Dólar tem baixa firme ante o real com cancelamento de entrevista de Bolsonaro
O dólar interrompeu uma sequência de sete altas consecutivas e fechou a terça-feira em queda firme ante o real, com o mercado reagindo positivamente ao cancelamento de uma entrevista que seria dada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
O recuo ocorreu ainda que pela manhã o Banco Central tenha vendido ao mercado apenas US$500 milhões em duas operações cambiais com oferta total de US$2 bilhões.
Após avançar 3,25% nos últimos sete dias úteis, o dólar à vista fechou a terça-feira em queda de 0,95%, aos R$5,5313. No ano, a moeda acumula baixa de 10,48%.
Às 17h19, o contrato de dólar futuro para janeiro -- atualmente o mais líquido no Brasil -- cedia 1,12% na B3, aos R$5,5355.
A moeda norte-americana chegou a se aproximar dos R$5,60 no início do dia, dando continuidade ao movimento mais recente em meio às remessas de recursos ao exterior, no período de fim de ano, e às preocupações com o cenário político.
Mas o ambiente mudou após Bolsonaro cancelar entrevista que seria dada ao portal Metrópoles por "questões de saúde".
A entrevista seria a primeira desde a condenação de Bolsonaro e desde que o ex-presidente indicou seu filho Flávio, senador pelo PL, como candidato à Presidência em 2026.
Nas últimas semanas, a candidatura de Flávio vinha impulsionando o dólar ante o real, em meio à avaliação no mercado de que ele seria menos competitivo que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em uma eventual disputa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, o cancelamento da entrevista -- vista como um potencial evento de confirmação do nome de Flávio -- trouxe algum alívio para o mercado, conforme profissionais ouvidos pela Reuters.
Após atingir a cotação máxima de R$5,5976 (+0,24%) às 9h11, ainda na primeira meia hora de negócios, o dólar à vista migrou para o território negativo e se firmou em baixa no fim da manhã, com a notícia sobre o cancelamento.
O movimento de baixa do dólar encontrou suporte também do exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante a maior parte das demais divisas. Às 16h57, o dólar à vista atingiu a mínima intradia de R$5,5295 (-0,98%), para depois encerrar próximo desse valor.
O recuo do dólar ocorreu a despeito de, pela manhã, o Banco Central não ter negociado toda a oferta de dólares nas operações de linha (venda de moeda com compromisso de recompra). O BC vendeu apenas US$500 milhões dos US$2 bilhões ofertados em dois leilões de linha simultâneos.
Os leilões buscam atender à maior demanda por moeda neste fim de ano, quando empresas tradicionalmente enviam recursos ao exterior para pagamento de dividendos.
Neste ano, especificamente, os envios estão sendo potencializados por multinacionais que buscam se antecipar ao fim, em janeiro de 2026, da isenção de imposto de renda sobre as remessas ao exterior, que passarão a ser taxadas em 10%, e ao início da taxação de 10% sobre valores recebidos acima de R$50 mil por mês em dividendos.
No início do dia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial, subiu 0,25% em dezembro, levemente menos que a taxa de 0,27% projetada por economistas em pesquisa da Reuters. Em novembro, o indicador havia avançado 0,20%.
Na quarta e na quinta-feira, em função do Natal, o mercado de câmbio estará fechado no Brasil.
Às 17h15, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,30%, a 97,945.