Bispos nomeados pelo papa Leão 14 criticam repressão de Trump aos imigrantes
A maioria das nomeações do papa Leão 14 para bispos católicos nos Estados Unidos tem pedido um melhor tratamento dos imigrantes no país, uma tendência que pode moldar a forma como a Igreja nacional responde às políticas anti-imigração controversas do governo Trump.
Pelo menos dez das 13 nomeações feitas até o momento por Leão -- incluindo o novo arcebispo de Nova York, anunciado na quinta-feira para substituir o proeminente cardeal conservador Timothy Dolan -- se manifestaram publicamente sobre o assunto.
Em declarações diversas, alguns classificaram as políticas de Trump como cruéis. Outros instaram o governo a usar o devido processo legal antes de deportar imigrantes.
Um dos conselheiros norte-americanos mais próximos de Leão 14 disse à Reuters que as nomeações do papa mostram que o tratamento dado aos imigrantes agora faz parte integrante da posição da Igreja de que a vida é sagrada desde a concepção até a morte, um dos ensinamentos mais fortes da denominação, que conta com 1,4 bilhão de membros.
"Isso sinaliza um amadurecimento da nossa compreensão do que significa ser pró-vida", disse o cardeal de Chicago, Blase Cupich, que faz parte de um escritório do Vaticano que assessora Leão 14 na escolha de padres católicos para o cargo de bispo.
ENSINAMENTOS PRÓ-VIDA
Durante décadas, a agenda pró-vida dos bispos dos EUA concentrou-se em acabar com o aborto legal no país, com sua conferência nacional apoiando uma marcha anual em Washington, DC, e fazendo lobby para revogar a decisão da Suprema Corte de 1973, Roe v. Wade, agora anulada.
Em setembro, Leão pareceu ampliar o escopo da defesa da vida ao questionar se as políticas do presidente dos EUA, Donald Trump, estavam de acordo com os ensinamentos da Igreja, provocando uma forte reação negativa de alguns católicos conservadores proeminentes.
"Alguém que diz ser contra o aborto, mas concordar com o tratamento desumano dado aos imigrantes nos Estados Unidos, não sei se isso é ser pró-vida", disse o papa em resposta às perguntas dos jornalistas do lado de fora de sua residência em Castel Gandolfo, na Itália.
Nos seus primeiros sete meses como papa, Leão 14 nomeou novos bispos católicos em cidades por todos os Estados Unidos, de San Diego a Austin e Pittsburgh.
O bispo Ronald Hicks, de 58 anos, nomeado por Leão na quinta-feira para substituir Dolan em Nova York, em uma reformulação da liderança, fez seus primeiros comentários em espanhol naquele dia em uma coletiva de imprensa sobre sua nomeação, antes de mudar para o inglês.
Hicks, que liderará 2,8 milhões de católicos em Nova York, é um ex-missionário em El Salvador. Ele reiterou um apoio anterior a uma declaração de novembro da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, que condenava a repressão à imigração promovida por Trump.
'LEGADO MAIS DURADOURO' DOS PAPAS
Como os bispos católicos normalmente só se aposentam por motivos de saúde ou idade, podendo servir até os 80 anos, espera-se que muitos dos novos bispos nomeados por Leão 14 permaneçam em seus cargos por décadas.
"Certamente, o legado mais duradouro de qualquer papa são as nomeações episcopais que ele faz", disse Natalia Imperatori-Lee, especialista em Igreja nos EUA e professora da Universidade Fordham. "Cada nomeação é importante e cada uma tem um significado."
Trump, que certa vez chamou o falecido papa Francisco de "desrespeitoso" por criticar as políticas de imigração do presidente, não respondeu diretamente às críticas de Leão.
A repressão do governo incluiu o envio de tropas da Guarda Nacional para cidades em todo o país e batidas de agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em locais de trabalho, empresas e ruas da cidade.
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, um convertido ao catolicismo, disse ao veículo de direita Breitbart em novembro que estava ciente dos comentários de Leão e afirmou que as políticas do governo eram humanitárias.
"Toda nação tem o direito de controlar suas fronteiras", disse Vance.
BISPOS PARTICIPAM DE PROTESTOS
Quatro dos escolhidos por Leão para bispos nos EUA são imigrantes. Um quinto nasceu no Texas, mas passou a maior parte da infância no México.
O bispo de San Diego, Michael Pham, um ex-refugiado vietnamita nomeado por Leão em maio, acompanhou solicitantes de asilo ao tribunal, numa tentativa de impedir que agentes do ICE os prendessem enquanto compareciam às suas audiências.
O bispo Ramon Bejarano, que cresceu em Chihuahua, no México, e em breve liderará a Igreja em Monterey, na Califórnia, participou de um protesto em fevereiro com milhares de pessoas no centro de San Diego contra a repressão à imigração.
O bispo de Pittsburgh, Mark Eckman, nomeado por Leão em junho, classificou as políticas de imigração como "cruéis e desumanas" em uma carta aberta de novembro.
Imperatori-Lee disse que o papa "está colocando em prática o que o Evangelho nos convida a fazer, ao nomear homens que... defenderam com veemência os imigrantes e se posicionaram em defesa da dignidade humana".