Conheça o experimento Biosfera 2: A utopia verde que tentou reinventar a vida na Terra e fracassou
Conheça a história da Biosfera 2, a redoma científica que prometia um novo mundo sustentável e acabou revelando os limites da utopia ecológica.
Biosfera 2 foi um dos projetos científicos mais audaciosos da década de 1990. Construída no deserto do Arizona, Estados Unidos, sua estrutura de 12.600 metros quadrados simulava cinco ecossistemas terrestres em miniatura: deserto, oceano, floresta tropical, savana e pântano. O objetivo inicial era criar uma colônia humana auto-sustentável, isolada do mundo externo, em preparação para futuras habitações em outros planetas. O projeto, comandado pelo poeta e dramaturgo John Allen e financiado pelo bilionário Edward Bass atraiu intensa atenção mundial, comparado à conquista lunar em sua época.
Em 1991, oito pessoas foram confinadas por dois anos dentro da redoma, com a tarefa de cultivar seu próprio alimento, reciclar água, ar e dejetos, vivendo exclusivamente do ambiente construído. A experiência, porém, fracassou em muitos aspectos. A concentração de gás carbônico ficou perigosamente alta, e medidas secretas precisaram ser tomadas para injetar ar fresco e reduzir o CO2, ocultando as falhas da equipe da imprensa e do público. As plantações sofreram queda nas colheitas, gerando fome e tensão entre os confinados. Ao final do experimento, os integrantes estavam fragilizados, tendo perdido peso e motivação, o que deixou a Biosfera 2 com o apelido irônico de "Lieosfera", esfera de mentiras.
Além dos problemas técnicos, a dinâmica interna foi marcada por conflitos graves. O ambiente fechado ampliou o estresse, surgiram rixas entre os membros da equipe e até acusações de autoritarismo da liderança do projeto. A proliferação descontrolada de insetos como baratas e formigas transformou-se em um problema de pragas. O solo originalmente adubado contribuiu para o desequilíbrio atmosférico, pois estimulava bactérias que consumiam oxigênio e liberavam CO2. Tentativas de corrigir esses problemas incluíram a substituição de solo agrícola e remoção de grandes volumes de material orgânico.
O projeto sofreu uma crise profunda quando, em 1993, o conselho científico renunciou diante das decisões autoritárias e dos escândalos de fraude e manipulação dos dados do experimento. Em 1994, o proprietário Edward Bass processou seus diretores, dissolvendo a empresa responsável e provocando protestos com prisões e confrontos. Apesar da badalação e do investimento milionário, a Biosfera 2 parecia mais uma atração turística que um projeto científico sério.
Porém, a Biosfera 2 não foi apenas sinônimo de fracasso. Após os episódios iniciais, o local foi adquirido pela Universidade do Arizona e reiniciado como um laboratório ecológico com foco na pesquisa do funcionamento dos ecossistemas, aquecimento global e ciclos atmosféricos. Cientistas renomados das maiores universidades americanas passaram a operar o espaço com rigor científico, usando milhares de sensores para estudar gases, solo, vida vegetal e animal em um ambiente controlado. O projeto abandonou a ideia de confinamento humano, focando em simulações para compreender melhor os processos terrestres.
Hoje, a Biosfera 2 é considerada um marco na história das pesquisas ambientais, oferecendo dados e aprendizados importantes para os desafios da sustentabilidade planetária. Embora a utopia original de um mundo isolado e autossustentável para humanos tenha fracassado, o legado da Biosfera 2 está na compreensão das complexas interações ecológicas e climáticas que moldam a Terra.