Macron comemora adiamento do acordo UE-Mercosul, mas risco de isolamento cresce na Europa
O adiamento da assinatura do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul para janeiro, anunciado na noite de quinta-feira (18) pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, após um dia de protestos de agricultores em Bruxelas, expôs divisões internas no bloco e abriu espaço para novas exigências de França e Itália, apontam os jornais franceses.
A França mantém posição firme contra o texto atual, amplamente rejeitado pelos produtores agrícolas, e conseguiu formar uma minoria de bloqueio, destaca La Croix. O adiamento é visto como um revés para a Comissão Europeia e para países como Alemanha e Espanha, que pressionavam por uma assinatura imediata.
A Itália surpreendeu ao se alinhar à França, exigindo garantias de reciprocidade para o setor agrícola, informa Le Figaro. Emmanuel Macron comemorou o adiamento e pediu que o texto "mude de natureza", segundo o diário conservador. O presidente francês quer cláusulas de salvaguarda, regras de reciprocidade e controles sanitários para proteger agricultores europeus.
Como a França, a Itália exige compromissos por escrito dos países do Mercosul, juridicamente vinculativos, para evitar práticas proibidas na UE, como uso de antibióticos, hormônios ou pesticidas. Apesar do bloqueio, Roma considera a expansão dos acordos de livre comércio uma prioridade estratégica, especialmente diante do aumento das tarifas pelos EUA.
O Libération lembra que o presidente Lula esperava concluir o acordo na cúpula do Mercosul, neste sábado em Foz do Iguaçu, mas aceitou o adiamento a pedido da primeira-ministra italiana. Para o Les Echos, Giorgia Meloni quer tempo para explicar os benefícios do acordo ao Parlamento e à opinião pública.
Macron é criticado
Mesmo assim, resistências persistem. O adiamento dá um mês para negociar garantias adicionais, mas não resolve a oposição estrutural do setor agrícola francês. O principal sindicato agrícola, FNSEA, considera a medida insuficiente e mantém oposição total. Eurodeputados também planejam recorrer à Corte de Justiça para verificar compatibilidade com tratados da UE, antecipa o jornal econômico.
O Libération critica Macron, dizendo que ele sabota sua herança europeia, e avalia que o presidente francês pode acabar isolado no bloco. Já Le Figaro alerta que a Europa, dividida, tem dificuldade para definir uma estratégia comum diante de potências hostis. O adiamento, segundo o jornal, dá razão a Donald Trump, que afirmou recentemente ao Politico que "os europeus falam, mas não produzem nada".
Negociado há 25 anos, o acordo reduziria 90% das tarifas alfandegárias entre a União Europeia e o Mercosul e é considerado estratégico por Bruxelas para a competitividade e a diversificação da economia europeia. Defensores afirmam que ele é crucial para enfrentar a nova "desordem" comercial global, a pressão dos EUA e a coerção chinesa, ressalta o Les Echos.