Culinária italiana reconhecida pela Unesco pode impulsionar turismo no país

Nesta quarta-feira (10), a gastronomia italiana foi a primeira do mundo a receber o reconhecimento de patrimônio imaterial da Unesco.

10 dez 2025 - 12h51
(atualizado às 12h54)

Júlia Valente, correspondente da RFI em Milão

Pizza de presunto e burrata elaborada com azeite extra virgem siciliano, presunto de Parma, queijos cremosos e mussarela, coberta com rúcula fresca. Foto ilustrativa.
Pizza de presunto e burrata elaborada com azeite extra virgem siciliano, presunto de Parma, queijos cremosos e mussarela, coberta com rúcula fresca. Foto ilustrativa.
Foto: © Business Wire / RFI

Ano após ano, a culinária italiana coleciona prêmios ao redor do mundo. No Taste Atlas, plataforma que reúne quase 600 mil avaliações sobre gastronomia global, a cozinha italiana ocupa o primeiro lugar. E não há como negar: quando se fala de comida italiana, a pizza assume o posto número 1, seguida de uma infinidade de pratos de massa.

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Basta caminhar por qualquer cidade do planeta para perceber: os restaurantes italianos estão por toda parte. Os italianos espalhados pelo mundo concordam, ainda que com certo incômodo: a culinária do país se tornou tão difundida que já não pertence apenas à Itália. Ela se transformou, evoluiu e ganhou inúmeras variantes. O Brasil é exemplo disso. O bife à parmeggiana, tão querido pelos brasileiros, não veio de Parma. A única receita semelhante na Itália é a berinjela à parmeggiana, jamais com carne. Nos Estados Unidos, acontece algo parecido. O espaguete e as almôndegas, ambas criações italianas, se juntam para formar um prato que simplesmente não existe na Itália.

Apesar de sua expansão global, dentro do território italiano a culinária segue tradições rígidas, receitas que não admitem alterações e raízes culturais que atravessam séculos. Apesar de ser um país com uma história milenar, foi unificado apenas há 164 anos. Por isso, cada região tem sabores únicos e pratos típicos que expressam identidades próprias. Segundo a Unesco, trata-se de uma "fusão cultural e social de tradições culinárias". Há, porém, algo em comum em todo o território: para os italianos, cozinhar é um ato de amor, um ritual de encontro familiar.

Agora, todos esses sabores passam a compor um patrimônio reconhecido pela Unesco. O reconhecimento da gastronomia italiana foi aprovado por unanimidade nesta quarta (10) em Nova Délhi, na Índia, durante o encontro do Comitê Intergovernamental da organização. Elementos específicos, como a pizza napoletana e o café expresso, já são também reconhecidos. No entanto, é a primeira vez que toda a gastronomia de um país é declarada patrimônio imaterial. É diferente do caso da França, que em 2010 teve reconhecidos os rituais festivos gastronômicos.

A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni celebrou: "Para nós, italianos, a culinária não é apenas comida ou um conjunto de receitas. É muito mais: é cultura, tradição, trabalho, riqueza."

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Riqueza cultural recompensada

A Itália é o país com o maior número de patrimônios materiais da Unesco, com 61 locais reconhecidos, incluindo os centros históricos de Roma, Florença, Nápoles e Siena; a Costa Amalfitana; e a cadeia montanhosa das Dolomitas. Já os patrimônios imateriais são, agora, 20. A culinária italiana se junta ao canto lírico e às práticas de caça e colheita de trufas, fungos utilizados pela alta gastronomia.

Com tantas atrações, em 2024 a Itália foi o 5º país mais visitado do mundo, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT). Os estrangeiros gastaram 12,08 bilhões de euros em restaurantes e bares italianos. E a expectativa é de que esse valor cresça. A Federação Italiana dos Empresários de Estabelecimentos Públicos e Turísticos (FIEPeT) estima 18 milhões de presenças turísticas a mais em dois anos, impulsionadas pelo reconhecimento da Unesco.

Apreciar uma carbonara em Roma, um risoto em Milão ou uma pizza em Nápoles agora tem um gosto ainda mais especial: o sabor de um patrimônio que agora pertence ao mundo.

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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