Os adolescentes foram as maiores
vítimas das crises econômicas do Brasil
nas últimas décadas. Segundo um estudo
realizado pelos economistas Mônica Viegas Andrade,
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e
Marcos Lisboa, da Fundação Getúlio
Vargas do Rio (FGV/Rio), o ingresso maciço
de adolescentes em atividades criminosas, por causa
de quedas do salário real ou piora na distribuição
de renda, explica quase todo o aumento dos homicídios
nos Estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais
desde os anos 80. Essa explosão de violência
fica clara em dados apresentados no trabalho de Mônica
e Lisboa: de 1980 a 1997, a taxa estadual de homicídios
por 100 mil habitantes aumentou 201% em São
Paulo, de 12,71 para 38,26.
Ao entrarem no crime, os adolescentes praticamente
selam o seu destino: uma enorme proporção
acaba sendo assassinada antes dos 30 anos. Esse contingente
de homens jovens assassinados, vindos na esmagadora
maioria da camada mais pobre da população,
representa bem mais da metade de todos os homicídios
na região estudada. Em 1997, 73,85% dos homicídios
masculinos em São Paulo ocorreram na faixa
etária entre 15 e 35 anos. E a taxa de assassinatos
de homens é, ao longo dos anos, aproximadamente
dez vezes maior que a de mulheres.
O estudo dos dois economistas mostra também
que, ao contrário do que muitos pensam, as
crises econômicas quase não afetam a
disposição de adultos para entrar no
crime. A correlação entre queda de salário
real e crime, que é muito forte entre 15 e
19 anos, praticamente desaparece para as faixas etárias
acima de 20 anos. "A crise, por pior que seja,
não tira o adulto da vida honesta", diz
Lisboa. "É o filho adolescente dele que
é empurrado para o crime."
Mas o aspecto mais dramático do quadro relevado
pelos dois economistas é o fato de que os adolescentes,
quando optam pelo crime, quase nunca retornam à
vida de estudo e trabalho honesto, mesmo quando a
economia se recupera. O aumento da taxa de homicídios
causado por essas gerações jogadas no
crime tende a perdurar por vários anos. Na
verdade, essas ondas de violência vão
caindo lentamente, à medida que os jovens criminosos
se vão matando uns aos outros, como explica
Lisboa. "Na prática, é como se
fosse uma pena de morte informal."
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
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