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América Latina

Escândalo de espionagem agita disputa presidencial argentina

21 out 2015 - 16h11
(atualizado às 17h21)
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Foto: EFE

Um escândalo por denúncias de espionagem a políticos opositores, empresários, jornalistas, juízes e artistas críticos ao governo de Cristina Kirchner sacudiu nesta quarta-feira o clima político na Argentina, às vésperas do encerramento da campanha para as eleições presidenciais de domingo.

As denúncias foram apresentadas ontem pelas deputadas Laura Alonso e Patricia Bullrich, do bloco conservador União Pró, de oposição, e já estão sendo investigadas pela Justiça.

O chefe de Gabinete da presidência, Aníbal Fernández, chamou de "invenção" a ação contra o governo e os serviços de inteligência. E garantiu que o Executivo não tem relação alguma com as denúncias.

Entre os espionados, segundo as deputadas, há quatro candidatos de oposição à presidência: o conservador Mauricio Macri, líder do Pró; os peronistas dissidentes Sergio Massa e Adolfo Rodríguez Saá e a progressista Margarita Stolbizer.

O caso está agora nas mãos do juiz federal Sebastián Casanello, que determinou abertura de inquérito sob segredo de Justiça e, na madrugada de hoje, ordenou medidas para obter mais informações.

Casanello revelou ter sido pego de surpresa pela divulgação pública das denúncias, ao afirmar que "o sigilo inicial de qualquer caso é crucial para o sucesso da investigação".

Foto: EFE

"Elas (as deputadas) se esquecem de falar que o líder de sua própria força política, Mauricio Macri, está sendo processado por escutas ilegais", contestou o chefe de gabinete da presidência.

"Não fizemos, não fazemos, nem vamos fazer", rebateu, por sua vez, o titular da Agência Federal de Inteligência, Óscar Parrilli.

O escândalo abalou a reta final da campanha para as eleições presidenciais de domingo. Macri, candidato pela coalizão opositora Mudemos, disse que o "kirchnerismo usa os serviços de inteligência como uma obsessão".

"Querem saber o que os jornalistas, juízes e políticos estão dizendo, em vez de se preocuparem com o terrorismo, o crime e o narcotráfico", destacou em declarações à imprensa local.

"Que destinem todos os recursos de inteligência que quiserem contra mim. Tenho o que tenho. Não tenho medo deles", disse Massa, candidato da frente Unidos por uma Nova Alternativa.

"Esperamos que a Justiça investigue um fato tão grave", acrescentou Stolbizer.

O candidato presidencial apoiado pelo governo e favorito nas pesquisas, Daniel Scioli, da Frente para a Vitória, tentou se distanciar da polêmica e alertou que "nunca vai aprovar ou promover nenhum tipo de espionagem interna".

"Será a Justiça que dará a resposta às dúvidas que podem existir", acrescentou o aspirante kirchnerista.

Foto: EFE

Além dos candidatos presidenciais, a espionagem teria atingido também outros opositores, como Gabriela Michetti, candidata a vice-presidente na chapa de Macri, e Felipe Solá, que concorre ao governo da província de Buenos Aires pelo grupo liderado por Massa.

Também foram alvo membros da Corte Suprema de Justiça e jornalistas de veículos críticos ao governo, como Joaquín Morales Solá, Nelson Castro, Jorge Lanata e Luis Majul.

Os serviços de inteligência na Argentina ficaram sob os holofotes após a morte de Alberto Nisman, o promotor que investigava o atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que provocou a morte de 85 pessoas em 1994.

Nisman foi encontrado morto com um tiro na cabeça dentro de sua própria casa em janeiro, dias depois de denunciar Cristina Kirchner por encobrimento terrorista.

O governo relacionou, então, o incidente com o promotor com uma guerra interna dentro dos serviços de inteligência. A presidente dissolveu o antigo órgão responsável pela função e criou uma agência federal para desempenhar esse tipo de trabalho no país.

Para Alonso, a existência de uma lista com personalidades espionadas "demostra que a mudança de nome de Secretaria da Inteligência para Agência Federal de Inteligência foi apenas uma maquiagem".

Na Argentina, as leis proíbem obter informação, produzir inteligência ou armazenar dados "sobre pessoas só pelo fato de sua raça, fé religiosa, ações privadas, opinião política, adesão ou filiação a organizações partidárias ou sociais", assim pela atividade ilícita que "desenvolvam em qualquer raio de ação".

EFE   
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