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Ativista quilombola fala em expectativa para a COP30 e critica eventos internacionais: 'Não tem inclusão'

Katia Penha é a nova convidada do podcast Futuro Vivo, apresentado por Victor Cremasco

31 out 2025 - 04h59
(atualizado às 10h53)
Resumo
A ativista quilombola Katia Penha critica a falta de inclusão de povos tradicionais nas decisões da COP30, alerta sobre impactos nos biomas e territórios, e defende uma abordagem mais humana e sustentável nas políticas climáticas.
Katia Penha é a entrevistada do oitavo episódio do podcast Futuro Vivo
Katia Penha é a entrevistada do oitavo episódio do podcast Futuro Vivo
Foto: Reprodução/Futuro Vivo

O Brasil já está em contagem regressiva para sediar a COP30 no coração da Amazônia. A cidade de Belém, no Pará, se tornará o foco mundial de decisões climáticas entre 10 e 21 de novembro. Muito além da participação de chefes de Estado e autoridades internacionais, a ativista quilombola Katia Penha acredita que é preciso ouvir outra parte interessada nas decisões: os povos tradicionais. 

A convidada do novo episódio do podcast Futuro Vivo refletiu sobre a importância da Conferência no Brasil e a participação ativa dos quilombolas nas discussões sobre mudanças climáticas e ambientais. Segundo Katia, pouco se pensa em tornar acessíveis as discussões nascidas em grandes eventos políticos ao entendimento da população. "É um espaço que não tem inclusão", critica.

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Representante da Coordenação Nacional de Quilombo (CONAC), Katia participou de sua primeira COP em 2021, em Glasgow, na Escócia. De lá para cá, a ativista acredita que as discussões em torno das ações climáticas têm avançado, mas ainda falta mão na massa e cuidado com outros biomas.

"Não é só a Amazônia. A Caatinga, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal, os Pampas e a Amazônia precisam ser protegidos de igual para igual. Não adianta pensar no corpo humano apenas na respiração; os outros biomas são isso, mantêm o corpo e a vida das pessoas que vivem ali", afirmou.

"Não adianta a gente pensar em megaprojetos, megafinanciamentos, sem equacionar como esses financiamentos chegarão aos territórios. Não adianta a gente pensar uma transição energética limpa, sendo que é o meu território que está sendo usado para fazer essa transição energética e não está sendo titulado. Os parques eólicos estão tomando o meu território", emendou a ativista.

Apresentadas como solução para compensar emissões de carbono, as florestas de eucalipto acabam se tornando um problema para comunidades tradicionais ao avançar sobre seus territórios.

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"O eucalipto entrou como uma forma de 'diminuir' quem emite mais carbono, né? Não, ele está sobreposto ao meu território. É menos comida na mesa que a gente pode plantar e levar para as feiras. É menos feijão, é menos arroz. Eucalipto não é alimento. Então, de que forma a gente pensa uma COP inclusiva, humana, para as pessoas?", questionou.

Victor Cremasco entrevista Kátia Penha no podcast Futuro Vivo
Foto: Reprodução/Futuro Vivo

'Quem fala por nós não somos nós'

No bate-papo com o apresentador Victor Cremasco, Katia apontou as expectativas para a COP30. Apesar de apoiar a iniciativa, a ativista vê chance de participação ativa de povos quilombolas com certa descrença. 

"É um espaço que não tem uma inclusão, principalmente para a população negra. A COP Climática é uma disputa constante de narrativa. Mas quem negocia e quem fala por nós não somos nós. E, muitas vezes, não seremos escutados nem sequer lerão nossos documentos", emendou. 

Para Katia, o objetivo das mudanças discutidas em cúpula não deveria ser agradar grandes nomes da política ou empresários milionários. O 'X' da questão é tornar a vida do povo, principalmente aqueles que prezam pela floresta, melhor. 

"Quando o governo brasileiro fala em diminuir o desmatamento, é onde? Para quem? Nós temos um código florestal, mas sempre sofremos as consequências disso. Para o agronegócio é sempre mais expansão. A COP precisa primeiro pensar nas pessoas que sofrem pelas mudanças climáticas. Não os mais ricos, não as empresas", argumentou. 

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Nesse sentido, a COP30 dos "sonhos" de Katia seria mais humanizada que suas edições anteriores, abrindo espaço e impondo metas a partir das conversas com os povos que vivem sobre esses territórios.

Talvez, dessa maneira, a Conferência se apresente como mais que um amontoado de relatórios e pareceres técnicos, conforme apontado pela ativista. "Muitas vezes, os próprios cientistas vão ao nosso território, sequestram o nosso saber e traduzem em uma linguagem que nem eles conseguem falar para a gente", afirmou. 

'Vamos continuar lutando'

Mesmo com os entraves e dificuldades, a líder faz questão de destacar o orgulho que sente por sua origem. "O que me dá [orgulho] é a resistência dos povos que continuam vivendo em um País que sempre nos excluiu", disse. 

"Continuamos nessa luta pela terra, por direito. Eu não vou ser vítima e nem vou me vitimizar. Quem tem que ter vergonha de tudo o que está acontecendo com o povo preto, quilombola, essa negação de direito, não sou eu. Eu vou continuar lutando", completou. 

A duas semanas da COP30 em Belém, Katia faz questão de destacar que acredita em um futuro inclusivo e sustentável.

"A gente tem a capacidade de mudar a narrativa, de transformá-la. Com todos os povos tradicionais que temos, com nossos companheiros, companheiras, parentes e povos indígenas, vamos continuar lutando por esse território onde existe floresta em pé com humanos e com toda a diversidade que existe sobre ela", finalizou. 

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Fonte: Portal Terra
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