G20 na África do Sul aprova declaração conjunta apesar de divergências e ausência dos EUA
Apesar do boicote dos Estados Unidos, uma declaração conjunta foi adotada pelos Estados do G20 em Joanesburgo já neste sábado (22), dia da abertura da reunião de cúpula. O texto de cerca de trinta páginas pede "uma paz justa" e "duradoura" na Ucrânia, mas também no Sudão, na República Democrática do Congo e nos territórios palestinos ocupados.
Valentin Hugues e Alexis Bédu, correspondente e enviado especial da RFI em Joanesburgo
Mal havia começado, a presidência sul-africana do G20 anunciou que uma declaração conjunta já havia sido adotada e que os chefes de Estado iriam simplesmente reafirmar seus compromissos. Esse era um dos objetivos prioritários da África do Sul, país anfitrião, para fazer deste primeiro encontro dos chefes de Estado das maiores economias do mundo no continente africano um sucesso.
O texto é composto por 122 pontos, às vezes bastante vagos, com, em cada linha, a marca da filosofia Ubuntu, conceito sul-africano que destaca a interdependência de todos os seres humanos e, portanto, das nações. No documento, os signatários insistem fortemente em um ponto: o multilateralismo sobrevive apesar das poderosas tensões internacionais.
"Esta declaração obviamente foi alvo de longos debates por parte de todos os países, para finalmente ser adotada esta manhã. Não voltaremos atrás e ela não será rediscutida, vamos seguir em frente", explicou Vincent Magwenya, porta-voz da presidência. "Trata-se do fruto de um trabalho de um ano, não apenas por parte da África do Sul, mas também de todos os países envolvidos no processo", declarou.
"É uma grande vitória para o multilateralismo, assim como para os países do Sul e para o nosso continente. Porque diferentes pontos desta declaração colocam a África no centro do diálogo mundial sobre o desenvolvimento econômico, bem como sobre questões-chave como clima, resiliência, dívida e sustentabilidade. São questões essenciais para o nosso continente, e elas encontraram sua expressão nesta declaração", acrescentou.
Proteger as terras raras
Entre os pontos levantados, o G20 pede a proteção do fornecimento de minerais estratégicos, indispensáveis para a transição energética. "Buscamos reforçar a resistência da cadeia de valor dos minerais críticos às tensões geopolíticas, às medidas comerciais unilaterais em violação às regras da OMC, às pandemias e às catástrofes naturais", listam os dirigentes do G20, em uma referência direta à guerra comercial entre Washington e Pequim.
Visada pelas tarifas americanas, a China não hesitou em usar seu quase monopólio sobre as reservas e o refino das terras raras como um poderoso instrumento de negociação. Mas foram os industriais do mundo inteiro que se viram privados de um recurso indispensável à maioria das tecnologias de ponta. Ao contrário dos Estados Unidos, a China estava representada em Joanesburgo pelo seu primeiro-ministro.
Ao assinar esta declaração, Pequim reafirma, portanto, seu desejo de se inscrever em uma abordagem multilateral, em oposição à política de Donald Trump. Mas a iniciativa liderada pela presidência sul-africana não é completamente desinteressada: estima-se que 30% das reservas de minerais críticos estejam nos subsolos do país.
Líderes menos otimistas
O anfitrião da cúpula, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, mostrou-se mais positivo, assegurando que o G20 continua sendo um símbolo do "valor" do multilateralismo para resolver os desafios mundiais. "Os desafios que enfrentamos só podem ser resolvidos por meio da cooperação, da colaboração e das parcerias", afirmou. Mas os demais líderes se mostraram menos otimistas.
"Temos muita dificuldade para resolver, em torno desta mesa [...] as grandes crises internacionais", declarou o presidente francês Emmanuel Macron. "Vemos claramente as dificuldades que temos na ordem internacional para gerir os conflitos [...], ter uma mesma visão, ou seja, respeitar a Carta das Nações Unidas, apoiar a soberania internacional. Vemos que às vezes existem dois pesos e duas medidas em torno da mesa sobre um ou outro assunto", destacou o presidente francês durante uma coletiva de imprensa.
"Não há dúvida de que o caminho à frente será difícil", reforçou o primeiro-ministro britânico Keir Starmer. Acima deste texto e deste G20 pairam interesses contrários. Assim resume o primeiro-ministro chinês Li Qiang, ao destacar que "o unilateralismo e o protecionismo são onipresentes".
África do Sul não transmitirá a presidência do G20 a um responsável da embaixada americana
O presidente americano se recusou a comparecer à cúpula e a enviar um membro de sua administração, indicando que o encarregado de negócios da embaixada americana na África do Sul viria para a passagem da presidência de 2026 do grupo que reúne as principais economias mundiais, que cabe a Washington.
No entanto, o presidente Ramaphosa avisou que "não entregará (a presidência) ao encarregado de negócios dos Estados Unidos", declarou à imprensa o ministro sul-africano das Relações Exteriores Ronald Lamola. "Os Estados Unidos são um membro do G20 e, se quiserem ser representados, podem sempre enviar quem quer que seja de nível apropriado", acrescentou, seja o chefe de Estado, um ministro ou um "enviado especial designado pelo presidente". Caso contrário, uma passagem poderia ocorrer em locais oficiais, entre responsáveis de mesmo nível, precisou.