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Pedagoga infantil defende monitoramento e limite de tempo de tela para crianças: 'Não é o tudo ou nada'

Ana Paula Yazbek é uma das convidadas do podcast 'Futuro Vivo', que já recebeu nomes como Gilberto Gil e Denise Fraga

14 out 2025 - 11h59
Resumo
Ao podcast Futuro Vivo, a pedagoga Ana Paula Yazbek alerta sobre os riscos do uso excessivo de telas e da adultização de crianças, destacando a importância de supervisão, vínculos afetivos e respeito à infância, mesmo no contexto digital.

Uma onda de nostalgia invadiu as redes sociais e as rodas de conversa das gerações com mais de 30 anos. Entre um papo e outro, é comum ouvir frases como: “Ah, mas na minha época…” ou “A gente brincava na rua, não existia internet”. De fato, a tecnologia entrou gradualmente na vida das crianças nas duas últimas décadas. No entanto, visto como aliado na rotina corrida de alguns pais, o recurso pode ser prejudicial para o desenvolvimento.

Pedagoga e especialista em primeira infância, Ana Paula Yazbek foi a convidada do podcast Futuro Vivo desta terça-feira, 14. No programa, ela conversou sobre essa fase tão importante da vida e abordou uma preocupação atual: o uso excessivo de tela para crianças e adolescentes.

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A educadora ressaltou as ciladas, mas destacou a parte positiva da inserção da tecnologia na rotina infantil, e os perigos da adultização, tema que explodiu no interesse público após uma denúncia feita pelo youtuber Felipe Bressanim, o Felca. 

'As crianças não eram respeitadas como sujeitos'

Atualmente, o universo infantil é amplamente discutido e delineado em diversas etapas do desenvolvimento. O que muita gente não sabe é que, até bem pouco tempo atrás, nem mesmo o conceito de 'infância' existia. A preocupação com o progresso das habilidades sociais e psíquicas dos menores é recente e surgiu entre os séculos XVII e XVIII. 

Pedagoga infantil defende monitoramento e limite de tempo de tela para crianças nas redes
Pedagoga infantil defende monitoramento e limite de tempo de tela para crianças nas redes
Foto: Divulgação

Para Ana Paula Yazbek, é imprescindível olhar com cuidado para essa etapa da vida. "Durante muito tempo, as crianças não foram respeitadas como sujeitos. Os cuidados com a educação sempre tinham uma perspectiva do futuro e não do tempo presente", explica. 

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Em uma das letras mais celebradas de Milton Nascimento, o mineiro exalta o 'moleque' que há em seu coração. "Toda vez que o adulto fraqueja/ Ele vem pra me dar a mão", canta o artista. É justamente aí que está o perigo em quem negligencia os cuidados com os pequenos ainda na primeira infância. 

Por achar que as crianças não se lembrarão ou não levarão em conta essas memórias, muitos responsáveis não trabalham habilidades importantes para a formação de adultos saudáveis.

"Certamente, quem é recebido no mundo como um sujeito, como alguém que é acolhido, como alguém que é considerado, vai consolidando uma autoestima, um sentimento de: 'eu sou agente de algo que pode fazer diferença'". 

Seja dentro de casa ou no ambiente escolar, é importante que os pequenos se sintam vistos e acolhidos, fazendo desses responsáveis uma 'base de segurança'.

"Deve ser este lugar do amor seguro. São as pessoas com as quais as crianças podem contar. Que estão atentas, conectadas, garantindo que o entorno dessa criança seja de respeito, de abastecimento. Nutrindo essas crianças com alimentos, com cultura, com palavras. Isso faz muita diferença", afirma. 

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Ao estabelecer um vínculo forte, responsáveis e educadores são mais capazes de identificar questões e problemas na rotina daquela criança. Isso inclui a relação familiar, os grupos de amigos que vão sendo formados, o olhar daquele menor sobre si mesmo e até a forma como o pequeno lida com estímulos tecnológicos, como as redes sociais. 

Internet para criança? Só com mediação

Passar o dia rolando o feed nas redes sociais é tarefa fácil para os brasileiros. De acordo com uma pesquisa feita pelo DataReportal em 2024, o Brasil é o segundo país em maior média de tempo de tela, com 9 horas diárias. As crianças não ficam de fora dessa estatística preocupante.

Pedagoga infantil defende monitoramento e limite de tempo de tela para crianças nas redes
Foto: Divulgação

Cerca de um terço dos pequenos de até cinco anos passa mais de duas horas por dia em frente às telas, segundo pesquisa do Ministério da Saúde e da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, divulgada em 2022. 

Na correria do dia a dia, muitos responsáveis entregam smartphones e tablets nas mãos de crianças para conseguirem dar conta das tarefas diárias. Enquanto os pais cumprem prazos, reuniões e metas do ‘mundo adulto’, os pequenos passam horas vendo desenhos animados, youtubers infantis e até mesmo vídeos curtos, como os oferecidos no TikTok.

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Para Ana Paula, a prática pode ser preocupante se não for monitorada. “Fala-se muito a respeito disso, de uma regulamentação, dos tempos, mas fala-se pouco de: e esse tempo que tá autorizado de uso, como é que ele acontece? Como eu, que sou responsável por essa criança, faço alguma mediação?”, questiona. 

“A grande questão é essa. Não é o tudo ou o nada. É o como a gente está presente nisso”.

O problema, para a pedagoga, não está na permissão do uso da internet, mas na falta de supervisão e limite desse tempo de tela.

“A gente vê muitas contradições dos adultos. Às vezes, preocupações extremamente grandes e arrogosas: ‘Ah, não pode andar na rua porque é perigoso’... De fato é perigoso, porém a gente acha normal as crianças estarem desassistidas nesse universo digital”, pontua.

No caso de crianças maiores, uma boa saída para os tão sedutores recursos tecnológicos é convidá-las para se inserirem nessa rotina doméstica de forma participativa. 

Pedagoga infantil defende monitoramento e limite de tempo de tela para crianças nas redes
Foto: Divulgação

“Não é que você vai ter que parar a sua vida e ficar só brincando com o seu filho. Você vai chamar seu filho para cozinhar com você. Para separar a roupa dela enquanto você toma banho. A distância entre o mundo adulto e infantil, às vezes, pode ser menor. Pode se aproximar da criança sabendo que ela vai fazer como criança: vai ter sujeira, vai ter bagunça”, opina. 

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Fonte: Portal Terra
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