França e Rússia ensaiam retomada de diálogo sobre a Ucrânia em meio a impasse nas negociações de paz
Emmanuel Macron quer voltar a conversar diretamente com Vladimir Putin para negociar a paz na Ucrânia. A proposta foi aceita pelo presidente russo. A iniciativa do presidente francês, analisada pela imprensa francesa desta segunda-feira (22), ocorre em um momento de intensos esforços diplomáticos para encerrar o conflito que já dura quase quatro anos entre Moscou e Kiev. Apesar das negociações de paz, a Rússia continua suas incursões na fronteira norte.
Representantes de alto escalão da Ucrânia, da Rússia e de aliados europeus de Kiev passaram os últimos três dias em Miami, na Flórida, em uma série de conversas separadas organizadas pelos Estados Unidos. As discussões foram consideradas "produtivas e construtivas", segundo comunicado conjunto dos enviados especiais americano Steve Witkoff e ucraniano Roustem Oumerov, embora não tenham alcançado avanços concretos.
As negociações entram em uma fase difícil e continuam emperradas nas questões territoriais, aponta o jornal Le Monde. Por isso, a hipótese de Emmanuel Macron voltar a conversar diretamente com Putin volta à tona, num momento em que os esforços de mediação da Casa Branca entre Ucrânia e Rússia permanecem complexos, acredita o jornal.
Os contatos diretos entre Moscou e as capitais europeias ocorreriam após quase quatro anos de ruptura diplomática devido à invasão russa da Ucrânia. "Por que Macron quer voltar a falar com Putin?", questiona Le Figaro. "O presidente francês quer que a voz da Europa seja levada em conta", responde o jornal conservador.
Macron e Putin não se falam desde julho
A proposta de diálogo com o presidente russo foi feita por Macron na última sexta-feira (19), informa o Le Parisien. Os dois líderes não se falam desde julho. A presidência francesa argumentou que "à medida que a perspectiva de um cessar-fogo e de uma negociação de paz se torna mais concreta, volta a ser útil falar com Putin", detalha o diário.
Todos os jornais destacam que o presidente russo aceitou a proposta e disse estar "pronto para o diálogo" com Emmanuel Macron, segundo informação do Kremlin. O Palácio do Eliseu considerou "bem-vinda a resposta favorável" à iniciativa do presidente francês, escreve o jornal Les Echos. A presidência francesa acrescentou que decidirá "nos próximos dias sobre a melhor forma de proceder" para a retomada do diálogo.
Até poucos dias atrás, Vladimir Putin não aceitava a participação dos europeus nas negociações. Essa mudança de atitude foi iniciada na rodada de Miami, que contou com representantes da França, da Alemanha e do Reino Unido. Isso se deve, na opinião do Le Parisien, ao fato de a União Europeia ter decidido não usar os ativos russos congelados no bloco para financiar a ajuda de € 90 bilhões à Ucrânia, decidida na cúpula da UE de quinta-feira.
Rússia continua incursões na fronteira norte
No terreno, um eventual cessar-fogo parece muito distante. Nos últimos dias, a Rússia multiplicou as incursões nas regiões fronteiriças de Kharkiv e Sumy, em zonas ditas cinzentas, onde nem Moscou nem Kiev têm realmente o controle.
De acordo com observadores internacionais, o objetivo dessas operações muito localizadas parece ser promover a ideia de um colapso da frente norte ucraniana, a fim de pressionar Kiev a aceitar as exigências russas nas negociações.
Na região de Sumy, após as incursões, Kiev também denuncia a deportação de mais de cinquenta habitantes da aldeia fronteiriça de Hrabovske, levados à força para um campo de filtragem russo, onde todos os ucranianos são longamente interrogados, muitas vezes torturados se não jurarem lealdade a Moscou, e depois deportados para um campo de trabalho em território russo ou ocupado. Como qualquer deslocamento forçado de população constitui uma violação do direito internacional, a Ucrânia apela, mais uma vez, aos seus aliados e às organizações não governamentais de defesa dos direitos humanos para reagirem.