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MST se reúne com papa e ataca "tentativa de golpe" no Brasil

Da Bolívia, onde se reúne amanhã com o papa e movimentos, Stédile classificou tese de impeachment de "irresponsável" e "antidemocrática"

8 jul 2015 - 08h01
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Representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e de outros movimentos sociais de 40 países participam de um encontro com o papa Francisco nesta quinta-feira em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para discutir problemas ligados a terra, trabalho e moradia. Mesmo não constando na agenda oficial, a conjuntura de instabilidade econômica e política do Brasil também pode nortear o encontro com o pontífice – que já havia recebido representantes dos grupos no Vaticano em outubro do ano passado.

“A pauta com o papa é mais geral, mas sabemos que ele está preocupado com a conjuntura política dos países com relevância mundial, como o Brasil. E acredito que os problemas que enfrentamos no País são decorrentes da crise geral no mundo, seja econômico, seja de valores, mas que também afeta o cenário brasileiro”, afirmou o coordenador do MST, João Pedro Stédile, 60 anos.

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O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile
O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile
Foto: Facebook / Divulgação

Stédile falou com o Terra por telefone – ele já está na cidade boliviana junto às 300 delegações de movimentos sociais de 40 países, a maioria, latino-americanos além de representantes da Ásia e da África. O encontro mundial dos movimentos começou nessa terça e termina amanhã.

De acordo com o coordenador do MST, o papa receberá das delegações um documento com a análise da situação de vários tipos de problema que afeta os povos mais pobres em todos os continentes. Conforme Stédile, o relatório “procura identificar as causas desses problemas e, por último, assume o compromisso coletivo de resolução deles”. A ideia é que o líder católico apresente as propostas na Assembleia das Nações Unidas de Nova Iorque e em outros foros internacionais.

“Tanto nos representantes quanto no documento, o espírito é o mesmo – o de que a discussão dos problemas da vida desses povos passa pelas questões de terra, em uma concepção mais ampla de território; trabalho, como a precarização e a terceirização dele, bem como o não cumprimento das leis trabalhistas; e moradia, o que engloba não apenas não só o direito à habitação, como também a violência nos bairros e as formas de termos uma cidade mais humana”, explicou Stédile. “Agregamos um outro tema que é o da soberania pela paz – pelo qual condenamos todas as guerras e bases militares no exterior”, complementou.

Conforme o dirigente do MST, a facilidade de transporte por via terrestre facilitou que o encontro de amanhã o seja mais volumoso que o de outubro, na Europa, quando estiveram com o pontífice 150 representantes de movimentos populares do mundo todo.

“Naquele encontro, se estabeleceu uma espécie de ponte permanente com Francisco, que demonstrou generosidade: foi a primeira vez na história da Igreja católica que vimos um papa interessado em ouvir o que movimentos populares têm a dizer sobre realidade de seus problemas”, definiu Stédile. Daquele primeiro encontro, disse, tirou-se uma comissão provisória para analisar temáticas de problemas sociais e propostas para enfrentá-los.

Stédile (em pé, na foto), sobre boatos de impeachment de Dilma: "Todos os mandatos têm que ser respeitados – caso contrário, poderia haver também o impeachment dos governadores Beto Richa e Geraldo Alckmin"
Stédile (em pé, na foto), sobre boatos de impeachment de Dilma: "Todos os mandatos têm que ser respeitados – caso contrário, poderia haver também o impeachment dos governadores Beto Richa e Geraldo Alckmin"
Foto: MST / Divulgação

MST vê impeachment como “tentativa de golpe”

Sobre as especulações de que partidos da oposição não descartam pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Stédile foi taxativo: não apenas o MST, como outros movimentos sociais brasileiros condenam o que chamam de “tentativa de golpe”.

“Temos feito reuniões e plenárias e condenamos veementemente qualquer tentativa de golpe ou interrupção de mandato. A democracia tem suas regras, embora não gostemos de algumas delas, como, por exemplo, o financiamento privado de campanhas. Mas todos os mandatos têm que ser respeitados – caso contrário, poderia haver também o impeachment dos governadores Beto Richa e Geraldo Alckmin (ambos do PSDB, respectivamente, do Paraná e de são Paulo), e assim por diante. Esses setores da direita brasileira que continuam levantando tese de golpe são irresponsáveis e antidemocráticos; propomos um grande debate para termos uma política séria, não essa vergonha que há hoje, mas aí precisaríamos de uma reforma política que devolvesse ao povo o direito de escolher seus representantes sem financiamento privado”, defendeu.

Encontro mundial de movimentos populares em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, reúne delegações de 40 países
Encontro mundial de movimentos populares em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, reúne delegações de 40 países
Foto: MST / Divulgação

Indagado se o MST e outros movimentos se articulam para uma frente ampla de esquerda no País, Stédile admitiu que isso está em andamento.

“São vários setores se associando e se articulando a nós para uma primeira frente dos movimentos de massa; a ideia é que ela faça lutas de massa pelos nossos direitos. Em outro momento, em uma frente de esquerda mais política, queremos uma reforma política que discuta um projeto de longo prazo que nos possibilitasse também sair da crise econômica e social –precisamos debater com setores da sociedade um projeto que garanta a defesa dos direitos dos trabalhadores”, afirmou.

Se o PT participaria dessa frente em articulação? “O PT é uma das forças populares; a maioria das correntes do PT tem essa vontade de participar, mas a crise institucional atual tirou deles a inciativa. Temos mais de 120 movimentos dispostos a agir”, encerrou Stédile.

Além dos movimentos sociais, o encontro com o papa Francisco amanhã terá também o presidente boliviano, Evo Morales, entre os participantes.

Semanas atrás, o papa sinalizou positivamente a movimentos como o dos Sem Terra ao condenar a grilagem de terras em países pobres por empresas multinacionais, além de defender o apoio à agricultura familiar de subsistência.

Ano passado, no primeiro encontro com os movimentos populares, o pontífice defendeu a realização de reformas agrárias ao considerá-las, “além de uma necessidade política, uma obrigação moral". 

Fonte: Terra
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