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O que falta para você entender que não existe salvador branco

Pessoas que estão mais preocupadas em ser protagonistas do que de resolver de fato o problema não são salvadoras

19 dez 2025 - 14h43
(atualizado às 14h45)
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No cinema o "Salvador Branco" é aquela personagem branco que surge do nada e resolve o problema de negros, indigenas, orientais, de uma forma tão simples que o faz genial.
No cinema o "Salvador Branco" é aquela personagem branco que surge do nada e resolve o problema de negros, indigenas, orientais, de uma forma tão simples que o faz genial.
Foto: Reprodução

Todo final de ano os salvadores brancos da sociedade aparecem disfarçados de caridosos. Eles que ao longo do ano estavam focados em acumular dinheiro, chamar pobre de preguiçoso e ser contra as ajudas do governo, surgem como pináculos morais para doar brinquedos, comida e presentes para a parcela da população, que passaram o ano todo não só criticando, mas lutando para que permanecessem nessa situação. O, em inglês, “white savior”, ele se acha bom, melhor por fazer o mínimo, mínimo esse que jamais resolverá o problema. Ao longo dos anos essa lógica foi aplicada em outros contextos e tentarei explicar exatamente como isso acontece.

No cinema o "Salvador Branco" é aquela personagem branco que surge do nada e resolve o problema de negros, indigenas, orientais, de uma forma tão simples que o faz genial e torna os demais personagens bobos, infantis e até coitados. Existem vários exemplos disso como nos clássicos: "Histórias Cruzadas", "Green Book", "Estrelas Além do Tempo" e o próprio "Avatar" que, na minha leitura, é uma releitura de "Pocahontas". Em todos esses filmes vemos o personagem branco aparecendo como um messias, secundarizando os personagens que deveriam ser os principais e salvando tudo e todos pela sua imensa bondade branca.

Podemos ver isso também nas viagens ao continente africano. Os países da África tem incontáveis belezas naturais, turismo de safari, resorts, pirâmides e outras dezenas de coisas, o que faz uma pessoa sair do seu próprio país, onde muitas vezes tem miséria, e atravessar o oceano para fazer conteúdo com crianças africanas da maneira mais sutil que se possa imaginar. O último exemplo que tivemos foi uma influenciadora que achou de bom tom criar conteúdo com uma criança aparentemente desnutrida, oferecendo pela primeira vez alimentos de baixíssimo valor nutricional.

Aqui em território nacional a grande maioria das pessoas conhecem alguém que é contra cotas, contra bolsa família, contra fies, que vira a cara para pessoas na sinaleira (farol) e quando chega o final do ano se torna a Madre Teresa de Calcutá. Aquela pessoa que defende bilionário, meritocracia, exploração do trabalho e colonialismo, mas em dezembro quer “ajudar” todas as vítimas das coisas que ela defende com vigor. E, apesar de estar falando de pobreza e não de raça, isso se aplica muito no Brasil, pois é um país onde quem pavimenta a pobreza é a questão racial. Ou seja, a grande maioria dos ricos são brancos, enquanto a grande maioria dos pobres são pessoas negras.

Dito isso, eu não estou dizendo para as pessoas pararem de fazer caridade. Independente da data, da forma, eu tenho certeza que para aquela pessoa que está sendo ajudada pouco importa o porquê da ajuda. O ponto é que ao invés de combater o que deixa o outro pobre e vulnerável, essas pessoas se aproveitam dessa condição para a manutenção do próprio ego e muitas vezes para autopromoção. Não há benfeitoria na grande maioria dos casos, o que ocorre é a possibilidade de parecer que se importa. A única maneira ética de ajudar ao próximo é pensar um modo de dá-lo estrutura para sair da miséria e não fazer ações sazonais que não resolvem a raiz do problema, que é estrutural e mantido por muitos desses que se acham grandes filantropos.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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