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América Latina

Aquela do argentino: entenda por que eles são alvo de piada

A fama que diz que os argentinos são "cheios de si" foi confirmada pelo próprio papa Francisco, que também tira sarro da situação

25 out 2015 - 09h50
(atualizado às 12h20)
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"Qual é o melhor negócio? Comprar um argentino pelo que ele vale e vendê-lo pelo que ele acha que vale". Um latino-americano provavelmente já escutou ou contou uma piada assim, uma das várias que têm como alvo os argentinos.

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Até mesmo o papa Francisco fez piada com a fama de prepotentes dos argentinos
Até mesmo o papa Francisco fez piada com a fama de prepotentes dos argentinos
Foto: Getty Images

Isso porque a suposta arrogância do povo argentino parece ser um tema sobre o qual todos estão de acordo... inclusive eles mesmos.

Um dos argentinos mais conhecidos em todo o mundo, o papa Francisco fez a seguinte piada em público há alguns meses: "sabe como um argentino se suicida? Sobe em seu próprio ego e se atira lá de cima!"

O pontífice contou a piada para uma jornalista da emissora mexicana Televisa e disse: "não somos humildes. Somos muito cheios de si".

Ironicamente, ter um papa argentino não contribuiu muito para diminuir a sensação de superioridade de alguns cidadãos do país.

Francisco, Lionel Messi, Diego Maradona, a rainha Máxima da Holanda... estes são alguns dos nomes do país mais reconhecidos no planeta e que fazem muitos desta nação sul-americana explodirem de orgulho.

No entanto, o ego supostamente exacerbado dos argentinos vai além destas figuras... e sua fama as precede.

'Argentinidade'

Segundo Gladys Adamson, diretora da Escola de Psicologia Social do Sul, em Buenos Aires, o sentimento tem uma origem histórica. "Surgiu no fim do século 19, quando o país era uma das potências mais ricas do mundo e, depois, com as Guerras Mundiais, quando a Argentina se converteu em 'celeiro do mundo'", explica Adamson.

A especialista destaca que esse momento coincidiu com a criação do conceito de "argentinidade", já que isso ocorreu ao mesmo tempo em que chegava uma enorme onda migratória que formaria a base da sociedade argentina.

Mas Adamson diz que o ego dos argentinos é muito ambivalente. "Por um lado, há a arrogância, o 'sentir-se importante', e, por outro, somos muito autocríticos".

Ela dá como exemplo a eleição do papa, explicando que um comentário corrente entre os argentinos foi: "quem vai conseguir aguentar a gente agora?".

Para Graciela Peyrú, diretora da Fundação para Saúde Mental, os argentinos têm transtornos de autoestima, um problema associado ao narcisismo.

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Estereótipo

No entanto, muitos especialistas esclarecem que o grande ego muitas vezes associado aos argentinos é, na realidade, uma característica específica de um grupo de cidadãos do país. "O que se pensa internacionalmente do argentino é, na verdade, algo do portenho, o habitante do porto de Buenos Aires, que costuma ser o que mais viaja ao exterior. Por isso, as piadas se referem a eles", diz Daniel Divinsky, fundador da Ediciones de la Flor, editora que publica obras de alguns dos humoristas mais famosos da Argentina.

Mas ele admite que muitas das críticas por trás das piadas tem fundamento. "O portenho é uma pessoa cheia de si, prepotente, abusada, que respeita pouco os demais e que está o tempo todo buscando obter alguma vantagem".

Apesar disso, ele também avalia que, "como todo estereótipo, as piadas se baseiam em exageros de comportamentos usuais". "Há muitos anos, estive com o escritor Umberto Eco na Feira do Livro de Frankfurt e, referindo-se à diáspora de argentinos produzida pela ditadura, ele dizia que os argentinos eram os judeus do mundo moderno", conta Divinsky.

Segundo ele, a etnia judaica, à qual ele pertence, e os argentinos, têm em comum o fato de "aceitarem piadas irônicas ou que os denigrem desde que sejam feitas por eles mesmos, mas não aceitam quando isso vem de estrangeiros".

Dupla personalidade

Mas o que pensam os portenhos de si mesmos? Em uma consulta feita nas ruas de Buenos Aires, foi possível confirmar a ambivalência mencionada por especialistas.

Metade das pessoas usaram elogios para descrever os argentinos, dizendo ser pessoas "especiais", inteligentes", "versáteis" e que "podem resolver qualquer situação".

Mas outras se referiram a seus concidadãos - e a elas próprias - como "mentirosas", "ladras", "soberbas", "reclamões" e "contraditórios".

Alguns disseram que a sensação de superioridade argentina surge da falsa ilusão de ser uma extensão da Europa na América do Sul - "a Paris do sul" -, o que contrasta fortemente com a realidade de ser um país latino-americano.

Mas quem melhor resumiu a dupla personalidade argentina foi um idoso que vendia mate na tradicional Avenida de Maio. "Dizemos sempre que o pior da Argentina somos nós mesmos. Mas, apesar disso, não há país melhor do que o nosso."

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