Sem Bolsonaro, Brasil sobe 19 posições no ranking anual de liberdade de imprensa da RSF

O Brasil melhorou sua posição no índice anual de liberdade de imprensa divulgado nesta terça pela ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras, sediada em Paris

9 dez 2025 - 07h18
(atualizado às 07h31)
Resumo
O Brasil subiu 19 posições no ranking de liberdade de imprensa da RSF em 2025, refletindo a melhoria nas relações entre imprensa e governo sob Lula, mas ainda enfrenta desafios como violência contra jornalistas, concentração midiática e desinformação.
Em apenas um ano, 67 profissionais foram mortos, quase metade na Faixa de Gaza sob fogo israelense.
Em apenas um ano, 67 profissionais foram mortos, quase metade na Faixa de Gaza sob fogo israelense.
Foto: REUTERS - Haseeb Alwazeer / RFI

Segundo a organização, a melhora no Brasil reflete a normalização das relações entre órgãos do Estado e a imprensa, após a posse do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "em contraste com o período anterior, marcado por hostilidade permanente do governo Jair Bolsonaro contra jornalistas".

Apesar do avanço, persistem desafios: violência estrutural contra profissionais, concentração privada no setor de mídia e o peso da desinformação, que continua a intoxicar o debate público no Brasil, observa a Repórteres Sem Fronteiras.

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O relatório destaca ainda que nos últimos dez anos, ao menos 30 jornalistas foram assassinados no Brasil e que, em 2022, três assassinatos estiveram diretamente ligados à prática jornalística, incluindo o do britânico Dom Phillips, morto na Amazônia enquanto investigava crimes ambientais em terras indígenas.

'Maior prisão aberta de jornalistas no mundo'

Ainda segundo o documento, na antepenúltima posição do ranking, ultrapassada apenas pela Coreia do Norte e pela Eritreia, a China seria a "maior prisão aberta de jornalistas no mundo", com 121 profissionais detidos num total de 503 em todo o planeta.

Em dados globais, o relatório revela que Israel responde por mais de 43% dos assassinatos de jornalistas na Faixa de Gaza. No mundo, o cenário é alarmante: 67 jornalistas foram mortos desde dezembro de 2024, quase 80% por forças armadas ou por redes ligadas ao crime organizado.

Na América Latina, o México é hoje o primeiro país mais perigoso para jornalistas, com nove mortes só em 2025.

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Nas primeiras posições do ranking da RSF, encontram-se respectivamente a Noruega, a Estônia e a Holanda como países mais seguros do mundo para se exercer a profissão de jornalista.

Quando jornalistas se tornam alvos

"O número de jornalistas mortos (de 1º de dezembro de 2024 a 1º de dezembro de 2025) voltou a subir, devido às práticas criminosas de forças armadas regulares ou não e do crime organizado", lamenta a entidade de defesa da liberdade de imprensa, que reforça: "Os jornalistas não morrem, eles são mortos".

Seis dias após a condenação do jornalista francês Christophe Gleizes a sete anos de prisão em segunda instância na Argélia por apologia ao terrorismo, a RSF também informa que 503 jornalistas estão presos atualmente em 47 países (121 na China, 48 na Rússia, 47 em Mianmar). A organização contabiliza ainda 135 jornalistas desaparecidos, alguns deles há mais de 30 anos, e 20 jornalistas mantidos como reféns, principalmente na Síria e no Iêmen.

Em 2023, a RSF havia registrado 49 jornalistas mortos, um dos números mais baixos das últimas duas décadas. Mas a guerra conduzida por Israel na Faixa de Gaza desde os ataques do Hamas, em 7 de outubro de 2023, fez esse número disparar: 66 mortos em 2024 e 67 em 2025.

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"É isso que provoca o ódio aos jornalistas, é isso que provoca a impunidade", declarou Anne Bocandé, diretora editorial da RSF. "Hoje existe um verdadeiro desafio: que os governos se comprometam com a proteção dos jornalistas e não os transformem em alvos", acrescentou.

Com pelo menos 29 profissionais de mídia mortos nos últimos 12 meses no território palestino enquanto trabalhavam, e cerca de 220 desde outubro de 2023, incluindo aqueles mortos fora do exercício da profissão, "o exército israelense é o pior inimigo dos jornalistas", acusa a RSF.

"Não são balas perdidas"

Embora jornalistas devam ser protegidos como civis em zonas de conflito, o exército israelense foi acusado repetidamente de mirar deliberadamente profissionais da imprensa e já enfrenta denúncias por crimes de guerra. Israel justifica dizendo que ataca o Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

O exército israelense chegou a admitir ter alvejado um famoso correspondente da emissora Al-Jazeera, Anas al-Sharif, morto junto com outros cinco profissionais em um bombardeio em agosto, alegando que ele era "terrorista" disfarçado de jornalista — acusações sem provas, rebateu a RSF.

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"Não se trata de balas perdidas. É, de fato, um alvo deliberado contra jornalistas porque eles informam o mundo sobre o que acontece nesses territórios", denuncia Bocandé.

A RSF também lamenta que 2025 tenha sido o ano mais letal para jornalistas no México em pelo menos três anos, com nove mortos, "apesar dos compromissos" assumidos pela presidente Claudia Sheinbaum. As vítimas cobriam política local, denunciavam o crime organizado e seus vínculos com autoridades, e haviam recebido ameaças explícitas.

A Ucrânia (três jornalistas mortos, incluindo o fotojornalista francês Antoni Lallican) e o Sudão (quatro mortos) também figuram entre os países com balanços mais trágicos, segundo a RSF.

Outras organizações apresentam números diferentes devido a metodologias distintas. A Unesco, por exemplo, contabiliza 91 jornalistas mortos no mundo em 2025.

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Com AFP

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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