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Índios ocupam fazendas no sul da BA para pedir demarcação de terras

Cerca de 40 índios da etnia tupinambá invadiram nove fazendas situadas entre Ilhéus e o balneário de Olivença para pedir 47,3 mil hectares de terra

10 jun 2013 - 18h52
(atualizado às 19h04)
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<p>Fazendeiros e índios trocam acusações mútuas de posse ilegal de arma de fogo, e negam estarem armados</p>
Fazendeiros e índios trocam acusações mútuas de posse ilegal de arma de fogo, e negam estarem armados
Foto: Mário Bittencourt / Especial para Terra

Cerca de 40 índios da etnia tupinambá invadiram nove fazendas situadas entre Ilhéus e o balneário de Olivença, no sul da Bahia, para pressionar o governo federal a publicar a demarcação de 47,3 mil hectares que eles dizem ser área indígena.

Fazendeiros e índios trocam acusações mútuas de posse ilegal de arma de fogo, e negam estarem armados. A polícia ainda não fez nenhuma apreensão de pessoa armada e nenhum dos lados reclamou ter havido disparos de tiros.

As invasões vêm ocorrendo desde a semana passada e, segundo relato de fazendeiros, de forma violenta, com índios armados com espingardas, flechas, foices, facões e pedaços de pau expulsando os trabalhadores.

A situação está tensa na região, segundo a Polícia Federal de Ilhéus, que acompanha as invasões, intensificadas desde fevereiro de 2012, quando os índios iniciaram uma ação que chamam de “retomada”. Já são 56 propriedades invadidas.

A PF informou que há “mais de 10” mandados de reintegração de posse – fazendeiros dizem que são “cerca de 20” – para serem cumpridos em áreas ocupadas, e que tenta com a Fundação Nacional do Índio (Funai) realizar a saída pacífica dos índios.

Uma das fazendas invadidas é a Estrela do Mar, a quatro quilômetros de Olivença. O dono da fazenda, Paulo César Pereira Oliveira, disse que ainda tentou resistir por três dias à ocupação indígena, mas desistiu “por medo de algum trabalhador morrer”.

“Estava com nove funcionários, mas os tirei porque há risco muito grande de morte. Os índios estão armados”, afirmou Paulo César. Ele diz que sua fazenda, de 74 hectares, é produtiva: “Temos cacau, piaçava, coco e criação de gado”.

Por causa das invasões, os fazendeiros estão retirando o gado das propriedades. “Domingo passado tirei os móveis de lá, não deixei nada”, completou Paulo César, segundo o qual seus homens estavam apenas com “facões, enxadas e pás”.

As lideranças indígenas, por sua vez, acusam os fazendeiros de colocarem pistoleiros nas fazendas. “Durante a ocupação na Estrela do Mar ficava uns 10 homens armados nos fazendo ameaça, e nós só com flechas e facões”, afirmou o cacique Val Tupinambá, 35 anos. 

O cacique afirmou que os índios vão continuar as ocupações até que o Ministério da Justiça publique no Diário Oficial da União a demarcação da terra indígena, que foi concluída pela Funai em 2007. Chefe da Funai em Ilhéus, Nícolas Melgaço não foi localizado.

A área que os índios reivindicam está dentro dos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema. Dentro da área que os índios querem estão, segundo o Sindicato Rural de Ilhéus, cerca de 600 fazendas. “Estamos vendo a hora de ter mortes, a situação está cada vez mais tensa e não vemos resposta da Justiça no cumprimento das reintegrações de posse”, reclamou o presidente do sindicato, Milton Andrade.

A ocupação indígena tupinambá que mais causou polêmica ocorreu em abril deste ano, em Una, quando os índios invadiram o Hotel Fazenda da Lagoa, que tem como sócio-fundador o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

A ocupação no hotel, que é de luxo e cuja diária custa mais de R$ 1 mil, durou três dias e os índios saíram após a Funai mostrar com um mapa que a propriedade não estava na terra reivindicada como indígena.

Os donos do hotel relataram diversos roubos de TVs, roupas de grife e uso de bebidas caras durante a ocupação, mas até hoje nada foi provado. Os índios negam ter causado qualquer dano no hotel. 

Fonte: Especial para Terra
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