Ator de ‘A Viagem’ morreu após longo período sem trabalho na Globo: “Deprimidíssimo”
Citado no ‘Conversa com Bial’, Antônio Pompêo se tornou símbolo da dificuldade que atores negros tinham de ganhar o pão de cada dia
Esta semana, em entrevista no ‘Conversa com Bial’, a atriz e poeta Elisa Lucinda, a Marlene de ‘Vai na Fé’, se emocionou ao relembrar a escassez de trabalho aos atores pretos na TV até pouco tempo.
“A coisa que eu mais curto é que deu tempo de eu viver o fruto da minha própria luta e dos meus, e dos que vieram antes de mim”, disse ela, aos 67 anos, enxugando as lágrimas.
“Muita gente morreu… Teve gente que não deu tempo. Antônio Pompêo morreu deprimidíssimo, um grande ator.”
Grande ator, enorme injustiça
Em breve, Antônio Pompêo será visto em ‘A Viagem’, reprisada no ‘Vale a Pena Ver de Novo’.
O ator fez parte do núcleo da colônia espiritual para onde Diná (Christiane Torloni) vai após desencarnar.
Paulista, o artista morreu aos 62 anos em janeiro de 2016 no Rio de Janeiro. O corpo foi encontrado sem vida no apartamento onde morava sozinho.
O último trabalho na Globo, onde começou a carreira na TV, havia sido ‘A Casa das Sete Mulheres’, em 2003.
Pompêo estava havia quatro anos sem trabalho fixo na teledramaturgia. A entrada na velhice e os poucos papéis a atores pretos teriam sido a causa do ostracismo.
Como ressaltou Elisa Lucinda, o ator teve depressão e se afastou da vida pública, assim como tantos outros na mesma circunstância.
Um dos irmãos dele, José Carlos, lamentou o fim triste e minimizou a atenção póstuma na imprensa. “A homenagem que ele merecia ter recebido deveria ter sido feita em vida”, afirmou.
Pequenos papéis, atuações impressionantes
Em quase 40 anos, Antônio Pompêo fez 30 trabalhos na TV. Na Globo, atuou em obras-primas a exemplo de ‘Lampião e Maria Bonita’ e ‘O Tempo e o Vento’, e sucessos como ‘Sinhá Moça’, ‘Pedra sobre Pedra’ e ‘O Rei do Gado’.
Nos últimos anos de vida, esteve em produções na Record, sem a mesma visibilidade.
Considerado pelos próprios colegas como um dos maiores atores de sua época, sempre foi escalado para personagens coadjuvantes.
Morreu sem as oportunidades proporcionais a seu talento. Trabalhou para sobreviver, jamais enriqueceu com a arte. As novas gerações nem devem saber o seu nome. Infelizmente, não é uma exceção. Muitos Antônios tiveram o mesmo destino no meio artístico.
Além de ator, Pompêo foi um importante ativista e pesquisador do movimento negro.
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