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Brasil tem potencial para assumir liderança na produção de biocombustíveis e segredo pode estar na macaúba; conheça

Estudos se complementam ao apontar a macaúba como alternativa à escassez de biocombustíveis e ao desafio de ampliar produção sem desmatar

19 nov 2025 - 05h00
Resumo
O Brasil tem potencial para liderar a produção mundial de biocombustíveis graças à macaúba, uma planta nativa que pode ser cultivada em áreas degradadas, produz dez vezes mais óleo que a soja e é incentivada por políticas públicas e programas sustentáveis.
A macaúba é uma palmeira nativa da América Latina
A macaúba é uma palmeira nativa da América Latina
Foto: Nilton Junqueira/Embrapa

O Brasil está com a faca e o queijo na mão para assumir a liderança mundial da produção de biocombustíveis. Essa é uma forma de simplificar o que uma série de estudos tem mostrado sobre o potencial do País, que já ocupa posição muito relevante nesta indústria, sendo o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, responsável por 24% do total, segundo o Atlas dos biocombustíveis líquidos, edição 2023-2024, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). A primeira posição da lista é dos Estados Unidos, com uma margem grande de diferença, responsáveis por 42% da produção mundial.

Mas uma planta nativa da América Latina pode dar vantagem ao Brasil nesta disputa. Trata-se da macaúba, uma palmeira facilmente encontrada em quase todo o território brasileiro. Ainda assim, foi só mais recentemente que o seu potencial para produzir biocombustíveis começou a ser explorado.

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Simone Fávaro, coordenadora do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) da Macaúba pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), destaca que o plantio de macaúba para produção de biocombustíveis é tão recente que só daqui a uns cinco ou seis anos é que o país terá suas primeiras produções do tipo. É o caso da plantação de macaúba da Acelen no Brasil --a empresa de energia do fundo Mubadala anunciou investimento de R$ 12 bilhões em plantios da palmeira

Mas o que torna a macaúba tão especial?

Se o Brasil ocupa a segunda posição na produção de biocombustíveis é porque já possui boas fontes de energia, certo? Sim e não. O País, de fato, já tem uma produção bem estruturada de etanol, a partir principalmente da cana-de-açúcar, e de biodiesel, por causa da soja. A macaúba entrou no jogo quando ficou evidente a necessidade de acelerar a produção global de biocombustíveis para acompanhar o mesmo ritmo de crescimento da demanda. 

Um estudo da consultoria Bain & Company, levando em conta que todos os pactos mundiais de sustentabilidade feitos pelos países serão cumpridos e que a atual curva de crescimento da produção de biocombustíveis se manteria, concluiu que haveria um déficit de 45% no suprimento global até 2050.

“É um déficit teórico, porque, na prática, se não tem esse suprimento, a demanda não vai existir”, sinaliza Felipe Camarata, sócio da empresa de consultoria. Ou seja, sem biocombustíveis disponíveis, a tendência é que a demanda recaia sobre os combustíveis fósseis. “Simplesmente não vai ter transição energética com biocombustível se continuar nesse nível.”

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O executivo complementa que o estudo é uma provocação. “Se a gente quiser realmente que essa indústria decole, que chegue lá, a gente precisa fazer uma série de ações no lado de suprimentos”, afirma Camarata. 

É nesse cenário que a macaúba se torna ainda mais especial. Isso porque ela tem um potencial energético muito maior do que o da soja. “A macaúba produz cerca de 10 vezes mais em termos de óleo do que a soja. E é bem parecida com a palma do dendê”, explica Felipe Barcellos, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). 

A macaúba é capaz de produzir até dez vezes mais óleo que a soja
Foto: Vivian Chies/Embrapa

O dendê, citado por ele, também é abundante no Brasil, mas não é visto como a melhor opção para produção de biocombustíveis porque precisa ser plantado em regiões muito úmidas, a exemplo da Amazônia. 

