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A importância do Papai Noel negro para além do símbolo capitalista

Por mais que a representação do Natal possa ser controversa em alguns pontos, não dá para ignorar a força cultural da dat

23 dez 2025 - 17h09
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Foto: Imagem criada com Inteligência Artificial / Perplexity

Todo Natal, eu me encho de esperança e penso que mais Papais Noéis negros irão aparecer nos shoppings do Brasil. Porém, 2025 é mais um ano de decepção. Isso porque eu falo de Salvador, a capital mais negra fora do continente africano. Por aqui, foram pouquíssimos Papais Noéis negros e apenas um amplamente divulgado. Apenas esse sei em que shopping encontrar e, ao meu ver, em uma escala de horário que atenda à necessidade da época.

Nesses paradigmas que envolvem religião, modelo econômico, raça, colonização, entre outros aspectos, muita gente se confunde sobre os signos do Natal. Já existem estudos que dizem que Jesus não nasceu em dezembro, estudos que provam que uma pessoa na região do nascimento de Jesus não pode ter a cor com a qual ele é retratado. E tem até quem diga que o Natal foi a absorção de uma festa pagã romana pelo cristianismo. A figura do bom velhinho só existe por causa do refrigerante de cola que vocês tanto amam.

Puramente uma jogada publicitária. Uma mistura de Santa Claus, com São Nicolau, com Coca-Cola e lendas nórdicas. O Papai Noel não tem 100 anos de existência. É um personagem fictício, então, quando vejo alguém falando que Papai Noel tem que ser branco, me pergunto: que Papai Noel é esse que não existe? O cara pode entregar presentes em todo o mundo em uma madrugada, andar em um trenó puxado por renas voadoras, ter um saco que carrega todos os presentes do mundo, mas, se for preto, não pode. Aí é ficção demais, né?

Muitos falam, e eu concordo, que há alguns espaços que, talvez, não seja bom ter representatividade, sobretudo uma representatividade vazia, aquela que só tem uma figura, mas que não traz o discurso racial atrelado. Todavia, o Papai Noel, apesar de todo o contexto capitalista, se atrelou a uma religião que culturalmente é muito forte e tem seu devido valor pelo que representa, principalmente na cabeça de uma criança. Um Papai Noel negro pode ser a primeira figura negra que um guri playboy terá contato, que não seja no local de subserviência. Primeira pessoa negra que ele vai observar, sem ser de cima para baixo.

Outro ponto importante a ser pensado é que o problema do Papai Noel negro não se resume a uma resistência apenas estereotipada. Sinceramente, me pergunto se os pais ficam tranquilos em ver seus filhos e filhas no colo de um homem negro, da mesma forma que ficam quando esse mesmo Papai Noel é branco. E eu sei que o ideal é não colocar a criança no colo de ninguém, mas quando essa preocupação só surge quando o Papai Noel negro se apresenta, essa discussão deveria ir além dos cuidados com a criança, para que possamos observar como as pessoas associam determinados tipos de violência.

Eu penso que um Papai Noel negro tem uma importância muito bacana para todo tipo de criança: as negras, para se reconhecerem; as brancas, para perceber a pluralidade; e os pais, sobretudo os racistas, para entenderem que estamos em uma nova realidade e que as crianças terão outros tipos de influência que não apenas as deles. Como já dito, essa imagem santificada do Papai Noel ajuda a caracterizar o homem negro em uma outra perspectiva, que não a do malandro, bandido, sexual e cafajeste. Acredito, mesmo, que pode ampliar a subjetividade de alguns e dissipar, ainda que minimamente, o imaginário racista do negro enquanto arma ou exemplo de virilidade. É um pequeno passo, mas, como o racismo deve ser combatido em todas as esferas sociais, essa não deveria ficar de fora.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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