Maior evento de cidades inteligentes da Am. Latina traz perspectiva de R$1,2 bi em investimentos

Cidade CSC mostrou o potencial da tecnologia para modernizar os municípios do País

26 set 2025 - 17h02
(atualizado em 29/9/2025 às 17h31)

Gestão baseada em dados, uso do Marco Legal das Startups para buscar soluções inovadoras e fortalecimento de parcerias público-privadas para obter resultados que tragam benefícios concretos para os cidadãos. Estas são as principais tendências para as cidades inteligentes brasileiras, que abraçam tecnologia como recurso para otimizar a oferta de serviços públicos.

A avaliação é de Paula Faria, idealizadora da Plataforma Connected Smart Cities, que organiza o Cidade CSC, maior encontro de cidades inteligentes da América Latina. O evento aconteceu entre os dias 23 e 25 de setembro, na Expo Center Norte, em São Paulo, e neste ano pela primeira vez agregou quatro iniciativas diferentes, trazendo para o debate pautas de mobilidade urbana, mobilidade área e startups que desenvolvem soluções para o governo, conhecidas como govtechs.

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Dentro de uma estimativa conservadora, a partir das conexões entre representantes de prefeituras e empresas expositoras, a previsão é que o evento gere investimentos na casa de R$1,2 bilhão. "Esse é o nosso papel, atuar como ponto de partida para que essas oportunidades se transformem em projetos reais que impactam cidades em todo o Brasil", diz Paula.

Esse investimento público é facilitado pelo Marco Legal das Startups, como é conhecida uma lei que facilita a contratação de empresas que trabalham com inovação. Isso acontece, por exemplo, quando uma prefeitura busca uma solução que ainda não existe no mercado ou que seja oferecida por apenas uma companhia.

"Inovação não se contrata do mesmo jeito que se compra uma cadeira, nós precisávamos trazer mais segurança jurídica para projetos desse tipo", disse a deputada federal Tabata Amaral (PSB - SP), uma das autoras da lei, que participou de um dos painéis de discussão na quarta, dia 25.

Um dia antes, a secretária de Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, defendeu o mesmo instrumento — ela explicou que a capital fluminense aposta em desafios abertos para buscar soluções que resolvam problemas da cidade.

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"Minha dica para os administradores é: usem contratos públicos para soluções inovadoras (CPSI). É um instrumento sensacional que veio com o Marco das Startups e está totalmente regulamentado", defendeu Tatiana.

Inteligentes e presentes

Ao todo, 172 prefeitos e vice-prefeitos passaram pelo Cidade CSC e 844 cidades estiveram representadas no evento. Muitas delas buscavam ferramentas e soluções para otimizar a administração pública. Outras, apresentaram projetos inovadores que já trazem resultados.

É o caso de Santos com o Parque Palafitas, uma iniciativa de revitalização da maior favela sobre palafitas do Brasil, o Dique da Vila Gilda. "Nós construímos uma quadra sob a linha d'água com uma base de concreto, como se fosse um terminal portuário. Mas em vez de cargas e contêineres, nós estamos colocando 60 unidades habitacionais divididas em prédios de quatro andares e casas térreas, além de áreas de comércio", explicou o prefeito Rogério Santos (Republicanos). As primeiras unidades já estão próximas da finalização.

"É uma quebra de paradigma, porque no Brasil não se pode construir moradia sobre águas, e Santos consegue", afirmou o prefeito.

Para Rogério, é um exemplo dos três eixos da sustentabilidade: social com as habitações, econômico com o comércio, e ambiental. Segundo o prefeito, nas áreas onde a infraestrutura inicial já foi montada, o mangue está em processo de regeneração e muito mais saudável na comparação da vegetação próxima às palafitas da Vila Gilda.

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"O mundo está discutindo sustentabilidade e planejar cidades inteligentes é fundamental conforme discutimos como usar recursos naturais com mais eficiência", disse ele. Nessa linha, Santos também decidiu montar as unidades habitacionais com uma metodologia de pré-fabricados chamada light wood frame, um sistema multicamadas que utiliza madeira como elemento principal.

