Especialistas apontam que o sucesso no tratamento da dependência química depende da combinação entre saúde mental, apoio familiar, políticas públicas e reinserção social, destacando também a importância da prevenção e superação do estigma.
O combate à dependência química no Brasil tem passado por mudanças importantes nos últimos anos. Se antes o tratamento era visto apenas sob a ótica médica, hoje especialistas destacam a necessidade de integrar saúde mental, apoio familiar e políticas públicas de reinserção. Essa visão mais ampla é considerada essencial para evitar recaídas e dar condições reais de reconstrução de vida.
A importância da rede de apoio
Um dos pontos mais enfatizados em congressos de saúde é a participação da família no processo de recuperação. Estudos recentes mostram que pacientes que contam com apoio emocional consistente durante o tratamento apresentam índices mais altos de adesão às terapias e menores taxas de abandono. Ao mesmo tempo, o suporte comunitário e a redução do estigma social funcionam como fatores de proteção no longo prazo.
Para o psiquiatra Ricardo Antunes, que atua em programas de reinserção social, “nenhum tratamento acontece em uma bolha. O paciente precisa se sentir acolhido, entender que não está sozinho e perceber que há espaço para recomeçar, seja na família, no trabalho ou na comunidade.”
Prevenção começa cedo
Especialistas alertam também para a importância das ações preventivas, principalmente no ambiente escolar. Programas de educação sobre drogas, combinados a atividades extracurriculares que fortaleçam vínculos e habilidades sociais, reduzem a probabilidade de jovens iniciarem o consumo precoce. Esse tipo de política pública tem se mostrado custo-efetiva e menos onerosa que o tratamento de longo prazo.
Estrutura clínica e reinserção social
Mesmo com avanços, o país ainda enfrenta carência de unidades especializadas, especialmente fora dos grandes centros. Quando existem, essas estruturas precisam ir além da internação, oferecendo programas terapêuticos contínuos, acompanhamento psicológico e capacitação para a retomada da vida profissional.
Como explica a psicóloga Mariana Lopes, “o trabalho dentro de uma clínica de reabilitação em BH mostra que a recuperação só ganha solidez quando o paciente é preparado para o dia seguinte à alta. É nesse ponto que entram a capacitação profissional, o acompanhamento terapêutico e a construção de novos vínculos.”
O caminho da reintegração
A fase de reinserção no mercado de trabalho costuma ser uma das mais delicadas. Muitas empresas ainda têm receio de contratar pessoas em recuperação, o que reforça o círculo de exclusão. Para mudar esse cenário, especialistas defendem incentivos fiscais para empregadores, programas de treinamento inclusivo e campanhas públicas de conscientização.
Além disso, parcerias entre poder público e setor privado podem abrir portas para projetos de estágio, oficinas e cursos técnicos voltados a pessoas em tratamento. Experiências em outros países já mostraram que o trabalho regular é um dos principais fatores de sustentação da recuperação a longo prazo.
Perspectivas
Embora os desafios ainda sejam grandes, há consenso de que a visão multidisciplinar é o caminho mais eficaz. A soma de acolhimento clínico, suporte social e políticas de reintegração aumenta a chance de recuperação estável e reduz os impactos da dependência química não apenas sobre indivíduos, mas sobre famílias e comunidades inteiras.