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Por que comemorar a condenação de Bolsonaro? Quem mais sofreria se o golpe desse certo?

Pessoas negras, assim como outras minorias, são as mais vulneráveis as ideias do bolsonarismo

12 set 2025 - 14h19
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Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que foi condenado pelo STF
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que foi condenado pelo STF
Foto: Wilton Júnior/Estadão / Estadão

Na última quinta-feira (11), o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses por tramar um golpe de Estado. A primeira turma do STF votou pela condenação do réu. Votaram a favor o presidente Cristiano Zanin, o ministro Alexandre de Moraes, o ministro Flávio Dino e a ministra Cármen Lúcia, responsável pelo voto que decretou a sentença, após o ministro Luiz Fux votar contra a condenação de Bolsonaro.

Nas redes sociais, as manifestações vieram de todos os lados: os da esquerda, comemorando a sentença de um dos maiores desserviços às pautas sociais dos últimos anos; os da direita, fazendo malabarismos para reprovar a decisão do STF; e os “nem esquerda, nem direita”, trazendo chavões e dando a entender que “não há o que comemorar”, pois se trata de mais um ex-presidente condenado. Esses grupos reproduzem falsas simetrias ao comparar Lula e Bolsonaro e, em suma, reforçam argumentos sem lógica.

Bolsonaro foge da civilidade, assim como tudo que envolve a extrema direita. No entanto, há uma coisa que ele tem de mérito: ele nunca escondeu quem era. E quem depositou o voto nele sabia exatamente onde estava se envolvendo. Ele já fez declarações racistas, machistas e homofóbicas, além de enaltecer torturadores. Mesmo assim, foi eleito presidente. Em 2021, ele ainda conseguiu quase metade dos votos válidos, apesar de falas constrangedoras – como “pintar um clima” com menores de idade –, gestos minimamente duvidosos (como a polêmica envolvendo o ato de tomar leite) e, sobretudo, de sua negligência em relação à pandemia de COVID-19.

Infelizmente, o ex-presidente não foi condenado pela forma como lidou com a pandemia no Brasil. Foram 700 mil mortos, o equivalente à população do Cazaquistão. E sabe quem foi a maioria dessas vítimas? Pessoas negras. De acordo com o Instituto Pólis, a taxa de óbitos por COVID-19 entre negros na capital paulista foi de 172 por 100 mil habitantes, enquanto para brancos foi de 115 por 100 mil habitantes. Diferente do que sugerem as ideias eugenistas, isso não está relacionado à biologia, mas sim às desigualdades sociais.

Fatores que fomentam o abismo racial incluem a necessidade do trabalho presencial, a exposição constante em transportes públicos, o racismo estrutural na área da saúde e a inadequação das condições de moradia. Esses aspectos explicam a discrepância nas taxas de mortalidade. Meu ponto aqui não é dizer que, se fosse um governo de esquerda no poder durante a pandemia, ninguém teria morrido. Mas é inegável que o número de mortes seria muito menor. Um governo comprometido teria comprado vacinas e não minimizado a gravidade da pandemia.

No campo democrático, onde críticas ainda podem ser feitas, o descaso de Bolsonaro com os menos favorecidos já era gigantesco. Então podemos imaginar: se o golpe tivesse dado certo, como estariam as cotas sociais e raciais? E as ONGs que amparam mulheres? Existiria o Dia do Orgulho? Subsídios que combatem a fome de milhares seriam mantidos? Até mesmo um cidadão “isento”, que preza pela lógica democrática, consegue perceber que o autoritarismo de Bolsonaro e de seus aliados não pararia após a instauração de uma ditadura.

Por isso, sim, devemos comemorar muito a condenação dele e de seus cúmplices. Devemos celebrar a continuidade da democracia. Devemos celebrar porque o governo Lula, embora longe de ser perfeito, tem se mostrado muito melhor do que os quatro anos do presidente anterior. Devemos celebrar a diminuição da fome no país. E, sobretudo, devemos celebrar a punição daqueles que tentaram dar o golpe.

Isso é essencial porque anistiar esse grupo seria um convite a novas lógicas ditatoriais. A partir do momento em que a Justiça trata com brandura uma tentativa de acabar com a democracia, os anistiados se uniriam a novos interessados em desafiar a liberdade — não apenas a liberdade do Estado, mas também a de quem luta para ser reconhecido como cidadão.

Bolsonaro deve seguir em prisão domiciliar ou ir para cela separada, avalia advogada:
Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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