também que as cidades precisam ser preparadas para um futuro marcado, segundo ele, por pelo menos “50 a 100 anos a mais de fervura global”. “Tinha-se uma crença de que a conservação era a solução para a crise climática e para os problemas ambientais [...] Entretanto, a gente viu que, infelizmente, só a conservação e a regeneração hoje não causam mais impacto no clima”, refletiu.
“Não importa se plantarmos um trilhão de árvores. Não vai sugar o carbono, como alguns dizem, e o que a gente precisa é de uma transição energética imediata. Só que, mesmo que façamos a transição de forma perfeita a partir de agora, vamos precisar de pelo menos 70, 100 anos para o clima se reequilibrar e a gente poder aproveitar os benefícios de esforços muito válidos e importantíssimos de regeneração ambiental que são feitos pelo mundo. Então, é onde entra a adaptação”, pontuou Christo.
De acordo com ele, adaptação e resiliência são fundamentais para que a população e os centros urbanos suportem os efeitos da crise climática. “Se você vai intervir de forma tão grande em espaços urbanos e infraestruturas, por que não transformar esses lugares em lugares melhores? [...] É a estratégia que sintetiza todas as soluções de adaptação, de mitigação, que é a transição energética, e de integração social e econômica num pacote só”, explica.
Após Harvard, urbanista brasileiro cria projetos sociais em comunidade do Rio
Após concluir seus estudos em Harvard, Pedro Henrique decidiu voltar ao Brasil para colocar em prática o que aprendeu. Financiado pelo prêmio Appleton Fellowship, desenvolveu um laboratório de Urbanismo, Ciência, Tecnologia e Políticas Públicas no Vidigal, comunidade da Zona Sul do Rio de Janeiro.
No Futuro Vivo, ele conta que, ao lado da equipe, percorreu comunidades da América Latina para entender quais modelos de integração urbana funcionaram e quais fracassaram. Dessa pesquisa surgiu o conceito do “Ciclo da Cidade Dividida”, que, segundo ele, explica como a falta de infraestrutura gera menor acesso à educação e à saúde, reduz as oportunidades econômicas e enfraquece a presença política em áreas periféricas.
O desejo de romper esse ciclo motivou o laboratório a estruturar projetos educacionais urbanísticos na comunidade. Por meio da iniciativa, Pedro Henrique conheceu Mauro Quintanilha, músico e líder comunitário que fundou o Parque Sitiê. No espaço, mobilizaram um mutirão que retirou cerca de 16 toneladas de lixo acumulado e transformou o espaço em um jardim urbano. “Muito lindo, no coração da favela”, celebrou o urbanista.
"Vivemos em uma encruzilhada muito forte"
Em paralelo ao trabalho no Vidigal, o especialista também desenvolveu uma tecnologia de modelagem ambiental. A ideia surgiu em parceria com o ex-secretário de Planejamento Urbano de Nova Iorque, Alexandre Washburn. Inspirados pela tragédia do furacão Sandy, em 2012, eles concluíram que as simulações da época, baseadas em satélites de baixa resolução, eram insuficientes para prever os impactos reais.
O sistema de modelagem climática em 4D é capaz de mapear, com precisão, o comportamento da água na superfície e no subsolo. A equipe sempre considerou cenários extremos. Em 2019, a tecnologia foi testada em uma chuva intensa no Rio e atingiu 95% de precisão nos pontos de deslizamento.
Pedro ressalta que tecnologias com capacidade de downscaling — que traduzem modelos globais para a escala da cidade — devem ser mais valorizadas e receber investimentos. “Eles [os atuais] têm uma margem de erro muito grande, em torno de 35% a 60%, e isso é muita coisa”, pontuou.
“Você pode ver o Hurricane Helene, que ocorreu agora na Carolina do Norte (EUA) no final do ano passado, a FEMA errou em torno de 64% dos mapas de alagamento. Isso é um grande problema, primeiro, porque você coloca muitas vidas em risco, não dando os alertas corretos, os mapas de risco, e, segundo, é um grande risco para a própria economia”, disse Christo.
“Vivemos em uma encruzilhada muito forte, primeiro, para salvar vidas humanas e, segundo, para salvar nossa civilização. Porque o grande e verdadeiro maior risco da crise climática é o colapso sistêmico da civilização humana, da logística, da infraestrutura, da economia e tudo mais, e quem vai mais sofrer são as pessoas”, ressaltou.