Taxas dos DIs fecham com baixas leves em reação positiva após Bolsonaro cancelar entrevista
As taxas dos DIs fecharam a terça-feira com leves baixas, com os investidores reagindo positivamente após o ex-presidente Jair Bolsonaro, preso por tentativa de golpe de Estado, cancelar uma entrevista marcada para o início da tarde.
A desistência de Bolsonaro contrabalançou a pressão de alta na curva de juros trazida pelo IPCA-15 de dezembro, que mostrou a inflação de serviços ainda acelerada no Brasil.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2028 estava em 13,27%, em baixa de 2 pontos-base ante o ajuste de 13,288% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2035 marcava 13,7%, com recuo de 4 pontos-base ante o ajuste de 13,738%.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou no início do dia que o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial, subiu 0,25% em dezembro, levemente menos que a taxa de 0,27% projetada por economistas em pesquisa da Reuters. Em novembro, o indicador havia avançado 0,20%.
Já a taxa em 12 meses terminou o ano com avanço acumulado de 4,41%, ante 4,43% das projeções dos economistas e 4,50% em novembro. O percentual acumulado está ainda distante do centro da meta de inflação medida pelo IPCA, de 3%, mas já se enquadra no intervalo de tolerância, cujo teto é 4,5%.
Apesar dos resultados cheios levemente abaixo das projeções, a abertura do IPCA-15 não foi tão favorável. Cálculos do banco Bmg mostram que a inflação de serviços acelerou de 0,66% em novembro para 0,70% em dezembro, sendo que a taxa dos serviços subjacentes passou de 0,40% para 0,52% no período. No caso dos serviços intensivos em mão de obra, a inflação foi de 0,62% em novembro para 0,65% em dezembro.
"O qualitativo de serviços não foi dos melhores", disse o economista-chefe do Bmg, Flavio Serrano.
A média dos núcleos de inflação calculados pelo Banco Central acelerou de 0,28% em novembro para 0,33% em dezembro, conforme o Bmg.
Na esteira dos números, a taxa do DI para janeiro de 2028 atingiu a máxima de 13,395% (+11 pontos-base) ainda na primeira hora de negócios.
Mas a curva de juros passou a perder força no Brasil após a notícia de cancelamento da entrevista de Bolsonaro ao portal Metrópoles por "questões de saúde".
A entrevista seria a primeira desde a condenação de Bolsonaro e desde que o ex-presidente indicou seu filho Flávio, senador pelo PL, como candidato à Presidência em 2026.
Nas últimas semanas, a candidatura de Flávio vinha elevando os prêmios na curva, em meio à avaliação no mercado de que ele seria menos competitivo que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em uma eventual disputa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, o cancelamento da entrevista - vista como um potencial evento de confirmação do nome de Flávio - trouxe algum alívio para o mercado, conforme profissionais ouvidos pela Reuters.
Às 15h27, já após o cancelamento da entrevista e em meio a certo enfraquecimento dos rendimentos dos Treasuries no exterior, a taxa do DI para janeiro de 2028 marcou a mínima de 13,235% (-5 pontos-base).
O movimento da curva esteve em sintonia com a queda do dólar ante o real e o avanço do Ibovespa - também impactados positivamente pelo cancelamento da entrevista de Bolsonaro.
Apesar do movimento no dia, a curva seguiu precificando chances maiores de o Banco Central manter a taxa básica Selic em 15% no fim de janeiro. Durante a tarde, conforme a analista Laís Costa, da Empiricus Research, a curva precificava cerca de 70% de chances da Selic seguir no atual nível em janeiro, contra 30% de probabilidade de corte de 25 pontos-base.
No exterior, às 16h34, o rendimento do Treasury de dez anos - referência global para decisões de investimento - tinha estabilidade, a 4,171%.
Em função do Natal, o mercado brasileiro de DIs não funcionará na quarta-feira, mas os Treasuries serão negociados nos Estados Unidos até às 16h (horário de Brasília). Ambos os mercados estarão fechados na quinta-feira.