Produzido pela Tecverde, o método foi utilizado na construção de mais de 500 unidades habitacionais em São Sebastião, após às chuvas que causaram deslizamentos em 2023.

Além de ágil, a abordagem simplifica a construção em locais de difícil acesso, como ilhas, explicou Thiago Meneghati, gestor comercial da empresa.

"Já chega pronto para montar e causa um impacto menor ambiental muito menor", disse Thiago. "Se você pensar que hoje a construção civil é um dos principais vilões na emissão de gases do efeito estufa, o light wood frame traz uma redução grande na pegada de carbono."

Inovação conectada

Distribuídos pelo pavilhão da Expo Norte, os estandes de 106 expositores dão uma ideia da diversidade de ferramentas diferentes que podem ser consideradas quando se discute uma cidade inteligente. De ônibus elétricos à drones, de semáforos equipados com inteligência artificial (IA) à mapas 3D que permitem modelar cenários diversos para uma cidade a partir da coleta de dados.

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Estes últimos são conhecidos como digital twins e ajudam na análise de risco e tomadas de decisão por parte dos gestores. "Nós chamamos isso de location intelligence, uma plataforma que agrega diferentes dados atrelados às suas coordenadas geográficas", disse Paolo Diber, da Imagem Geossistemas.

Parece simples, mas segundo Vitor Zanetti, especialista da Imagem, há dificuldade para consolidar este conceito mesmo entre profissionais de tecnologia. "Eu converso com pessoas que não conseguem ver esses dados como algo espacial. Mas se aconteceu é espacial por natureza, tem latitude e longitude", afirmou. Visualizar esse conjunto de informações dessa forma auxilia a tomada de decisões baseada em dados - uma das tendências apontadas por Paula Faria, idealizadora do evento.

Claro, não basta a plataforma, é preciso que os gestores estejam dispostos a utilizá-las de forma adequada — câmeras, por exemplo, a coqueluche de administradores públicos quando se fala em segurança pública.

"Todo mundo chega aqui atrás de câmeras e eu explico que mais importante que a tecnologia é a metodologia", afirmou Carlos Avila, da Sentry, empresa brasileira que desenvolve plataformas para gerenciar imagens obtidas por câmeras de segurança. Hoje, a Sentry tem doze mil câmeras interligadas no país.

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Carlos explica seu argumento com o uso dos recursos de identificação automática de placas, muito úteis para achar carros roubados. "Recuperar carro roubado é enxugar gelo", disse. "O importante é interligar diferentes prefeituras e órgãos para que atuem com inteligência e reduzam esse tipo de crime com base no sistema."

Aos poucos, as cidades brasileiras têm feito isso. Durante o Cidade CSC, diversos prêmios foram anunciados, que reconheceram os esforços de 135 municípios.

E quando as peças se encaixam os benefícios podem evitar a dor de cabeça de muita gente. No evento, o Grupo Pumatronix, fabricante nacional de empresas para inteligência no trânsito, apresentou um projeto piloto de semáforos inteligentes desenvolvido em Uberaba. Em um cruzamento, quatro câmeras e um controlador semafórico foram instalados com o objetivo de identificar fluxos do trânsito, gerar informações e melhorar a fluidez.

"Se há muito tráfego em uma vida, o verde é prolongado. Quando o fluxo diminui, o vermelho é antecipado", disse Sylvio Calixto, CEO do Grupo. Em Uberaba, o projeto foi lançado há poucas semanas e está em teste. Em São José dos Pinhais, no Paraná, uma iniciativa semelhante registrou uma melhora de 30% na fluidez do trânsito.

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Para quem deixava a Expo Center na noite da quinta-feira e enfrentava o trânsito nas regiões vizinhas para chega ou deixar o local, um sistema desse tipo seria um sonho. Quem sabe um dia.

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