Vítima de estelionato religioso fez 80 doações com promessa falsa de cura do câncer

De acordo com a Polícia Civil, grupo cobrava até R$ 1.500 por “promessas de cura” e “milagres” e movimentou ao menos R$ 3 milhões em 2 anos

25 set 2025 - 15h32
(atualizado às 16h18)
Resumo
Esquema de telemarketing liderado por falso pastor prometia curas e milagres mediante doações, arrecadando R$ 3 milhões em dois anos; líder e 22 suspeitos foram denunciados.
Policiais estiveram no imóvel do Pastor Henrique Santini, apontado como líder do esquema
Policiais estiveram no imóvel do Pastor Henrique Santini, apontado como líder do esquema
Foto: Reprodução/TV Globo

A Operação Blasfêmia, deflagrada nesta quarta-feira, 24, no Rio de Janeiro, mirou um esquema de estelionato religioso via telemarketing com atuação em todo o País. As investigações apuraram que uma das vítimas fez 80 doações aos suspeitos após a promessa de cura de um câncer. Segundo a polícia, o grupo cobrava até R$ 1.500 por “promessas de cura” e “milagres” e movimentou pelo menos R$ 3 milhões em dois anos.

Com 1 milhão de seguidores nas redes sociais, Luiz Henrique dos Santos Ferreira, que se apresenta como Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini, é apontado como chefe do esquema. Em suas redes, ele divulgava vídeos de mensagens religiosas com números de telefone e links para grupos no WhatsApp.

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Segundo a Polícia Civil do Rio informou ao Terra, o suspeito cobrava de fiéis para fazer orações prometendo curas e milagres, atuando a partir de uma central de telemarketing no Centro de Niterói. A operação foi realizada por policiais da 76ª DP (Niterói), em conjunto com o Ministério Público.

O objetivo da ação foi cumprir mandados de busca e apreensão decorrentes de inquérito que apura os crimes de estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, falsa identidade, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro.

Conforme explicou o delegado Luiz Henrique Marques Pereira, titular da delegacia de Niterói, a motivação do grupo era a exploração financeira da fé, e não o atendimento religioso. Ele destacou que a atuação de líderes religiosos na arrecadação de dízimos é permitida pela Constituição, mas quando ocorre por meio de fraude, a conduta se torna criminosa.

As investigações revelaram uma estrutura sofisticada de telemarketing, onde dezenas de atendentes eram contratados por meio de anúncios on-line. Os selecionados, sem vínculo religioso com a instituição, eram orientados a se passarem pelo líder durante atendimentos via WhatsApp. Durante as conversas, utilizavam áudios previamente gravados com promessas de curas e milagres, condicionadas à realização de transferências bancárias via PIX.

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Os valores variavam entre R$ 20 e R$ 1,500, conforme o “tipo de oração”. Para dificultar o rastreamento, o grupo usava uma rede de contas bancárias em nome de laranjas, segundo a polícia. Os atendentes recebiam comissões proporcionais à arrecadação semanal e eram submetidos a metas rigorosas. Aqueles que não atingiam o valor mínimo eram dispensados.

De acordo com o delegado Luiz Henrique, uma vítima chegou a fazer 80 doações ao pastor. “Foi prometida a ela a cura do câncer, e com isso ela fez diversos pagamentos, alegando que estava recebendo a unção espiritual do líder religioso, mas na verdade estava sendo atendida por um profissional de telemarketing contratado”, afirmou à TV Globo.

Investigações

A investigação começou em fevereiro, quando a polícia identificou um call center com 42 pessoas realizando atendimentos virtuais. Na ocasião, foram apreendidos 52 celulares, 6 notebooks e 149 cartões pré-pagos de telefonia. A análise do material confirmou a atuação coordenada do grupo e identificou milhares de vítimas em todo o Brasil.

Já a investigação financeira identificou movimentações superiores a R$ 3 milhões em dois anos. Com base nas provas, foram decretados o sequestro de bens e o bloqueio de contas bancárias dos investigados e de empresas vinculadas a eles.

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Nas diligências desta quarta, os policiais encontraram uma grande quantidade de dinheiro em espécie na residência do pastor: R$ 32.450, 1.800 euros, 750 libras egípcias e 90 dólares.

Nesta primeira fase, o pastor e outros 22 integrantes do grupo foram denunciados. O líder religioso também recebeu medida cautelar de monitoramento por tornozeleira eletrônica. As investigações continuam para identificar novas vítimas e eventuais participantes da organização criminosa.

O Terra tenta contato com a defesa de Santini. O espaço permanece aberto para manifestações.

Fonte: Portal Terra
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