A Rússia lançou um ataque em massa contra o sul da Ucrânia neste sábado, 30, dois dias depois de um bombardeio à região central de Kiev que matou 23 pessoas e atingiu escritórios da União Europeia, em meio ao impasse das tentativas lideradas pelos Estados Unidos de encerrar a guerra que já dura três anos.
Paralelamente, a Ucrânia manteve ataques a refinarias de petróleo em território russo. Uma das instalações atingidas fica em Krasnodar, sul da Rússia, região que também abriga uma luxuosa mansão conhecida como "palácio de Putin", atribuída por opositores ao presidente russo Vladimir Putin. O vínculo é negado pelo Kremlin.
Entre os alvos atingidos pelo ataque russo está um prédio residencial de cinco andares na região de Zaporizhzhia. A ação matou ao menos um civil e feriu 28 pessoas, incluindo crianças, segundo o governador Ivan Fedorov.
De acordo com a Força Aérea da Ucrânia, Moscou lançou 537 drones, entre modelos de ataque e de despiste, além de 45 mísseis. As defesas ucranianas afirmam ter abatido 510 drones e 38 mísseis.
Apesar deste ataque e do bombardeio contra Kiev na quinta-feira, 28, que foi um dos maiores e mais mortais desde o início da invasão em larga escala em 2022, o Kremlin disse continuar interessado em negociações de paz.
O ataque foi um dos raros episódios em que drones e mísseis russos atingiram o coração da capital ucraniana. Crianças estão entre as vítimas, e equipes de resgate passaram horas retirando sobreviventes dos escombros.
Poucas horas depois, os Estados Unidos aprovaram a venda de US$ 825 milhões (cerca de R$ 4,6 bilhões) em armamentos à Ucrânia, incluindo mísseis de longo alcance e equipamentos para reforçar a defesa, num momento em que os esforços de Washington para mediar a paz não têm avançado.
Drone ucraniano provoca incêndio perto de "palácio de Putin"
Paralelamente, a Ucrânia continuou a atacar refinarias de petróleo em território russo que, segundo Kiev, abastecem o esforço de guerra de Moscou. O Estado-Maior ucraniano informou neste sábado que duas instalações foram atingidas durante a madrugada: uma na região de Krasnodar, no sul da Rússia, e outra em Samara, mais ao nordeste.
Na cidade de Krasnodar, destroços de drones provocaram um incêndio em uma refinaria. O fogo foi controlado mais tarde, danificando uma das unidades de processamento, mas sem deixar vítimas. A refinaria produz cerca de 3 milhões de toneladas anuais de gasolina, diesel e combustível de aviação.
Na mesma região, autoridades haviam relatado na quinta-feira que outro drone provocou um incêndio em uma área florestal próxima a Guelendzhik, onde fica a mansão popularmente conhecida como "palácio de Putin" - propriedade que opositores atribuem ao presidente russo, o que é negado pelo Kremlin.
Segundo o Ministério de Situações de Emergência, mais de 400 bombeiros continuavam mobilizados neste sábado para conter as chamas. Não há indícios de que o incêndio ameace diretamente o complexo.
O opositor Alexei Navalny, morto na prisão em fevereiro de 2024, divulgou em 2021 uma investigação em que atribuía a Putin a propriedade do imenso complexo turístico, supostamente financiado com recursos de corrupção. O levantamento detalhava que o espaço incluiria vinhedos, um estádio de hóquei no gelo e até um cassino.
Crise de combustível expõe vulnerabilidade
Nas últimas semanas, postos de combustíveis em várias regiões da Rússia ficaram sem gasolina após sucessivos ataques aéreos ucranianos contra a infraestrutura energética. Motoristas enfrentaram longas filas, e autoridades locais recorreram ao racionamento e até à suspensão das vendas.
Para tentar conter a escassez, o governo russo suspendeu temporariamente as exportações de gasolina: um veto total até 30 de setembro e um parcial, que atinge traders e intermediários, até 31 de outubro.
Especialistas preveem que a crise deve se amenizar no fim de setembro, com a queda da demanda e a conclusão da manutenção das refinarias. Ainda assim, os ataques expuseram uma vulnerabilidade no território russo que Kiev pode explorar à medida que a guerra de drones avança./AFP e AP