O Dia da Consciência Negra deveria ser usado para reflexão
Como a pouco a se comemorar sobre os avanços da causa racial, o foco da data deveria ser conscientizar acerca do racismo no Brasil
Hoje é o Dia da Consciência Negra, pela primeira vez o dia é feriado em todo território nacional, e na contramão de tudo que tem acontecido, já que, há algum tempo, as questões raciais vem perdendo os holofotes dos meios de massa. Apesar de toda luta secular dos movimentos negros, a questão racial no Brasil só foi ganhar notoriedade após a morte de George Floyd, logo toda aquela começão precisou ser importada para que a população passasse a olhar minimamente ela maior mazela do nosso pais, quiça do mundo, a escravização africana.
O Dia da Consciência Negra é uma homenagem à data de morte de um dos maiores símbolos de resistência e luta na história da sociedade brasileira, Zumbi dos Palmares. Zumbi nasceu livre em Palmares, foi sequestrado ainda criança, cresceu com padre, voltou para palmares fugido na adolescência e, já adulto, se tornou líder após se manifestar contra acordos com a coroa portuguesa. Caminhando ao seu lado teve a Dandara dos Palmares que, durante tempos, também liderou o Quilombo, com quem teve três filhos. Após muitos anos Zumbi a coroa intensificou os ataques a Palmares, a coroa perdeu muito dinheiro, homens e respeito durante as tentativas. Até que em dado momento conseguiram invadir o quilombo dos palmares, matar Zumbi e desfilar com sua cabeça com propósito de desencorajar possíveis levantes. Até nos dias atuais vemos uma tentativa de difamar a memória de Zumbi pelo mesmo motivo.
Nos dias de hoje ainda conseguimos observar como a população negra segue tendo que resistir a herança maldita oriunda de quase 400 anos de escravização. Ainda somos a maioria sem saneamento básico, fora das universidades, em trabalhos analogos a escravidão, a maioria que vive com menos dinheiro e que pouca acessa espaços tidos como pode poder como medicos, juizes, grandes empresarios e políticos. A questão racial é, ao meu ver, uma das menos ajudadas na lógica da nossa sociedade, pelo fato de ser a única que nunca terá uma pessoa branca como membro da causa. Nunca terá uma pessoa branca sofrendo de racismo, e isso, em uma país construído sobre a desgraça que foi o sequestro atlântico, isso faz muita diferença.
O Dia da Consciência Negra só se torna uma data com feriado nacional por imposição do governo, porque o que está acontecendo fora do ambito estadual é um total desrespeito as pessoas negras e ao movimento negro de forma geral. Digo isso para além do que ocorreu com Taís Araújo ou qualquer outra pessoa preta midiática que tenha sofrido com o racismo atualizado da branquitude. O que se tem visto é uma queda impressionante das grandes marcas e empresas em patrocinar atividades que proponham o debate da questão de raça. Fazem de maneira sutil e talvez, para o menos atento, imperceptível. Eventos, páginas e influencers que batem na tecla do racismo de maneira direta já não são mais atrativos para grandes marcas. Para essa parcela o dinheiro colocado em locais com o citado era apenas algo passageiro, da lógica neo libreral, para fingir interesse.
Aparentemente a causa racial precisa de uma grande miséria acontecer para que a sociedade, pautada pela branquitude burguesa, se comova e durante um ou dois anos dê a devida atenção na causa que mais mata jovens dentro do Brasil. A nocividade do capitalismo e da lógica neoliberal é inescrupulosa só irá enxergar a causa racial se, de alguma forma, essa trazer lucro, seja em branding, vendas ou coisas nesse sentido. Enquanto produtor de conteúdo de raça posso afirmar que, e digo isso com tristeza, precisaremos de outras catástrofe como Gergo Floyd, acontecendo lá nos Estados Unidos, para que essa dor seja importada, e só assim, de repente, teremos uma Dia da Consciência Negra marcada por ações efetivas que visem mitigar o racismo e não o fingimento costumeiro que em nada ajuda a combater a raiz do problema.