Sensores inteligentes, sistemas de transmissão de dados, plataformas de controle e um desafio gigantesco: interligar todos esses pontos para dar mais inteligência à administração pública municipal. Trata-se de um consenso para representantes de empresas de tecnologia com experiência na prestação de diferentes serviços para municípios brasileiros que participaram do Cidade CSC, maior evento de cidades inteligentes da América Latina.
Durante o painel 'Proteção urbana inteligente: integração entre segurança física e digital', este desafio apareceu diversas vezes, um exemplo do quanto ele é recorrente. Solucioná-lo, no entanto, vale a pena. Um exemplo vem de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, segunda cidade no Brasil a receber o selo de smart city, que envolve a certificação com as normas ISO 37122 e 37123.
Por lá, uma das consequências da integração de sistemas é uma espécie de cinturão de câmeras de monitoramento com capacidades de detecção facial e de placas instaladas nas estradas do perímetro do município. Os dispositivos são integrados à diversos sistemas e disparam alertas quando identificam um carro procurado, por exemplo.
Foi o que aconteceu recentemente, segundo Giovani Varone, secretário adjunto de Tecnologia, Inovação e Projetos da cidade. "Um carro foi roubado em São José dos Campos, município vizinho, e nós fomos capazes de recuperá-lo em quarenta minutos, antes mesmo que chegasse na zona urbana", contou.
Hoje, a tomada de decisões de Pindamonhangaba é principalmente feita a partir da análise de dados, com o objetivo de mitigar riscos e agir de forma preventiva e não reativa. De acordo com Giovani, a população consegue perceber os benefícios, especialmente em termos de eficiência.
Na cidade, há um espaço com oferta de estações de trabalho que podem ser utilizadas por qualquer pessoa num modelo de coworking. Para fazer isso, é necessário fazer um pedido por meio de protocolo digital. "Em alguns casos, nós conseguimos liberar esse acesso em oito minutos", disse Giovani. São oito minutos para que um secretário assine uma autorização. "É algo fantástico, um pequeno detalhe que transmite lá na ponta o que temos ganhado em agilidade e segurança."
Segurança e integração
"Sem dúvida, secretarias que não conversam entre si". Alex Sato não titubeia ao ser perguntado sobre a maior dificuldade de oferecer serviços integrados para cidades. Gerente de engenharia da Splice, Sato tem experiência em áreas como mobilidade, segurança e iluminação. "Só aí são três secretarias, que muitas vezes não conversam entre si, não tem integração."
A isso se soma a dificuldade de integrar sistemas tecnológicos de diversos fabricantes ou desenvolvimento próprio. Para que o quebra-cabeça faça sentido, é necessário que as peças ofereçam protocolos abertos, APIs e conectores de forma a permitir que as soluções conversem entre si.
Para Daniel Aragão, diretor de cibersegurança da NEC na América Latina, quatro pontos fundamentais para criar um modelo integrado de tecnologia que pode trazer benefícios concretos para a administração municipal. O primeiro são os sensores na ponta, de câmeras à sinais de trânsito, que enviam sinais para uma plataforma capaz de unificar todas essas informações — o segundo pilar.
O terceiro é uma camada que permite transformar esse conjunto de dados em medidas acionáveis, como o disparo de alertas para a polícia ou defesa civil. Por fim, o quarto pilar é uma camada de segurança que envolve todo esse esquema e protege cada elo do sistema como um todo.
Como os próprios especialistas reconhecem, pode parecer paranoia, mas não é impossível pensar em um cenário onde um atacante poderia acessar sensores vulneráveis de uma rede de iluminação pública e apagar uma cidade inteira. Ou fazer todos os sinais de trânsito ficarem vermelhos ao mesmo tempo. Pior ainda: verdes ao mesmo tempo.
"Nós devemos pensar em proteção em múltiplas camadas, uma visão bem ampla, manter uma proteção para evitar ataques externos e internos e monitorando tudo que acontece para garantir que as ações são legítimas", afirmou Daniel.
Futuro mais conectado
Nos próximos anos, a expectativa é que a conectividade e facilidade de integração melhorem. Ainda assim, outros desafios continuam postos. Alex Sato, da Splice, chama atenção para a utilização mais elegante do espaço público, concentrando diversos sensores num mesmo dispositivo ou aproveitando estruturas físicas já existentes para fazer isso, de forma a diminuir a poluição visual.
Além disso, há um consenso sobre como avanços em inteligência artificial podem auxiliar na tomada de decisões com análises preditivas mais eficientes.
Thalles Said, diretor de negócios públicos do Grupo Satis, que auxilia a prefeitura de Pindamonhangaba no uso de câmeras de segurança inteligentes, vai além. "Para mim, as câmeras vão acionar tudo sozinhas. Vamos ter semáforos que abrem e fecham sozinhos, isso já taí. Só precisamos ser capazes de implementar no Brasil."