Já a macaúba se adapta a mais lugares e, inclusive, faz parte de um estudo conduzido por Barcellos sobre a produção de biocombustíveis em áreas já degradadas no Brasil. A conclusão do pesquisador é que o País tem condições de mais do que dobrar a sua produção atual sem desmatar. Para isso, seria preciso utilizar áreas de pastagem pouco ou nada produtivas. 

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“O Brasil tem cerca de 100 milhões de hectares de pastos ditos degradados, que são pastos de baixo e médio vigor. Ao todo, em termos de pastos, a gente tem cerca de 160 milhões de hectares. Mas 100 milhões deles, ou seja, a grande maioria, são pastos degradados que têm índice de improdutividade ou mau uso da terra. E até chegam a emitir carbono no solo, porque o pasto degradado chega a emitir CO2”, afirma Felipe Barcellos. 

A pesquisa oferece cenários em que diferentes matérias-primas são utilizadas para produção de biocombustíveis. Em um deles, Barcellos replicou a lógica de produção atual, com as mesmas proporções de hoje, para 2050, em que o biodiesel brasileiro é oriundo basicamente da soja. 

“A gente explodiria muito o uso de pastagens porque a soja tem um outro uso, que é o uso da produção de farelo --que até é o uso principal da produção de soja. Mas em termos de produção de óleo, a soja é menos interessante porque ela é menos produtiva. Então é preciso entender, claro, quais são as espécies mais produtivas em termos de produção de óleo, ou mesmo de produção de combustível final por hectare plantado”, afirma.

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O cenário em que o menor número de hectares para plantio são necessários é o que une cana-de-açúcar e macaúba. Já considerando cenários com apenas uma cultura de plantio, a macaúba é a que precisa de menos hectares para a produção de biocombustíveis.

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O que está sendo feito para que a macaúba seja escolhida por agricultores?

Por um lado, o caminho para transformar áreas improdutivas de pastagens em plantios de macaúba ou outras matérias para produção de biocombustíveis não é exatamente fácil. Mas já há iniciativas que ajudam nessa trajetória. É o que expõe Simone Fávaro, coordenadora do Zoneamento de Risco Agrário Climático (Zarc) Macaúba.

Primeiro, ela explica que o próprio Zarc é uma espécie de política pública de incentivo ao plantio agrícola. Isso porque os Zarcs são uma ferramenta que orientam produtores rurais sobre as melhores condições para plantios, com o intuito de minimizar riscos e diminuir prejuízos, levando em conta que o produtor muitas vezes precisa de empréstimos ou seguros agrícolas. É uma política coordenada pelo Banco Central e a parte técnica é executada pela Embrapa.

“É importante você conciliar todas as condições para que você tenha uma boa chance de sucesso dessa lavoura. Por quê? Se muitos produtores pegam esse seguro que foi subsidiado --ou seja, tem dinheiro público colocado ali--, e utilizam mal esse dinheiro, é um prejuízo para os cofres brasileiros”, explica Simone.

O Zarc, então, faz um mapeamento e indica qual é a probabilidade de aquela cultura dar certo ou errado naquela condição climática. “Visando a boa conversação dos recursos públicos empregados nos modelos de seguro rural”, complementa. 

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O Zarc Macaúba foi inaugurado em 2024 e desde então oferece informações aos produtores agrícolas sobre a planta. É possível acessar detalhes sobre a macaúba pelo aplicativo Zarc Plantio Certo, que oferece indicações de datas para plantios de mais de 40 culturas agrícolas. 

Além do próprio Zarc, Simone elenca uma série de programas para agricultores que se interessarem pela produção de matéria-prima para biocombustíveis. Alguns citados por ela são: 

“A produção de macaúba se encaixa em todos esses programas”, afirma Simone. “O Estado brasileiro tem investido ao longo dos anos nesse desenvolvimento desses arcabouços legais”, complementa.

Fonte: Futuro Vivo
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