Em relação às
drogas, o Estatuto da Criança e do Adolescente
representou, antes de tudo, uma mudança de
enfoque: em vez de um problema de polícia,
passou-se a ver a questão como saúde
pública.
"O estatuto tirou o consumo de drogas por crianças
e adolescentes do campo jurídico e o passou
para o campo da saúde", afirma o oficial
de projetos do Unicef, Mario Volpi. "Em vez de
prender, confinar e castigar, a idéia agora
é obrigar o Estado a criar programas especializados
em três áreas principais: a prevenção,
o trabalho pedagógico, com o envolvimento do
jovem em atividades culturais e de lazer, e o setor
terapêutico, para quem necessita de serviços
de saúde e desintoxicação."
Segundo Volpi, o governo tem investido muito em campanhas,
mas ainda há poucos centros de atendimento
para os jovensjá envolvidos com drogas. "Há
uma grande preocupação em fazer clínicas
de recuperação, mas ainda faltam trabalhos
de nível intermediário, que, se bem
feitos, resolvem boa parte do problema."
Para a coordenadora da Frente Parlamentar pelo Fim
de Toda Violência contra a Infância de
São Paulo, Maria Lúcia Prandi (PT),
o enfrentamento do consumo de drogas pela população
infanto-juvenil passa pela substituição
de ações esparsas por políticas
públicas consistentes, com atendimento e organização
em rede dos serviços de tratamento e prevenção
e participação da comunidade.
"O estatuto prevê, no artigo 101, inciso
VI, a inclusão de crianças e adolescentes
em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação e tratamento a alcoólatras
e toxicômanos", relata. "Entretanto,
decorridos dez anos de vigência da lei, os conselhos
tutelares e os serviços de atendimento a crianças
e adolescentes, especialmente em situação
de risco, ainda não têm o respaldo dos
programas necessários."
O contato com a droga é também a principal
causa de mortes de adolescentes. De acordo com a delegada
titular da 3ª Equipe Especial de Investigação
de Crimes contra a Criança e o Adolescente,
Rosemary Sinibaldi de Carvalho, os assassinatos ocorrem
por briga de gangues, dívidas e problemas com
traficantes e furtos ou roubos para manter o vício.
"Os crimes envolvendo adolescentes geralmente
são mais cruéis e perversos", relata.
"Em relação às crianças,
a incidência é bem menor e geralmente
está ligada a balas perdidas."
Meninos e meninas em situação de rua
são as maiores vítimas. "Na população
em geral, não se pode privilegiar apenas um
fator para o uso da droga, é preciso avaliar
caso a caso, mas, na rua, não usar droga é
exceção", diz a pesquisadora do
Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas (Cebrid) Ana Regina Noto. Um pesquisa de 1997
do Cebrid com 530 crianças e adolescentes que
vivem ou passam a maior parte do dia na rua em seis
capitais revelou que 88,1% deles já tinham
usado drogas pelo menos uma vez na vida e 71,1% tinham
feito uso recente.Ana Regina lembra ainda que é
necessário que a sociedade repense a forma
de atuar no combate às drogas, porque o consumo
está crescendo. "Além disso, tende-se
a privilegiar as drogas ilícitas e não
se olhar para o álcool e o tabaco, que também
causam muitos danos."
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
|