Opinião: A extrema direita faz capital ao associar o tráfico a esquerda

28 de outubro de 2025 ficará marcado na história recente do Brasil. Mais de 60 pessoas foram mortas em mais um suposto combate ao narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro. Até então foram quatro policiais mortos e mais de 60 civis que dizem ser suspeitos, mas há grandes chances de muitos inocentes estarem inseridos nesse número. A mega operação contou com milhares de agentes, drones, helicópteros e outros artifícios militares. Na tentativa de romper o cerco policial, os bandidos ligados ao comando vermelho, promoveram o caos em diversos pontos do Rio e no final de tudo quem pagou foi a população. Antes dessa operação, a mais letal do RJ tinha sido em 2021 no Jacarezinho com 28 mortos.

Logo que começou a operação no Rio de Janeiro foi percebido uma chuva de postagens em diversas redes sociais, oriundas principalmente de pessoas e políticos ligados à extrema direita, tentando atrelar toda a desordem à esquerda, sobretudo ao PT e ao presidente Lula. Desde mensagens ironicas dizendo que o amor venceu com a imagem de locais pegando fogo, até tweet falando que “todo remédio tem seu efeito colateral”. A grande questão é que esse colateral com cor, classe e um cep bem definido, já que a maioria que trata chacina como efeito colateral, dificilmente faz parte do grupo que está sangrando nesse exato momento.

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Há um equívoco gigantesco em atrelar o crime à esquerda. Sei também que é difícil dialogar com quem costuma acreditar em grupo de whatsapp e não em pesquisas sérias com métricas e parâmetros bem definidos. Contudo, já foi amplamente pesquisado que o que mais promove delitos é a desigualdade social, empobrecimento em massa, acúmulo de renda e o capitalismo como um todo. Quem defende todas essas questões é a direita e o conservadorismo. A esquerda e o progressismo vão contra essa lógica. Esse grupo quer justiça social, distribuição de renda, reforma agrária, menos imposto para pobre e uma estrutura política que se aproxime de uma social-democracia.

A extrema direita usa o jargão "bandido bom é bandido morto" porque ao matar o bandido você não só silencia quem pode te entregar, como você não trata a causa, só dizima a consequência e segue lucrando com as disparidades sociais e econômicas. Já a esquerda quando diz que o bandido é uma vítima, não está dizendo que ele não tem que ser punido, tão pouco que ele tem que ser afagado, a tentativa é fazer com que as pessoas entendam que o crime é promovido, sobretudo pela desigualdade que o capitalismo depende para existir. Principalmente quando falamos em um país que se origina com a escravização indigena e africana em que durante séculos só um grupo podia concentrar renda, e não por acaso a maioria desse grupo está na extrema direita.

Por outro lado, quando falamos de esquerda, falamos exatamente quem tem projeto para acabar com a desigualdade, mitigar a concentração de renda e usar o estado para promover um bem-estar social para todos. É só desse jeito que os crimes irão diminuir. Porquê é dando moradia, comida, salário justo, educação, saúde e lazer ao indivíduo que ele terá uma vida digna e assim não buscará o crime como meio de enriquecer. Até porque a esmagadora parcela da população pobre é muito mais honesta do que todo burguês, e nem digo no sentido figurado ou filosófico, digo no sentido literal.

Será que somos tão bobos em achar que um traficante, mesmo sendo rei do morro, tem a capacidade de sozinho traficar armas e drogas pelo Brasil sem anuência de quem tem poder estrutural? Vocês realmente acreditam que esse traficante não é apenas uma engrenagem que se move pouco, mas tem a função de reter a culpa do sistema? Quantas armas traficadas no Brasil foram compradas legalmente nos EUA?

Falando em Estados Unidos vocês também não perceberam a coincidência da sequência de fatos? Trump transforma traficante em terrorista, Eduardo Bolsonaro membro da extrema direita gritando direto da terra do Tio Sam que no Brasil quem manda é o tráfico, aí seu irmão Flávio pede para que os EUA bombardeiem a baía de guanabara com a desculpa que o Brasil é um narco estado, em seguida o governo estadual do Rio de Janeiro, que tem um governador atrelado ao bolsonarismo, faz uma operação sabendo exatamente qual seriam suas consequências, tendo em mente a represália do tráfico e contando com a possibilidade do caos na cidade.

Enquanto na esquerda as pessoas buscam uma coletividade onde todos vivam bem, a direita promove a desigualdade e, aparentemente, não mede o menor esforço para o benefício individual. O caos da cidade, as mortes dos cidadãos e o uso excessivo de força, faz pensar que a extrema direita não está preocupada em acabar com o crime organizado, e sim potencializá-lo para fingir que está combatendo, ao passo que lucra de maneira direta ou indireta. Eu não romantizo traficante, não acho que devam ser combatidos com rosas, mas com certeza não será matando civis, colocando risco de moradores periféricos em risco, que irá extinguir o crime organizado. Diminuir desigualdade social, descriminalizar algumas drogas, trabalhar com inteligência policial e, essencialmente, prender os bandidos de colarinho branco que viabilizam a entrada de drogas e armas, isso sim seriam maneiras efetivas de diminuir o crime de maneira eficaz.