Para conter tráfico e avanço da extrema direita, Macron propõe multa de R$ 3 mil para usuários de drogas
O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que a multa para consumidores de drogas passará de € 200 (R$ 1.293) para € 500 (cerca de R$ 3.230). Criada em 2019 para desafogar os tribunais, a medida já soma 200 mil autuações em 2024 e tem como alvo adultos de até 45 anos.
"É preciso atingir o bolso [dos consumidores], porque consumir drogas não é brincadeira", disse o presidente francês. A medida permite que a multa seja aplicada diretamente pela polícia, sem necessidade de julgamento. Seis anos depois, já se tornou uma das mais utilizadas no país: em 2024, foram registradas cerca de 500 mil multas desse tipo, sendo 200 mil relacionadas ao consumo ilícito de entorpecentes. O uso de drogas, ao lado da falta de seguro de carros, é o delito que mais gera multas imediatas na França.
Os departamentos franceses que concentram grandes cidades — como Île-de-France (região de Paris), Bouches-du-Rhône (onde fica Marselha, no sul), Ille-et-Vilaine e Rhône (Lyon, no leste) — são justamente os que registraram maior aumento nos casos de consumo de drogas nos últimos seis anos.
Desde que a multa passou a ser aplicada diretamente, sem passar por um juiz, o perfil dos autuados também mudou. A participação de menores de idade, que não podem ser alvo desse tipo de sanção, caiu significativamente. Em contrapartida, aumentou a proporção de adultos com menos de 45 anos, que hoje representam 90% das pessoas multadas por consumo de drogas.
Durante a visita, Macron também prestou homenagem a Mehdi Kessaci, assassinado em novembro aos 20 anos. Ele era irmão de Amine, militante engajado contra o poder dos traficantes. O crime chocou a cidade, já acostumada à violência ligada ao tráfico, embora o número de mortos venha diminuindo: foram 17 neste ano no departamento, contra 24 em 2024 e 50 em 2023.
Disputa eleitoral em Marselha
Ao adotar a medida, Macron busca dar uma resposta política ao clima de indignação em Marselha, onde a insegurança e o tráfico são temas centrais do debate público e vêm sendo explorados pela extrema direita como bandeira eleitoral. O candidato do partido Reunião Nacional, Franck Allisio, está praticamente empatado com o atual prefeito, Benoît Payan, de centro-esquerda, nas pesquisas de intenção de voto para as eleições municipais do ano que vem.
Para Payan, "a decisão não acabará com o tráfico". Ele pediu mais investimentos em serviços públicos nos bairros pobres, enquanto Amine Kessaci defendeu a criação de uma "convenção cidadã contra o narcotráfico" para dar voz aos moradores. Já o candidato de extrema direita concordou que o aumento do valor da multa é uma boa medida.
Cooperação internacional
O presidente se encontrou ainda com a mãe de Socayna, estudante morta por uma bala perdida em 2023, e prometeu "guerra contra redes [do crime organizado] que matam jovens inocentes", garantindo que "não há chance de que elas ganhem". Ele afirmou que pretende buscar cooperação internacional para prender chefes de rede e confiscar seus bens, citando países onde traficantes franceses obtiveram refúgio.
No domingo, Macron viajará aos Emirados Árabes Unidos para celebrar o Natal com tropas francesas, país apontado pela Justiça como reduto de grandes narcotraficantes. A visita do presidente à cidade terminou com a inauguração da ampliação da prisão das Baumettes e o lançamento das obras da Linha Nova Provence-Côte d'Azur, que prevê a reconfiguração da rede ferroviária regional e a ampliação da estação Saint-Charles, em Marselha, com investimento de € 3,6 bilhões.
Macron e Marselha
Ao longo de seus dois mandatos, Macron fez grandes anúncios e várias visitas oficiais à cidade. Em 2021, lançou um plano de modernização de Marselha, com investimentos de € 5 bilhões para reduzir desigualdades, reformar escolas e reforçar a segurança. Ele retornou diversas vezes à cidade para acompanhar as obras.
Marselha também foi escolhida para eventos simbólicos de Macron, como a passagem da tocha olímpica em 2024 e encontros com líderes internacionais, reforçando o peso político e cultural da cidade para o presidente francês.
Além da política, Macron cultiva uma ligação afetiva com o futebol local. Torcedor declarado do Olympique de Marseille, já comentou publicamente sobre temporadas e contratações do clube, elogiando o desempenho e demonstrando confiança no futuro da equipe. Em 2024, chegou a tentar convencer Dimitri Payet, ídolo do OM, a retornar ao Vélodrome, estádio do clube, durante encontro no Brasil.
Com agências