As incertezas sobre a participação de Maria Corina Machado na cerimônia de entrega do prêmio na capital da Noruega aumentaram após o cancelamento da tradicional coletiva de imprensa do Nobel na terça-feira (9). O evento acontece nesta quarta-feira às 13h (9h em Brasília), na prefeitura de Oslo, sem a presença da opositora venezuelana, confirmou finalmente o porta-voz do Instituto Nobel, Erik Aasheim, nesta manhã.
A ausência da opositora é uma decepção para as dezenas de venezuelanos no exílio que viajaram à capital norueguesa para acompanhar a premiação, depois que o Instituto Nobel havia anunciado no fim de semana a presença de Corina Machado para receber o prêmio, que inclui uma medalha de ouro, um diploma e uma quantia de US$ 1,2 milhão (cerca de R$ 6,51 milhões).
Maria Corina Machado entrou na clandestinidade na Venezuela em agosto de 2024, poucos dias após a eleição presidencial. Ela foi impedida de participar da votação, vencida pelo presidente Nicolás Maduro e contestada pela oposição.
A líder opositora foi vista em público pela última vez em 9 de janeiro, durante uma manifestação em Caracas contra a posse do líder chavista para um terceiro mandato. "Eu simplesmente não sei onde ela está exatamente", declarou nesta quarta-feira à rádio NRK o diretor do Instituto Nobel, Kristian Berg Harpviken.
Segundo Harpviken, pouquíssimas pessoas sabem realmente onde e como Machado se desloca devido à natureza repressiva do regime de Nicolás Maduro, "pronto para usar absolutamente todos os meios contra a oposição".
Motivo da premiação
O Nobel da Paz foi atribuído à opositora de 58 anos em 10 de outubro por seus esforços em favor de uma transição democrática na Venezuela.
Os Estados Unidos e parte da comunidade internacional não reconhecem os resultados da eleição presidencial de julho de 2024, na qual Nicolás Maduro conquistou um terceiro mandato de seis anos. A oposição denunciou fraudes e reivindicou a vitória do opositor Edmundo González Urrutia, que hoje vive exilado na Espanha.
O cancelamento da participação de Maria Corina Machado na cerimônia ocorre enquanto vários chefes de Estado da América Latina alinhados ideologicamente à direita, e aliados de Donald Trump, como o presidente argentino, Javier Milei, já chegaram a Oslo para participar do evento. Os líderes José Raúl Mulino, do Panamá, Daniel Noboa, do Equador, e Santiago Peña, do Paraguai, também são esperados.
A mãe de Machado, de 80 anos, suas três irmãs e seus três filhos também já estão em Oslo para acompanhar a cerimônia, assim como Edmundo González Urrutia.
"Fugitiva"
Em novembro, o procurador-geral da Venezuela advertiu que Machado seria considerada "fugitiva" se deixasse o país. As autoridades venezuelanas a acusam, segundo ele, de "atos de conspiração, incitação ao ódio e terrorismo".
A ida da opositora a Oslo levantaria, portanto, a delicada questão de seu retorno à Venezuela ou de sua capacidade de liderar a oposição venezuelana a partir de um eventual exílio. "Se voltar, ela corre o risco de ser presa, mesmo as autoridades tendo demonstrado mais moderação com ela do que com muitos outros, porque sua prisão teria um impacto simbólico muito forte", explicou na terça-feira Benedicte Bull, professora especialista em América Latina na Universidade de Oslo.
Por outro lado, "ela é a líder incontestável da oposição, mas se permanecer muito tempo no exílio, acredito que isso mudará e ela perderá gradualmente influência política", acrescentou a professora em entrevista à AFP.
Manifestações
Manifestações pró e contra Machado estão previstas na capital norueguesa, que está sob forte esquema de segurança. Embora seja saudada por muitos simpatizantes por seus esforços em prol da democratização na Venezuela, Machado também é criticada por sua aproximação ideológica com o presidente americano, Donald Trump, a quem dedicou seu Nobel.
A entrega do prêmio ocorre em meio a uma operação militar dos Estados Unidos no Caribe e no Pacífico contra barcos supostamente envolvidos no tráfico de drogas. Os ataques, que já mataram ao menos 87 pessoas, foram apoiados pela opositora.
O presidente Nicolás Maduro assegura que o verdadeiro objetivo dessas ações é a sua destituição do poder para se apoderar das reservas de petróleo da Venezuela.
Além do Nobel da Paz, os prêmios de literatura, química, medicina, física, economia de 2025 também serão entregues nesta quarta-feira em Estocolmo, na Suécia, na presença do rei Carl XVI Gustaf.
(Com AFP)