Castro diz que houve 'manipulação' de corpos com corpos em praça; governador não apresentou provas
Polícia irá investigar quem participou de retirada de corpos por fraude processual
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, declarou que houve manipulação de cenas e corpos após uma megaoperação policial que resultou em mais de 100 mortes, enquanto órgãos públicos e entidades de direitos humanos iniciaram investigações paralelas sobre os fatos.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, usou as redes sociais para compartilhar, nesta quarta-feira, 29, imagens que, segundo ele, mostrariam "claramente a manipulação de corpos depois dos confrontos" entre policiais e criminosos, durante a megaoperação realizada nos complexos do Alemão e da Penha, nesta terça-feira, 28.
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Castro chamou de "revoltante" a tentativa de criminosos em enganar a população. "Circulam vídeos mostrando : pessoas cortando roupas camufladas, tentando mudar a cena para culpar a polícia", afirmou.
"Isso é mais uma prova da covardia e da perversidade de quem vive do narcoterrorismo. Reafirmo: as únicas vítimas fatais da operação de ontem foram os nossos quatro policiais, que perderam a vida cumprindo o dever de proteger o Rio de Janeiro", reiterou.
É revoltante ver até onde o crime é capaz de ir para tentar enganar a população.
Circulam vídeos mostrando claramente a manipulação de corpos depois dos confrontos: pessoas cortando roupas camufladas, tentando mudar a cena para culpar a polícia. pic.twitter.com/84anqp3rIw
— Cláudio Castro (@claudiocastroRJ) October 29, 2025
Corpos foram retirados por moradores de áreas de mata na divisa das regiões onde ocorreu ação policial e levados à Praça São Lucas. De acordo com a Defensoria Pública do Estado, foram 132 óbitos. O governo do estado fala em 119.
A publicação do governador dividiu internautas. "Então, mostra o nome de todos os mortos e a ficha criminal deles. Enquanto isso está só criminalizando o morador de favela dizendo que se morreu na favela só pode ser bandido", provocou um perfil. "Concordo, parabéns... precisa de muita coragem pra enfrentar o sistema que governa para o crime, não para proteger o cidadão de bem", contrapôs outro.
Castro defendeu atuação policial, inclusive caso tenham ocorrido mortes de inocentes.
"Quais são os indícios que nos levam a crer que todos eram criminosos? Sendo bem sincero com vocês. Porque o conflito não foi em área edificada, o conflito foi todo na mata, então, não creio que tivesse alguém passeando na mata num dia de conflito, e por isso a gente pode, tranquilamente, classificar. E se tiver algum erro de classificação, ele com certeza é residual. E ele será, ainda que se tenha alguma pessoa que, por um acaso, tenha acontecido, numa situação extraordinária, nós corrigiremos. Nós falamos hoje com tranquilidade que são criminosos", dise o governador.
De acordo com o governo do estado, a Operação Contenção foi deflagrada depois de mais de 60 dias de planejamento com "inteligência, levantamentos, mapas e distribuição tática das tropas". "Todos os policiais estavam com câmeras corporais. "O cenário encontrado foi o previsto", diz.
O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, também elogiou a megaoperação que resultou em mais de uma centena de mortes nos complexos do Alemão e da Penha. Em entrevista coletiva, afirmou que vai investigar por fraude processual quem participou da remoção dos corpos na área de mata no Complexo da Penha.
Curi citou a retirada das roupas camufladas usadas por bandidos, que tiveram os corpos expostos na rua só de cueca.
"Vale lembrar, para desmistificar certas narrativas, que parece ter ocorrido uma espécie de 'milagre' com os corpos que estão aparecendo hoje. Esses indivíduos estavam na mata, equipados com roupas camufladas, coletes e armamentos. Agora, muitos deles surgem apenas de cueca ou short, sem qualquer equipamento, como se tivessem atravessado um portal e trocado de roupa. Temos imagens que mostram pessoas retirando esses criminosos da mata e os colocando em vias públicas, despindo-os. A 22ª Delegacia de Polícia instaurou um inquérito para investigar possível fraude processual", disse Curi.
Perícias paralelas à feita pelo estado do RJ
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que colocaria à disposição peritos criminais e médicos legistas da Força Nacional, da PF e de outras polícias estaduais, além do banco de dados da Polícia Federal, para identificar se os mortos tinham ligação com organizações criminosas. "Vamos ouvir o governador, saber o que ele precisa", disse após reunião de membros do primeiro escalão do governo Lula (PT).
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro enviou equipes para atuação no Instituto Médico-Legal (IML) do Rio para ajudar na identificação dos corpos das vítimas.
O Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do Ministério Público Estadual do Rio (MPRJ) anunciou que uma perícia independente à realizada pelo estado também será feita nos mortos durante a ação policial.
"A Instituição atua para assegurar o cumprimento das diretrizes fixadas pelo STF na ADPF 635 (...) e informa ainda que técnicos periciais foram enviados ao IML para a realização de perícia independente, em conformidade com suas atribuições legais", diz o órgão.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) enviou uma equipe do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) para realizar as primeiras escutas e coletar informações diretamente com familiares, organizações de direitos humanos e autoridades locais.
