Informações de Justine Fontaine, correspondente da RFI nos Emirados Árabes Unidos
Aliado estratégico de Paris no Oriente Médio, os Emirados Árabes Unidos são criticados por seu envolvimento no conflito no Iêmen e acusados de vender armas para paramilitares no Sudão.
Mais de 900 militares franceses estão posicionados perto de Abu Dhabi. Esta é uma localização ideal no Golfo, próxima ao Mar Vermelho, uma rota marítima crucial interrompida desde o início da guerra na Faixa de Gaza. É também uma posição ideal em relação ao Irã e relativamente próxima da Síria, por exemplo, onde a Força Aérea Francesa participa da luta contra o grupo Estado Islâmico.
Para além da agenda militar, os Emirados Árabes Unidos são, acima de tudo, um parceiro econômico essencial a Paris, sendo os maiores compradores mundiais de armas francesas. Em 2021, por exemplo, o país adquiriu 80 caças Rafale da França. Em fevereiro deste ano, o governo dos Emirados anunciou um investimento de até € 50 bilhões para construir em território francês um centro de dados para inteligência artificial.
Na contramão desse cenário, os Emirados Árabes Unidos estão sendo criticados por seu envolvimento em conflitos no Iêmen e, principalmente, no Sudão. Abu Dhabi nega, mas muitos registros indicam que os Emirados fornecem equipamento bélico às Forças de Apoio Rápido (FAR), grupo paramilitar sudanês acusado de crimes de guerra e até mesmo crimes contra a humanidade, principalmente durante a captura da cidade sudanesa de El Fasher, na região de Darfur do Norte.
"Estimamos que os Emirados Árabes Unidos sejam atualmente o principal fornecedor de armas e munições para a FAR", explica Abdullahi Hassan, pesquisador da Anistia Internacional para o Sudão e a Somália.
Em meio à controvérsia, não está claro se essa questão será levantada entre Emmanuel Macron e Mohammed bin Zayed durante o encontro entre os dois líderes.
Violação do embargo da ONU
Embora algumas dessas armas sejam fabricadas na China, a ONG também demonstrou, no ano passado, a presença de equipamentos militares franceses nas mãos da FAR. "Entre esses equipamentos está o sistema Galix, uma tecnologia usada em veículos blindados no campo de batalha", acrescenta Abdullahi Hassan.
Para a Anistia Internacional, essa é uma violação do embargo da ONU, que proíbe o envio de armas para a região de Darfur do Norte, controlada pelas Forças de Apoio Rápido. "Apelamos aos Estados envolvidos para que cessem o fornecimento de equipamentos militares aos Emirados Árabes Unidos até que estes parem de entregar armas à FAR", disse o pesquisador da ONG, referindo-se à França, aos Estados Unidos, à China e à Rússia.