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Opinião: As pessoas precisam entender que interseccionalidade vai além de raça, classe e gênero

Pessoas negras do eixo agem de forma problemática quando o assunto é xenofobia, sobretudo quando os alvos são o norte e nordeste

14 nov 2025 - 17h34
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Xenofobia também precisa estar na discussão
Xenofobia também precisa estar na discussão
Foto: Pexels/Alexandre Saraiva

Nessa semana rolou uma polêmica onde uma influencer de SP falou umas coisas sobre a Bahia. Desde já aviso que ela já se desculpou e não tenho nada contra ela, muito pelo contrário, a admiro, acho sim, que ela se equivocou, mas no erro dela muito sudestino se mostrou um péssimo aliado quando o assunto é xenofobia. Digo aliado pois essa polêmica ficou muito restrita a bolha de pessoas negras, que, em tese, deveriam se acolher inclusive nas diferenças.

Em resumo, a querida Nicolly Martins, e é querida mesmo sem deboche, teceu um comentário sobre o atendimento da Bahia, mesmo só estando em Salvador, e fez acoplou isso ao fato de ser um local litorâneo. Com isso uns mais fervorosos já tinham pego ar, eu tava de boa. Depois que explodiram as críticas elas fez alguns outros comentários que, de fato, me desagradaram, nem irei falar quais porque, como disso, já houve as desculpas. Após os comentários a cobrança foi grande, inclusive minha, mas como já dito ela se desculpou, do jeitinho dela, já emendou um meme super engraçado e vida que segue, afinal, não serei eu a seguir atacando uma mulher preta.

Todo esse rolê fez muitos pretinhos e pretinhas do eixo se posicionarem tal qual brancos quando o assunto é racismo. Pois é, pretos progressistas, que se dizem militantes, tratando xenofobia como se fosse uma pauta opcional. As mesmas mulheres negras que reclamam, com razão, que homens negros tendem a mitigar a questão de gênero dentro do movimento, fazendo as mesma coisas com pessoas foram do eixo na pauta da xenofobia. Foi um show de desserviço e desinformação por parte, sobretudo, dos sudestinos do Rio e São Paulo. Piada de baiano preguiçoso, chamando o questionamento de mimimi, fazendo falsa simetria, agindo bem na pegada bolsominion mesmo. E sim, estou exagerando na mesma medida que isso me incomodou.

Para vocês terem ideia teve piada de não gostar de trabalhar, piada com o linguajar baiano, piada sobre a Bahia enquanto território, olha foi um show de cretinices. Tudo isso ocorrendo sobre a falsa nobreza de estarem defendendo uma mulher negra que, por si só, fez um vídeo se desculpando e pedindo desculpas. O que pareceu foi que a galera tava cheia de vontade de falar atrocidades sobre a Bahia, mas estava esperando uma desculpa conveniente para despejar todo ódio. Para se ter uma ideia a falsa equivalência ocorreu a ponto de pessoas falarem que o Rio e SP são tão criticados, porque a Salvador não pode? Como se ser do eixo e ser do nordeste tivesse o mesmo valor estrutural quando o assunto é menosprezo das regiões.

É triste perceber que há uma militância que ainda não entendeu o que é piada de internet e o que é assunto sério. Uma militância que só abraça aquilo que te convém e que na primeira falta de identificação faz piada sobre a dor do outro sem sequer repensar sua atitude. É necessário saber o que é brincadeira e o que não é. Até porque essa piada de Salvador e a Bahia serem locais de gente preguiçosa tem total vínculo com a questão racial, mas uma questão racial de um estado que sudestinos não tem apego real, apenas cumprem um enredo de exaltar a terra mais negra fora da África, mas na prática reproduzem vários preconceitos porque não os atingem diretamente.

A falacia da preguiça do baiano e do negro vem atrelada a luta de um povo que por ser escravizado não fazia a menor questão de otimizar o trabalho, ai os brancos que ficavam na sombra o chamavam de preguiçosos por não estarem se matando cortando cana de açucar. Meu medo é uma geração que acha que militar se resume a coisas fúteis e simples, enquanto ignoram a complexidade do racismo no Brasil e, de certa forma, ajudam a manutenção do sistema que atingem a eles mesmos.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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